[1.940 palavras] capítulo revisado em 7 de novembro, 2020.
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Sua respiração bate contra as minhas costas e como um instinto, meu corpo se arrepia. Ele dorme tranquilamente, como se os sussurros jamais tivessem feito parte de sua vida. As cenas da noite de hoje ainda circulam a minha mente, como se fossem me perseguir até o túmulo. As palavras gritadas por Cameron, o desespero em seus olhos, o sangue vermelho no piso branco que eu jurei nunca derramar...
Tudo aconteceu como eu esperava que acontecesse: Morey chegou junto das crianças mandadas ás trincheiras, sua confusão não me surpreendeu. Esta nação nunca sentiu o gosto de obter reis e rainhas misericordiosos. Seu olhar por todos os cantos, como se estivesse no paraíso, fez um sorriso brotar em meus lábios e foi nesse momento, nestes malditos minutos, que eu me dei conta. Fiz de tudo para me tornar poderosa, parecer poderosa, governar e me sentar no trono. Tomei todas essas atitudes e me esqueci da minha verdadeira missão, minha verdadeira ambição.
Proteger a minha família e tornar Norta justa para os vermelhos. Mas onde está a minha família? Onde estão as minha ordens, a libertação da cidade cinzenta, o término da guerra contra Lakeland, onde mais vermelhos morrem do que eu saiba contar?
Minha calmaria se esvai, dando espaço ao desgosto que sinto por mim. Eu estou aqui, deitada em lençóis de seda e vermelhos se deitam em trapos cobertos de mofo. Minha família permanece viva? Recebi noticias suas há dois meses atrás. Pela primeira vez em dias, me dou conta do que estou me tornando. Sou mais forte que ambos, mais egoísta e fria quanto os prateados e mais desesperada e calculista para sobreviver quanto os vermelhos.
Nesta noite, deixei que torturassem uma criança em troca de informações. Morey sentiu o poder de um prateado cedo demais e por sorte, por pouco tempo. Mas ainda sentiu. E eu pude sentir o silêncio esmagador sobre mim, a impotência percorrendo o meu corpo numa velocidade absurda e meu controle se esvaindo, me prendendo ao chão como se a gravidade fosse forte demais para eu suportar.
Me surpreendi ao acordar algumas horas depois e saber que ela conseguiu passar por uma dúzia de guardas, quase chegando á entrada do palácio. Cameron é forte, arriscou tudo por sua vida e seu irmão. Desafiou duas autoridades e a segurança de Whitefire por uma chance de voar, ser livre. As lágrimas chegam aos meus olhos tarde demais, as mãos pálidas que na luz da lua refletem, passeiam pelas minhas bochechas na tentativa de as conter.
Me desamarro de seus braços e caminho até a porta de correr envidraçada, a abro quase que com desespero e sinto a brisa gelada bater contra o meu rosto, como se a mãe natureza soubesse dos meus pecados e me castigasse por isso. Apoio meus braços no parapeito e deixo o ar de meus pulmões esvair, com as lágrimas escorrendo sem controle.
─ Sabe, posso ser um bom ouvinte. Quer me contar o que está acontecendo?
O observo pelo canto do olho esquerdo, sua expressão como se estivesse divagando. Os cachos negros por cortar bagunçados, o sono dominando boa parte dos olhos e as olheiras, quase inexistentes. Me pergunto se fui eu que o mudei ou se ele aprendeu a ter controle sobre os sussurros.
─ Este mundo é um caos, sinto como se a minha mente também fosse. Pode soar egoísta dizer uma coisa dessas pra você...
Ouço sua risada baixa e gostosa, como se eu tivesse proferido alguma piada.
─ Entendo o que quer dizer, não se preocupe. Você já me disse coisas piores.
Abaixo a minha cabeça levemente, contendo um sorriso triste. Eu tinha motivos para isso, não devo sentir culpa. De repente, sinto uma ideia martelar a minha cabeça. Parece suicida e imprudente, sinto que vou fazer a coisa certa.
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Kingdom of Storm
Fiksi PenggemarMare Molly Barrow se via diante de duas opções: Se tornar uma rainha controlada por um rei cruel, cuja mente não se pode confiar e é traiçoeiro como a víbora da mãe. Ou ela poderia escolher o caminho da Guarda, onde certamente não teria voz alguma e...