Capítulo 1

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6 de maio de 2019

Uma baixa voz, é o que consigo ouvir, mas não queria. Queria permanecer em minha cama, o único lugar que consigo ter ao menos um pouco de paz.

Só que para o meu azar, mesmo quase me considerando uma maior de idade, eu infelizmente não moro sozinha, e a voz continua a me chamar, me obrigando a ser arrancada de um sono profundo. Uma voz, que agora, em meu momento de lucidez, consigo identificar: minha mãe, Janet Jones. Que também adora ser chamada de Jane pelos mais queridos, especialmente pelo meu pai.

— Emma... Emma, acorda! — meu corpo é sacolejado, uma, duas, três vezes, e eu não posso negar, essa é uma merda que me irrita profundamente e algo que eu não quero que continue.

E como sei que ela não vai parar, mesmo relutante, me vejo obrigada a sair da proteção do meu delicioso cobertor e abrir os olhos. E sou quase cegada pela luz infernal do sol que toma conta do meu quarto. Malditas janelas grandes...

O quarto já é um cubículo, o sol tomaria esse lugar mesmo que por uma fresta. Mas essas porcarias de janelas só fazem piorar tudo!

Eu olho para a minha mãe, que parece querer se certificar de que acordei mesmo, pois me encara com os olhos espremidos. E acredito que eu, esteja a encarando do mesmo jeito, pela forma que o sol me ataca. Mas querendo fugir do seu olhar, pego uma das minhas almofadas e jogo no rosto, que infelizmente, no mesmo segundo, é arrancada de mim.

Mas o quê...?

— Emma... — ela resmunga.

— O que foi? — resmungo, no mesmo tom.

— O colégio... Hoje é segunda-feira...

— Ah, merda! — me coloco sentada na cama em um salto.

Eu me esqueci completamente! Como isso fugiu da minha cabeça?

Ah... final de semana passou tão rápido...

Se eu ao menos me lembrasse, não teria ficado até tão tarde trocando mensagens com Kendra pelo celular. E se minha melhor amiga não fosse tão má, poderia ao menos ter me lembrado disso. Espero que ela esteja tão sem disposição quanto eu. Seria um belo de um castigo...

— Que tipo de palavreado horroroso... Eu não te ensinei a ser assim! — minha mãe ri e puxa o meu cobertor, que me cobre da cintura para baixo.

— Mãe!

Me devolva essa droga, mulher!

— Nenhuma reclamação. — diz em tom ácido, levantando um dedo. — Esqueceu que já era segunda, princesinha?

— Sim... — infelizmente...

— Olha só pra você... Nem parece que dormiu direito... Virou a noite? Ficou até que horas naquela porcaria?

— O nome é celular. E devo ter passado das uma da manhã, não lembro. — dou de ombros.

— Uma da manhã?! — ela parece chocada. Mas não é como se eu tivesse cometido um crime, não é? — Quantas vezes eu já não falei sobre os horários?! — seu tom é duro, de repreensão, como se estivesse falando com uma criancinha, e não com sua filha que já tem DEZOITO ANOS! Pelo amor de Deus!

— Me... desculpe? — aperto os lábios, mesmo sabendo que uma desculpinha não vai rolar. Não quando se trata do pequeno aparelho que ela já chegou a chamar de máquina dos infernos.

Notas ruins? Celular.
Olhos cansados? Celular.
Dores de cabeça? Celular... Como se a menstruação também não provocasse isso...

Então ela começou a estabelecer horários. Tanto para mim, quanto para a minha irmã Beatriz, cinco anos mais nova que eu. E mesmo que Tayller, meu irmão de três anos, ainda não tenha que seguir essa regra ao pé da letra, fico com uma dó dele, só de imaginar que um dia também passará por isso.

O Inesperado Para Emma [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora