─ eleven'm.b

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[1.362 palavras] capítulo revisado em 9 de setembro, 2020.

━⊱❉⊰━

Me sinto absorta em meus pensamentos, não sei como acalmar a tensão de todos os países contra Norta nesse momento. Nunca soube acalmar uma guerra, muito menos desfazer a que acabo de criar.

É nítido que apenas sirvo pra criar um problema ainda maior e que um dia tudo irá virar uma grande bola de neve, prestes a me engolir. Maven diz que é normal, quando se comanda um reino, precisa saber que a todo momento você pode morrer por ele. Até alguns meses atrás, eu estava acostumada apenas com a ideia de morrer pela minha família e por Kilorn. Mas eu escolhi isso, escolhi os vermelhos, e toda escolha tem suas consequências. Não reclamo, não me arrependo de nenhuma escolha.

Os sanguenovos já não são mais uma novidade e a época de inverno também não. O frio e a neve chegam agressivos, me fazendo pensar em como minha família e o resto dos vermelhos se mantém agora, provavelmente tentam sobreviver.

Mas também penso nos sanguenovos, muitos deles vieram até nós e estão sendo treinados pelo novo general que substituiu Cal. Pensar nele ainda dói, por isso prefiro evitar. Tudo o que recebe atenção, cresce. Maven por sua vez, vem transmitindo para toda Norta a chegada de cada um dos sanguenovos e lá no fundo torço para que, algum deles tenha o mesmo poder que eu. Por mais que a cerimônia de aniversário de Maven seja hoje, o mesmo me disse que teria uma surpresa para mim.

Ele acha que não sei o que tenta fazer. Sei que atrai os sanguenovos para Archeon para criar seu exército, a Guarda Escarlate jamais venceria um golpe desses. Mas vão colocar uma coroa em minha cabeça, eles precisam colocar. Ainda sonho com um mundo no qual eu governo, onde há igualdade e prosperidade.

Me sinto ansiosa e ao mesmo tempo como se fosse explodir. Há tanta coisa com que me preocupar...

─ Mare, sinto que às vezes deveria jogar um livro na sua cara.

Julian me repreende pela segunda vez e vejo que me perdi em pensamentos novamente.

─ Não vou culpá-lo se jogar, Julian. As vezes eu mesma quero jogar um livro na minha cara.─ Sorrio para o homem, que retribui e revira os olhos.

─ Já que paramos a aula novamente, tenho um presente de casamento pra você.─ Ele se vira, misterioso e mexendo em uma pilha de livros.

─ Obrigada mas sabe que não precisava, Julian. Sua presença já me basta.─ Sorrio, na tentativa de agradecer o belo gesto.

O homem, por sua vez, retira um livro com a capa em tons de roxo e sorri ao encontrá-lo. Ele respira fundo e me olha, vindo diretamente até mim e me entregando o objeto.

A capa é indiscreta e não consigo tirar meus olhos da mesma, como se os vários tons ali, fixassem a minha atenção. As letras em dourado brilham com a claridade vinda da janela.

"A história de Mare Barrow e seu reinado", diz o livro. Eu o abro, apreciando o cheiro das páginas recém feitas e da tinta expressa.

─ Há metade do livro preenchido e metade em branco. Quero que escreva seu ponto de vista, que coloque tudo nele. Um dia, futuros estudantes da história como eu, acharão este livro e diário.─ Ele diz, posso ver algumas lágrimas em seus olhos e sinto que os meus também estão marejados.

Sem pensar, me levanto e o abraço. Meus problemas parecem se esvair aos poucos, e só me preocupo em secar as lágrimas de Julian e mantê-lo vivo.

─ Coriane também recebeu um diário em seu aniversário, feito por mim. Nele escreveu tudo, todos os dias de sua vida. Mas ela o destruiu, como destruiu Coriane.─ O velho homem passa o braço por meus ombros, como se procurasse o apoio que lhe faltava há anos.

Fico sem palavras. Ninguém nunca gostou de falar da antiga rainha Coriane, a rainha cantora. Bom, pelo menos não Julian. Elara a destruiu, e só consigo pensar em quão grata sou por Cal, ele a destruiu sem pensar duas vezes.

─ Está tudo bem, Julian. Tenho certeza de que sua irmã está em um lugar melhor agora, ela se sentiria orgulhosa ao ver o homem que se tornou.─ Seco suas lágrimas e as minhas.─ Vou aproveitar muito estas páginas, provavelmente é o melhor presente que recebi.

Ele assente com a cabeça, grato pelo elogio. E mais uma vez, sinto vontade de guardar este momento em uma pequena caixa. Minha caixinha de felicidades.

Me sento novamente, ainda apreciando aquelas páginas preciosas. Enquanto folheio o livro, sinto o cheiro do papel. O melhor cheiro do mundo.

─ Acredito que será a melhor rainha que Norta já teve, Mare. Mas devo lhe avisar, o cuidado nunca deve ser pouco, provavelmente há pessoas que desejam sua queda. Você deve se levantar, nem que seja sozinha.

Os olhos aflitos de Julian me fazem acreditar em suas palavras e pela primeira vez em muito tempo, me lembro do que sou e onde estou. Concordo com a cabeça, o sorriso ainda nos lábios.

As portas da grande sala são abertas, revelando Rosie e os sentinelas, novamente prontos para me levar à algum lugar.

─ Lady Mare, é uma urgência. O rei Maven deseja vê-la no escritório.─ A expressão aflita de Rosie revela que ela não está brincando, logo me despeço de Julian e corro com os sentinelas e Rosie atrás de mim.

O medo percorre minhas veias e só consigo pensar no pior, o mesmo que pensei quando Maven batia á minha porta desesperado em uma madrugada. As Grandes Casas se rebelaram, vão travar uma guerra e fazer o máximo para tirar o trono de Maven e me destruir.

Chego à porta de seu escritório e entro sem bater, encontrando uma mulher com cabelos azuis e outro homem com cabelos totalmente brancos, sentados nas cadeiras à frente da enorme mesa de Maven.

A estatura delicada da mulher de cabelos azuis lhe dá um ar de frágil e perigosa ao mesmo tempo. Já o homem de cabelos brancos, tem a mandíbula marcada, pele acastanhada e sardas. Ambos tem uma beleza surreal, e assim que a garota percebe minha presença, parece entusiasmada. Não posso dizer o mesmo de seu acompanhante, que se mantém sério e calado mas me estuda com os olhos.

─ Queria me ver? ─ Digo, ofegante.

─ Queria lhes apresentar seus semelhantes, minha querida.─ Maven diz, me paralisando.

Ao ouvir a palavra "semelhantes" quase sinto meu corpo congelar. Minhas pernas tremem e minha respiração parece ficar mais ofegante a cada segundo. Esperei isso por tanto tempo, que quase sinto alma desgrudar do corpo.

─ Esses são Ella e Tyton, também criam e controlam a eletricidade.─ Maven se levanta, o entusiasmo de uma pessoa que acabou de achar ouro.

Não consigo acreditar nas palavras de Maven, mas quando vejo os raios de Ella, mudo de idéia rapidamente. Eles dançam em suas mãos, azuis como os fios de cabelo da criadora deles. Tyton por sua vez, se contém e apenas sorri.

Deixo meus raios de cor arroxeada dançarem em minhas mãos, assim como Ella. Ela parece ainda mais entusiasmada, e imediatamente quero a abraçar como se fosse minha irmã.

─ É um prazer, Lady Mare. Tyton e eu estamos felizes por nos receber.─ Sua voz é agradável, mais angelical impossível.

─ Eu quem agradeço a presença de vocês, não sabem o quanto desejei poder conhecer outros sanguenovos como eu.─ Digo, quase chorando de felicidade e alternando o olhar entre os dois milagres na sala.

─ Vou providenciar um bom almoço para nós, estou feliz por receber vocês.─ Maven parece absorver minha energia, pois está radiante e parece não ter vergonha de demonstrar.

Ella e Tyton concordam com a cabeça e me pergunto se Tyton é mudo, mas logo seu olhar me detém. Seus olhos vibrantes parecem querer engolir Maven, como se fosse ataca-lo em algum momento. Mas só consigo pensar que não sou a única, e logo deixo de me considerar uma aberração. Há outros como eu, provavelmente mais poderosos. Tyton e Ella são a prova disso.

Não será hoje que a minha queda acontecerá.

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