Rosaly
O tiro chegou aos ouvidos de Rosaly na mesma cadência que seu coração disparava em desespero. Ela queria se mexer e chegar até onde os dois homens jaziam imóveis, mas, a dor que sentia em seu ventre era agonizante. Ao cair ela batera a barriga no chão, e tentava a todo custo respirar com normalidade, mas, sua respiração era entrecortada por aquela pontada que a dividia ao meio . Ela tentou dizer:
- Shawn...- mas sua voz saiu baixa e sofrida. Ela precisava encontrar ajuda, mas por Deus! Onde ela encontraria alguém que pudesse ouvi-la naquele fim de mundo? Ela tentou chamar por ele de novo, porém mais uma vez seu corpo a traiu, e o nome dele saiu em murmúrio rouco quase inaudível.
- Shawn. .- dessa vez, ela viu o rapaz dar sinal de vida. Ele empurrou o corpo de Caio que tinha caído em cima dele, e se levantou com dificuldade, indo em direção à Rosaly que ao olhar para ele viu o sangue na frente da camiseta dele, e quis gritar, mas como não tinha forças, lágrimas começaram a rolar de seus olhos castanhos inundando as faces delicadas.
Shawn estava ferido, muito ferido, e ela não podia ajudá-lo. Rosaly mal conseguia manter os olhos abertos, a dor que sentia a deixava fraca , incapaz até de respirar por si mesma.
- Rosely, como está se sentindo?- ele disse, se ajoelhado na frente dela e tocando seu rosto, enquanto ela continuava a chorar, imaginando a dor que ele deveria estar sentindo com aquele enorme ferimento no peito, e deixava seu próprio sofrimento de lado para cuidar dela. Ela tentou falar de novo, dessa vez as palavras saíram atropeladas:
- Shawn... Você....está....ferido... Ela parou para respirar, pois outra pontada a fez arfar. Shawn olhou para a própria camiseta, e entendeu o que ela estava tentando lhe dizer.
- Não, amor . Este sangue não é meu. Olha. Está tudo bem comigo.- ele levantou a camiseta para que ela pudesse ver seu peito intacto e sem ferida nenhuma. – Este sangue é do Caio. Ele está morto.- Shawn disse sem nenhum pesar.
Rosaly fechou os olhos por um momento, absorvendo a notícia que Shawn acabara de lhe dar. Ela não estava feliz com a morte de outro ser humano, mas estava aliviada por não mais ser ameaçada ou ter que fugir. Finalmente estava livre , e Shawn também . Rosaly abriu os olhos novamente ao sentir as duas mãos dele segurando seu rosto, e seus lábios abriram um sorriso de leve, mas logo se crisparam de dor novamente, e dessa vez ela gemeu, fazendo Shawn olhar para ela preocupado.
- O que foi, amor? Diga-me o que sente. Eu quero te ajudar. – Rosaly levou as mãos ao seu ventre e disse respirando bem rápido:
- Nosso filho...Não...quero perdê-lo...Por favor.
- Você não vai perdê-lo. Vou te levar agora para o hospital, meu amor. Confie em mim, baby.- ele se levantou pegando-a com cuidado no colo, enquanto Rosaly agarrava o pescoço dele, encostando a cabeça no ombro de Shawn.
Quando chegaram à porta, a polícia acabara de entrar, e Shawn rapidamente explicou a situação, prometendo ir até a delegacia mais tarde para prestar esclarecimentos, pois naquele momento Rosaly precisava de atendimento médico. Observando o estado da moça, um dos policias se ofereceu para dirigir o carro de Shawn, e levá-lo com Rosaly até o hospital mais próximo, o que ele prontamente aceitou, pois assim poderia ficar com ela no banco do passageiro.
Durante todo o caminho até o hospital Shawn segurou suas mãos e acariciou-lhe os cabelos, e se não fosse pela dor, Rosaly teria apreciado imensamente aquele carinho. Tanto tempo sem tê-lo por perto, tantos dias desejando o toque dele, e agora que ele estava ali, ela não podia sequer beijá-lo como queria. Pelo menos, ele estava a salvo, e a agonia que ela sentira ao imaginá-lo ferido tinha passado. Ela observou o rosto lindo dele que naquele momento exibia uma expressão indecifrável, e pensou no quanto ele era importante em sua vida. Ele a salvara como da outra vez, arriscando sua própria vida para livrá-la das garras de Caio, e Rosaly o amava ainda mais por isso.
A dor a pegou em cheio de novo, e ela tentou se controlar para não deixar Shawn mais preocupado do que já estava, mas o olhar dele indicava que ele sabia a extensão do seu sofrimento. Ela não podia perder aquele filho que representava tudo o que sentiam um pelo outro. A história deles merecia um final feliz, e ela se sentiria terrivelmente arrasada se não pudesse dar a Shawn aquele filho que ambos já amavam tanto. Ela agarrou a mão dele como se pedisse ajuda, e Shawn disse baixinho para acalmá-la:
- Vai ficar tudo bem, amor. Já estamos quase chegando. Aguente mais um pouquinho.- Rosaly focou seu pensamento no som daquela voz que tinha um poder hipnótico sobre ela. Ela sabia que precisava resistir, que precisava lutar, mas estava tão cansada . A dor estava minando sua resistência, e estava cada vez mais difícil manter os olhos abertos.
Ela olhou para rosto de Shawn novamente, e notou que ele estava chorando. Ele estava sofrendo por ela, e Rosaly não podia fazer nada a respeito. Ela sentiu o beijo molhado em sua testa, o polegar dele escorregando por sua bochecha, e ela suspirou baixinho. Estava com tantas saudades daquelas carícias suaves que sempre conseguiam deixá-la em paz.
Shawn continuava chorando, e Rosaly desejou tanto acariciar o rosto dele, fazê-lo sorrir daquele jeito que fazia o coração dela virar pelo avesso, mas estava tão fraca, as suas últimas forças a estavam abandonando, as pálpebras começaram a pesar, e ela piscou várias vezes para afastar a sonolência que a arrastava para uma inconsciência profunda
Por fim, desistiu de lutar. Suas mãos soltaram a de Shawn exatamente no momento em que ele dizia:
Baby, fica comigo. Eu te amo.- ele queria ficar com todas as suas forças, mas então a escuridão sugou seu último suspiro.
SHAWN
Ele chorava sem perceber, enquanto via o brilho dos olhos de Rosaly se apagando, e todo o seu sistema gritou em agonia. Não, não podia perdê-la, ele precisava dela, pois Rosaly era sua força, a mulher da sua vida, seu amor perfeito. Não era justo que a tirassem dele, não era nada justo que não a deixassem viver. Ela era a melhor pessoa que ele tinha conhecido, e pensar que ela estava partindo o estraçalhava por dentro.
Shawn respirou fundo enxugando as lágrimas com as costas da mão esquerda, enquanto a direita estava perdida nos cachos de Rosaly .Seu olhar marejado caiu sobre o rosto dela, e ele pensou que mesmo pálida como estava, ela continuava linda, seu rosto de anjo brilhando para ele com uma inocência encantadora. Ele a amava com todo o seu coração então, como sobreviveria sem a presença daquele espírito maravilhoso em sua vida? Shawn a trouxe para mais perto do seu peito, e percebeu que o coração dela ainda batia, mas, tão fraquinho que ele quase não conseguia ouvir. Ele se recusava a pensar que ela estava morrendo, assim como se recusava a pensar no filho deles, ou ele se sentiria tão mutilado que enlouqueceria de vez.
- Por favor, querida. Não me deixe.Eu não posso viver sem você. Tente abrir os olhos, meu anjo, e veja o quanto te amo. Você se lembra dos planos que fizemos? De termos nosso filho, nos casarmos e construirmos nosso futuro juntos? Eu não posso realizá-los sem você, eu não posso se quer pensar em acordar sem você ao meu lado amanhã. Por favor, baby. Eu te imploro. Abra esses olhos lindos para mim.- ele a beijou nos lábios ainda mornos, e esperou por um milagre que não aconteceu.
Quando chegaram no hospital, Shawn fez questão de carregá-la no colo até a maca preparada pelos enfermeiros que esperavam por eles, pois o policial que os levara até ali tinha ligado antes, explicando a situação.
Ao ver Rosaly sendo levada para a emergência com um respirador no rosto, ele quis gritar de desespero por sentir seus braços vazios sem ela. Depois, se sentou na recepção e se preparou para as horas agonizantes de espera.
Ele ligou para Brian explicando onde estava, e depois ligou para sua mãe. Assim que ouviu a voz dela preocupada, ele começou a soluçar, enquanto sua mãe do outro lado da linha dizia;
- O que foi, meu amor? Conte-me e vamos resolver juntos.
- Eu a estou perdendo, mamãe, e não suporto a ideia de nunca mais vê-la.- seu choro era tão doído, que Karen sentiu seu próprio coração se apertar ao perguntar:
- O que está dizendo, Shawn?
- Rosely. Eu a encontrei, mas, acho que cheguei tarde. Agora ela está indo embora. O que eu faço se ela me deixar?- os soluços aumentaram, e Karen mais uma vez perguntou:
- Onde vocês estão?- Shawn lhe passou o endereço, e ela disse:
- Logo eu, seu pai e Aaliyah estaremos com você. Tenha calma, meu filho, vai ficar tudo bem. Ele apenas assentiu e desligou o telefone. Como tudo ficaria bem, se Rosaly estava dentro daquele hospital lutando pela própria vida e da filho?, ele se perguntou.
Ele continuou sentado na recepção, olhando para as paredes brancas, sentindo seu ânimo indo embora. Brian e Lexy chegaram pouco tempo depois, e a namorada do amigo o olhou com os olhos aflitos e perguntou:
- Como ela está?- Shawn a encarou e respondeu
- Ninguém me disse nada ainda.
- Como você está, cara?- Brian perguntou com uma mão no ombro de Shawn. Ele podia sentir todo o tormento do amigo, sofrendo junto com ele. Shawn respirou fundo e respondeu:
- Perdido. Meu coração está sendo arrancado, e não sei como respirar.
- Calma, irmão. Estamos aqui com você. – Brian disse, e Shawn voltou a se sentar com a cabeça entre as mãos. Logo, seus pais chegaram junto com sua irmã, e Shawn pensou agradecido que pelo menos sua família estava ali para apoiá-lo naquele momento tão difícil.
Duas horas tinham se passado quando o médico veio lhe dar notícias de Rosaly. Seu semblante estava sério, e a voz grave quando falou:
- Sinto informar que a paciente está em coma.- Shawn perdeu o ar e pensou que ia sufocar, sendo amparado por Brian e seu pai quando Karen perguntou:
- E o bebê?
- Por enquanto tudo está bem com o feto. Vai depender da recuperação da mãe. – Shawn fechou os olhos. Não conseguia acreditar que estava a ponto de perder as pessoas que mais amava na vida.
- Quanto tempo, doutor?- Karen perguntou com as mãos trêmulas.
- Não sei precisar. A garota chegou aqui com uma hemorragia interna devido a uma queda, pelo que podemos observar. Conseguimos estancar a hemorragia antes que afetasse a criança, porém, não quero dar-lhes muitas esperanças, pois o caso é grave.- o médico disse, se afastando em seguida, deixando todos arrasados.
Os dias que se passaram foram de extrema ansiedade e angústia para Shawn que visitava Rosaly todos os dias, sendo permitido que ele ficasse com ela apenas alguns minutos na UTI. Ele segurava na mão dela, e conversava sobre tudo que fariam quando ela saísse dali, como se ela pudesse ouvi-lo . Em alguns momentos, ele apenas olhava para ela e ficava se lembrando como a conhecera, a maneira dela dançar para ele, seu sorriso, a forma como se amavam, o dia em que ela lhe contara que estava grávida, e a felicidade incalculável que sentira ao receber aquela notícia, e ele não podia deixar de chorar ao pensar que aquilo tudo poderia acabar de uma hora para outra. Ainda assim, ele se recusava a desistir e tinha esperanças de que ela acordaria de uma hora para outra, e poderiam enfim viver o amor deles como mereciam, junto com o bebezinho que por milagre ainda crescia no ventre dela.
Foi assim que ele se sentia naquela quinta-feira quando dera um beijo de despedida na testa dela e foi para casa. À noite enquanto dormia, ele teve um sonho. Rosaly apareceu para ele vestida de branco e com um bebê nos braços, sorrindo com seus olhos lindos cheios de amor. Contudo, quando Shawn se aproximou dela e esticou a mão para tocá-la, ela sumiu, deixando-o com uma sensação angustiante dentro do peito, que perdurou até no momento em que ele acordou.
Ele se apressou em ir para o hospital, pois queria estar com Rosaly e acabar com aquele sentimento estranho dentro dele. Quando ele pisou dentro do hospital, e chegou na recepção, seus pais estavam lá, sua irmã, Brian e Lexy que se abraçavam apertado. Contudo, quando sua mãe o encarou com os olhos marejados, Shawn sentiu tudo rodar, e foi então que ele soube.
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Treat you better- Shawn Mendes
FanficRosaly é uma garota brasileira que se muda para o Canadá, fugindo de um passado obscuro em busca de paz para o seu coração Vivendo em Vancouver, ela é obrigada a trabalhar exaustivamente para dar conta de seu orçamento em uma cidade cuja a vida não...