Capitulo 5 - Desejo

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Rosaly

Sentada na cama em seu quarto Rosaly encarava a porta que trancara na noite anterior como se ela fosse sua inimiga.
Quase não pregara os olhos a noite toda, pois as lembranças dos beijos de Peter atormentaram o seu sono, a ponto de fazê-la se levantar várias vezes no meio da madrugada e caminhar pelo quarto inquieta. Tentara inutilmente não pensar, mas o rosto dele continuou a invadir seus pensamentos sem pedir- lhe licença. Como ela pôde deixar que aquilo chegasse tão longe? Ela nem mesmo o conhecia. Não sabia se tinha namorada, noiva, ou um relacionamento sério com alguém. Ele podia estar apenas se divertindo com a garota da lanchonete, que conhecera outro dia e que coincidentemente encontrara no meio da noite e lhe oferecera um lugar para dormir. Até aquele momento, Rosaly não compreendia o que dera nela. Ela nunca abrira as portas para um estranho, era sempre precavida e desconfiada, mas bastou Peter sorrir daquela maneira tão incrivel para que ela fosse seduzida e esquecesse seu bom senso. Será que estava perdendo a sua capacidade de se desviar do perigo quando havia um em seu caminho? Por que se fosse assim
de nada adiantava ter se mudado para tão longe, se não conseguia se manter segura. E um relacionamento com alguém somente complicaria as coisas. Não que pensasse que Peter ia querer vê-la depois da cena que protagonizaram no tapete da sala, mas o melhor seria se manter distante dele. Diante desde pensamento Rosaly sentiu uma fisgada em seu coração, pois a ideia de não mais ver Peter ou falar com ele a deixava entristecida, e não sabia bem por que, ou melhor, não queria saber. Não desejava saber mais nenhum detalhe da vida dele e nem trocar confidencias a respeito de seus gostos pessoais, ou contar coisas a respeito de suas famílias. Rosaly sabia que se continuasse a ter contato com ele, poderia facilmente sucumbir aos encantos daqueles olhos, e se esquecer da ameaça que pairava sobre sua cabeça. O problema era que Peter era simpático demais, lindo demais, e sexy demais. Precisava tirá- lo de sua cabeça ou acabaria fazendo besteira e colocando sua própria vida em risco, e talvez a dele também. Poderia lidar com o fato de que deveria continuar fugindo mas não suportaria se outra pessoa saísse machucada no processo.
Rosaly deu um longo suspiro, ajeitou uma mecha de seus longos cabelos atrás da orelha, e continuou a olhar para a porta sem ter coragem de abri -la. Seus pensamentos voavam de um lugar a outro sem descanso, e um deles escapou de sua severa vigilância de não se lembrar, e trouxe de volta as sensações em seu corpo com o toque de Peter. Ele sabia como fazer uma mulher se sentir desejada, seus beijos eram um mar de luxúria e a deixaram sedenta pelo o que viria depois. Mas, ela fugira e o deixara sozinho na sala, pois não confiara em si mesma para resistir aos apelos do seu próprio corpo. Rosaly se mexeu inquieta na cama ao se recordar das ondas de desejo que quase a dominaram naquele instante. Sua carência a levara aquilo, e tinha medo de não se controlar se Peter a tocasse novamente. Sabia muito bem que ela não temia somente se entregar a um estranho, mais que tudo, tinha medo de perder seu coração.
Ela prometera nunca mais se apaixonar , pois junto com o amor, outros sentimentos também surgiam, e Rosaly não tinha estrutura emocional para suportar outro baque como o que tivera com Caio.
Ela o conhecera na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, quando estava de férias com algumas amigas. Ele surgira do mar como se fosse um deus grego, os cabelos castanhos molhados pelo mar lhe dava um ar selvagem que a encantaram no primeiro olhar. Os braços eram fortes, assim como todo seu corpo, e ele tinha olhos verdes maravilhosos que brilhavam em seu rosto de traços perfeitos e anguloso. Quando ele se aproximara para falar com ela, Rosaly não conseguira acreditar que aquele espécime humano magnífico se interessara por ela. No início, achou que ele tinha se dirigido para onde ela estava, por que ele queria conhecer Daniella, sua melhor amiga, pois isso faria muito mas sentido para ela, já que Daniella tinha um corpo escultural que chamava a atenção por onde passava, pernas longas e bem torneadas, cabelos loiros e lisos que ela usava quase abaixo da cintura, e olhos azuis inteligentes. Mas, curiosamente Caio sequer notara sua amiga, fora até Rosaly e se apresentara. Ele era um grande empresário de sucesso e filiais de sua empresa estavam espalhadas pelo Brasil todo, além de alguns países da América do Norte, o que o tornava o homem de negócios mais jovem do seu ramo de atuação. Caio era respeitado e seu nome era sempre citado nas colunas sociais dos jornais regionais, o que ninguém imaginava, é que por trás daquele olhar enigmático, havia um homem vingativo , frio e sem escrúpulos que usava seu poder para dominar tudo e a todos.
Rosaly também fora enganada. Se deixara levar pelo fascínio daquele homem que a conquistara no primeiro minuto que se conheceram, com suas palavras bonitas e ensaiadas, fazendo- a acreditar que era especial e única para ele. Talvez a inexperiência dos seus dezessete anos na época, tenha sido o pior fator de sua imensa ingenuidade. Caio a cercava de cuidados desde o início, tratando- a com toda dedicação e carinho, e logo se tornaram inseparáveis. Ele a levava para todos os lugares, até mesmo em jantares e viagens de negócios, e Rosaly adorava cada momento, pois eles a faziam se sentir importante, como se quisesse mostrar ao mundo que fisgara o melhor partido do país. E Caio alimentava suas fantasias, presenteando- a com anéis de brilhantes, brincos de esmeralda e perfumes caros. Ela não compreendia que enquanto Caio a mimava como se ela fosse uma princesa, a tornava prisioneira de suas próprias vontades. E ela se apaixonara perdidamente, ficando tão cega pelo que sentia que não conseguia enxergar os pequenos sinais que evidenciavam o verdadeiro caráter de Caio.
Quando ele a pedira em casamento, depois de um ano de namoro, foi natural para ela aceitar. Estava tão envolvida por ele, que teria ido até a lua para satisfazer todos os seus desejos se ele lhe pedisse.
As mudanças começaram devagar, com tanta sutileza que Rosaly não as percebeu imediatamente. Caio foi aos poucos tomando conta de sua vida e quando Rosaly abriu os olhos, ele já a dominava completamente. Ela já não podia sair com as amigas, ir ao shopping sozinha, dançar ou mesmo caminhar pelo parque tendo como companhia apenas seus pensamentos, pois todas essas coisas aborreciam Caio extremamente, e apaixonada como estava Rosaly lhe fazia todas as vontades.
Mas, com o tempo, Rosaly se sentiu sufocada, já não tinha mais liberdade para fazer as coisas que amava, e quando comecara a se rebelar contra a tirania do noivo ele se tornara violento.
Rosaly só percebeu que chorava quando sentiu o gosto das lágrimas em seus lábios, enxugou-as rapidamente com o dorso das mãos Não iria mais chorar pelo passado, pois já tinha chorado uma vida inteira no último ano, e isso não mudaria em nada sua situação. Fechou as portas de suas lembranças e tentou se concentrar no problema real que tinha para resolver, e que estava exatamente do outro lado da porta de seu quarto.
Ajeitou os cabelos com as mãos, retocou o batom e passou um pouca da sua colônia favorita , dizendo a si mesma que estava fazendo aquilo tudo somente para se sentir mais segura e apresentável.
Respirou fundo e abriu a porta, aguçou os ouvidos, mas, não ouviu nenhum barulho vindo do quarto de Peter. Foi em direção à cozinha, e encontrou Peter sentado à mesa lendo o jornal que o zelador deixava na porta de entrada do apartamento dela todas as manhãs. Ele parecia tão a vontade, como se estivesse em sua própria casa, e Rosaly prendeu a respiração ao constatar mais uma vez como ele era bonito. Os cabelos encaracolados estavam caprichosamente arrumados, o rosto exibia um ar relaxado, mudando de expressão conforme seus olhos corriam soltos pelas notícias. Ele usava as mesmas roupas da noite anterior, mas ainda assim, parecia ter saído de uma capa de revista masculina.
De repente, Peter levantou os olhos e a pegou parada na porta da cozinha, observando-o com atenção. Imediatamente, Rosaly sentiu seu rosto pegando fogo, e para disfarçar ela disse:
- Bom dia, Peter.
- Bom dia, Rosely. Espero que não se importe,mas tomei a liberdade de comprar café para nós dois. Gosta de cappuccino? - Peter perguntou, olhando- a com uma intensamente que a desconcertou.
- Eu gosto, mas você não precisava fazer isso. - Rosaly desviou o olhar do rosto dele, pois isso a distraía,impedindo-a de pensar direito.
- Eu precisava sim. Você me recebeu em sua casa e me deu um lugar para passar a noite, o mínimo que eu podia fazer era alimentar você. - Ele disse aquilo em tom de brincadeira, mas Rosaly sentiu um certo tom de malícia em suas palavras.
- Obrigada por se preocupar . - Ela disse simplesmente, foi até o balcão da cozinha e se serviu do cappuccino que ele comprara. Havia também rosquinhas de leite e brioches.
- O que significa esse banquete? Está querendo me engordar? - Rosaly riu olhando para ele.
- Isso seria impossível, meu bem. Você tem um corpo perfeito. - Rosaly sentiu o olhar de Peter sobre ela, e o mesmo calor que tomara conta dela quando estivera nos braço dele na noite anterior ameaçava tomar conta dela de novo. De repente, Peter estava perto, tão perto, que podia sentir as mãos dele em seus cabelos.
- Adoro o seu cabelo. Tão macio e comprido. - Peter falou, pegando uma mecha em suas mãos e enrolando-a em seus dedos. Rosaly fechou os olhos incapaz de falar qualquer coisa. O que ele estava fazendo com ela? Precisava escapar daquele feitiço ou estaria perdida. Deu um passo para trás, tentando manter certa distância, mas, Peter abraçou - a pela cintura, impedindo-a de se mover.
- Por que sempre tenta fugir de mim? - a voz dele mexia com sua imaginação, e Rosaly desejou sentir de novo a carícia daquelas mãos tão gentis, e tão excitantes.
- Rosely- Ela adorava o jeito com que ele falava seu nome, era tão doce e ao mesmo tempo tão sensual. - Por favor, olhe para mim.
Ela abriu os olhos e viu a paixão queimar nos dele, Peter foi se aproximando sem desviar o olhar do dela. Acariciou seu rosto , e com o polegar tocou seu lábio inferior, fazendo com que Rosaly respirasse pesadamente. Então, ele a beijou e Rosaly correspondeu, percebendo naquele instante o quanto desejara sentir a boca de Peter sobre a sua novamente.
Enquanto ele tomava seus labios , Rosaly sentiu as mãos de Peter descer de seus cabelos, e pressionar de leve seus seios sobre a blusa rosa que ela usava, e Rosaly gemeu baixinho sentindo sua pele se arrepiar com o prazer que aquilo lhe causou.
Então, Rosaly voltou a realidade, dizendo a si mesma que aquilo não devia estar acontecendo. Empurrou Peter para longe dela e disse:
- Preciso ir para o trabalho. O movimento no Weekend no Sábado é sempre intenso. - passou as mãos pelo cabelo, tentando disfarçar o tumulto do seu coração , e notando que Peter não tirava os olhos dela.
- Eu te levo.
- Não. Eu prefiro ir sozinha. Gosto de caminhar . O ar fresco da manhã me faz muito bem. - precisava fugir do que estava sentindo, ou acabaria denunciando seus sentimentos por ele.
- Tem certeza? Posso ter levar em um segundo.
- Tenho, obrigada. - Peter pareceu ficar desapontado, mas não disse nada.
Saíram para o ar frio daquela manhã, e vendo crianças se divertirem na neve, Rosaly disse:
- Sempre quis aprender a patinar no gelo mas nunca  achei que  teria a habilidade necessária.
- Eu também adoro patinar no gelo. Sempre tenho a sensação de que sou criança de novo. - ficaram observaram as crianças mais um pouco fazendo um boneco de neve, e então Rosaly disse:
- Preciso ir agora ou chegarei atrasada.
- Está bem. - Ele respondeu. Mas, quando ela começou a andar Peter disse:
- Rosely. - Ela se voltou respondendo
- Sim? - ele pareceu que ia lhe dizer algo importante, mas então, mudou de ideia.
- Nada. Tenha um bom dia.
- Você também. - Então, ela recomeçou a andar, desejando ardentemente saber o que ele tinha a lhe dizer. Sabia que o que acontecera aquela manhã na cozinha tinha sido bem mais do que o desejo entre duas pessoas, por isso, tinha que manter-se longe de Peter, e coisas como aquela jamais deveriam voltar a acontecer, e com esse pensamento, ela continuou a andar e em nenhum momento ela olhou para trás.

Treat you better-  Shawn MendesWhere stories live. Discover now