Capítulo 3- Uma dança

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ROSALY

Rosaly consultou o relógio mais uma vez, e suspirou ao ver que era hora de ir para o trabalho. Deixou o café da manhã intocado sobre a pia da cozinha, pegou a bolsa que deixara no sofá da sala na noite anterior, e saiu de casa.

O ar frio a atingiu em cheio fazendo-a estremecer. Fechou os olhos por um instante desejando não ter que trabalhar naquele dia, mas sabia que não podia deixar de ir. Não dormia bem há dias, acumulando tanta tensão há tanto tempo que naquele sábado acabara acordando mal-humorada e exausta.

Desde que a mãe a alertara sobre o Caio, seus terrores noturnos recomeçaram. Tinha pesadelos, acordava sobressaltada com o coração aos pulos e o rosto banhado em lágrimas, não conseguia mais conciliar o sono e passava o resto da noite sentada no sofá da sala, abraçando os próprios joelhos.

Não queria pensar em Caio, mas sua mente a traía, e a imagem do rosto dele surgia em sua cabeça sem que ela o desejasse. Mas essa lembrança não era causada pelo amor que um dia sentira por ele, e sim pela força do medo que agora rondava a sua vida, e se instalara em seu coração há tanto tempo, que ela já não sabia se um dia seria capaz de livrar das amarras impostas pelo seu passado.

Rosaly sentiu as lágrimas toldarem sua visão, e balançou a cabeça para afastá-las enquanto se encaminhava para o ponto de ônibus. Deixara de fazer suas caminhadas matinais para o trabalho naqueles dias, pois tinha medo do que encontraria pelo caminho. Qualquer pessoa diria que ela estava exagerando, se não soubesse o horror que ela carregava dentro de si. Olhou para as pessoas que passavam por ela, e se perguntou se Caio estaria escondido no meio delas, observando-a secretamente. Tal pensamento a fez entrar em pânico, mas Rosaly tratou de se acalmar dizendo a sim mesma, "não seja paranoica, ele não sabe que está aqui, pelo menos ainda não."

O ônibus chegou e Rosaly suspirou aliviada, passou por todos os bancos, indo se sentar no último, em uma tentativa de se passar por despercebida. Enquanto o ônibus fazia seu trajeto habitual, passando por ruas, avenidas e bairros inteiros, ela pensou nos acontecimentos da última semana.

Suas aulas na escola de idiomas tinham melhorado consideravelmente graças ao Sr.Mendes, como ela passara a chamar o cantor favorito de suas alunas. Realizaram várias
atividades utilizando as músicas dele, fazendo com que os alunos, principalmente a ala feminina se interessasse mais pelas aulas, pois elas ainda tinham aquele ar de adolescente apaixonadas por seu ídolo. Rosaly se lembrou de si mesma com aquela mesma idade, e recordou que também fora assim. Quantas vezes economizara até a última moeda da mesada, só para comprar o ingresso para o show do seu artista preferido?

Apesar de toda sua preocupação pelo que ainda estava por vir, as aulas foram divertidas, e embora não estivesse tão concentrada quanto deveria, Rosaly percebeu com satisfação que conseguira alguns avanços com a turma. Até ganhara de Adrianne um cd gravado com as melhores músicas do Sr.Mendes, que ela tocava todas as noites no aparelho de som do seu apartamento, e a aluna também lhe mostrara uma foto dele, mas não prestara muita atenção, pois tinha outras coisas em mente naquele momento. Rosaly até que gostava do estilo, mas o cantor em si a intrigava, pois a voz que cantava sobre corações partidos, paixões avassaladoras e despedidas parecia ser jovem demais para saber o significado de tais sentimentos, mas sobre isso não poderia falar nada, pois ela própria tinha só vinte anos e por tudo que passara, parecia já ter vivido uma vida inteira.

Rosaly viu o ônibus fazer uma curva, e a próxima parada seria a sua. Apertou o sinal, e desceu do ônibus, ajeitando seu gorro de lã que protegia sua cabeça da brisa fria que soprava. Quando estava há dois metros do Weekend, notou um rapaz encostado em um poste, usando uma blusa preta com capuz que olhava diretamente para ela. Seu coração gelou e Rosaly apressou os passos, temendo que ele a seguisse. Chegou à entrada do seu trabalho e olhou para trás, viu que o rapaz tinha desaparecido e respirou aliviada, ajeitando melhor o cachecol vermelho ao redor do seu pescoço.

Treat you better-  Shawn MendesWhere stories live. Discover now