[1.317 palavras] capítulo revisado em 7 de agosto, 2020.
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Após meses da tragédia com Cal e seu pai, o teatro de Maven e Elara ocorreu como esperavam. Todos acreditaram na mentira de que, Cal matou o próprio pai por ambição à coroa. Foi uma mentira da qual eu fiz parte e me fez ganhar um garoto feito de sombras e uma coroa banhada de sangue vermelho e prateado, ambos os quais eu estou prestes a governar.
Cal de algum modo, fugiu do Ossário por uma passagem. A Guarda, óbvio. Na primeira oportunidade, vão usa-lo como uma moeda de troca. Seja para Maven ou para Anabel Lerolan, avó de Cal. Ela é uma mulher inteligente e duvido muito que ela não irá recolocar Cal em seu lugar de direito legitimo.
Penso que a coroa possa me cair bem e logo me repreendo. Não posso me assemelhar a Evangeline, a garota que me perseguiu após meu mergulho repentino neste mundo prateado. Após Maven me anunciar como a próxima rainha de Norta e prometer se casar comigo diante de toda a corte, Lorde Samos e Ptolemus não puderam controlar a garota que estava predestinada ao trono. A mesma deu um grito tão agudo que soou como música para os meus ouvidos e fez um sorriso brotar nos lábios de Maven. Não foi intencional, me desculpem, mas não estou disposta a sentir pena de uma garota que obteve tudo na vida pisando em meus irmãos.
Depois disso, a família Samos pediu desculpas pelo ocorrido e logo partiram para Rift, dizendo que tinham assuntos importantes para se resolver. Sabíamos que o assunto tinha nome, e o mesmo era Evangeline. Só pude sentir alivio, não seria provocada por um longo tempo.
E aqui estou eu, com meus horários escritos a mão por Elara Merandus. Obviamente nele consta aulas de etiqueta com uma nova professora, pensar na antiga ainda me dá calafrios. Lady Blonos não tinha culpa nenhuma do meu sangue ser vermelho, e teve que pagar por isso.
Maven acabou me contando que havia mentido sobre Julian. Ele estava sendo prisioneiro de uma das celas do Palácio de Whitefire, e após muito manipular meu futuro marido, consegui que Julian ainda me desse aulas e pudéssemos manter contato. Não que isso tenha anulado meu ódio por Maven, ele me traiu e me deve muito ainda.
A vigilância sobre mim agora estava mais alta, sentinelas me cercavam à cada canto, observando cada palavra que eu trocava com algum vermelho mesmo se fosse para levar algum copo até a cozinha ou uma ordem a meu pedido. Câmeras estavam por toda parte, menos em meu banheiro. Era óbvio que o ciúme de Maven não deixaria que sentinelas me vigiassem por completo.
─ Mare.
A voz fraca de Julian ecoou pelos meus ouvidos, fazendo-me acordar do transe em que estava.
─ Sobre o que estávamos falando? ─ Pergunto, com medo da repreensão.
Julian suspira e massageia as têmporas, as pedras silenciosas obviamente foram um custo para Julian. Seus cabelos estavam mais ralos e grisalhos e ele já estava tão magro que parecia definhar mais a cada segundo.
─ Estávamos falando sobre os tempos antigos, em que prateados eram perseguidos por vermelhos. Céus, Mare Barrow onde está com a cabeça?
Abaixo a cabeça, como um cão que acaba de levar uma bronca do dono.
─ Me desculpe, Julian. Estava pensando em como minha vida tem mudado desde...
─ Desde que escolheu ser a rainha de Maven.─ Ele revira os olhos, pela repetição do assunto.─ Sei que ainda está em choque, Mare. Mas precisa prestar mais atenção, minhas aulas podem salvar sua vida antes que a minha acabe.
Seu tom de cansaço é inconfundível. Desejo libertá-lo de todos esses anos de submissão, em que apenas pôde observar Elara matar sua irmã e arrancar fora a língua de seu único amor, além de tomar o trono apenas manipulando tudo e todos ao seu redor.
─ Julian, prometo que vou pedir à Maven um pouco mais de liberdade pra você e Sara. Não aguento mais ver vocês definharem em tão pouco tempo.
Pela primeira vez na semana, ouço Julian rir. Uma risada seca e desgastada, mas ainda assim, uma risada.
─ Seria a quinta vez que um pedido seu é recusado, Mare. Maven é como um fantoche, controlado por Elara e problemas na corte e em Norta.
Suspiro pela décima vez no dia. Julian ultimamente não tem confiado em mim e não lhe tiro as razões, ele tentou me avisar e me mostrar a víbora que Maven é. Eu ousei imaginar um futuro com Maven, em que podíamos ser felizes e eu pudesse lidar com problemas na corte e ajudar milhões de vermelhos inocentes. E ainda imagino isso, confesso. Mas com o meu Maven, o garoto de sombras por quem eu me apaixonei.
Já não tenho tanta convicção de que posso fazer isso agora.
─ Eu prometo que vou tentar novamente...
Minha frase é interrompida por Rosie, que abre a porta e se revela vestida com uma calça de couro marrom, botas pretas e um casaco verde com detalhes florais dourados. Elegante e refinada, eu diria. Obviamente ela não está sozinha, cercada por meus sentinelas e pronta para me levar a algum lugar.
─ O que deseja, Rosie? ─ Pergunto, olhando diretamente para a garota e ignorando os homens assustadores que vestem laranja.
─ Surgiu um jantar imprevisto, o rei Maven me pediu para vir lhe buscar e lhe preparar a tempo.
Estalo a língua e me controlo para não soltar muitos palavrões. Apenas aceno a cabeça para Julian que faz o mesmo, e sigo na direção de Rosie que logo segue a caminho para o meu quarto, onde passo pouco tempo devido às obrigações.
─ Hoje você está mais desajeitada que o normal.─ Ela diz, me provocando de propósito.
─ Não mais do que você todos os dias.
Olhamos uma para a outra trocando sorrisos. Assim como Lucas Samos, Rosie Welle é mais uma prateada com quem fiz amizade e está fadada à morte se eu der um passo em falso. Maven fez a gentileza de me dar uma dama de companhia que soubesse me orientar com os horários da mãe, e fazer eu me sentir confortável neste lugar frio e vazio de lembranças boas.
Rosie possui os cabelos castanho-avermelhados e os olhos de um azul profundo como a maioria dos prateados de sua Casa. Ela se destaca com sua pele clara como porcelana e sua altura relativamente grande e frágil, que esconde seu grande poder de manipular a terra e criar grandes belezas da flora.
Os sentinelas ficam quando entramos em meus aposentos, sabem que as câmeras estão me vigiando e aquele é o máximo que Maven permite que cheguem perto do meu quarto.
─ Você está pronta para ficar deslumbrante? ─ Rosie faz o favor de abrir o closet de maneira exagerada.
Reviro os olhos e logo começamos a produção com a ajuda de mais duas criadas que fazem o trabalho silenciosamente, como estátuas que podem se mexer, mas sem falar ou ouvir.
Me lembro de como era quando cheguei ao Palacete do Sol. Uma vermelha insignificante, culpada pela mão quebrada de Gisa e por não poder salvar Kilorn do recrutamento. Aquela garota não sabia de nada que a esperava, e não tinha orgulho nenhum para dar aos pais, uma chaga em suas vidas e em seu vilarejo. Imagino o que pensam agora que sabem que a filha deles irá ser rainha, rainha de um garoto que foram acostumados a odiar e sentir repulsa desde sempre.
Maven disse que logo em breve poderei vê-los na viagem de turnê em que iremos parar em Summerton, e imediatamente me lembrei de como a última vez em que fui vê-los escondida recebi a pior notícia que poderia receber. Shade estava morto e isso me fazia ansiar pelo dia em que eu encontraria o prateado que o descobriu e o matou por ser da Guarda Escarlate. Eu o mataria com minhas próprias mãos.
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Kingdom of Storm
FanfictionMare Molly Barrow se via diante de duas opções: Se tornar uma rainha controlada por um rei cruel, cuja mente não se pode confiar e é traiçoeiro como a víbora da mãe. Ou ela poderia escolher o caminho da Guarda, onde certamente não teria voz alguma e...