[1.106 palavras] capítulo revisado em 7 de agosto, 2020.
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Desta vez, quem me dá aulas de etiqueta é uma Haven, tipo de prateado que pode manipular a luz. Maven escolheu a mais "apagada" da família. Os prateados já não me impressionam no quesito de parecer poderosos, eles são uma hierarquia dentro de uma hierarquia.
Rosie está sentada no canto da sala, em uma mesa organizando minhas futuras obrigações como rainha. Hoje ela veste apenas um vestido simples e verde claro que vai até seus pés, as mangas longas e transparentes com detalhes florais em dourado não poderiam faltar.
─ Mantenha a postura, rígida. Uma rainha não transparece as emoções e não se deixa abalar.
Faço o que ela diz. Levo o ditado de que parecer poderoso lhe torna poderoso para meu cargo como prateada e próxima rainha. Parecer prateada, me torna prateada. Por mais que odeie a aula de etiqueta, preciso delas para me manter forte.
Céus, esta não sou eu. A Mare de verdade sentiria repulsa ao ouvir meus pensamentos agora. Mas é uma questão de sobrevivência agora, não se trata do meu ego ou orgulho. Em um jogo de poder, ou você joga ou morre.
─ O almoço com a Rainha será servido daqui meia hora. Se não se importa, Olivia.─ Rosie se levanta, deixando claro que a aula terminou.
A mulher pálida que usa um vestido preto básico, concorda com a cabeça e começa a reorganizar os livros que usamos nesta manhã.
Me levanto rápido, abrindo as enormes portas e sendo acompanhada por Rosie e os sentinelas, quando ouço a voz de Olivia:
─ Lembre-se, Mare: Uma rainha não transparece suas emoções e não se deixa abalar.
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─ Eu não vou lhe dizer que estou feliz por Maven lhe escolher, Mareena. Tenho certeza de que sabe minha opinião sobre isso. Meu plano estava muito bem arquitetado mas você, uma aberração, tinha que estragar tudo.
Elara está vestida com um simples vestido de seda azul, sua coroa tão simples quanto o vestido e a postura impecável. Ela observa o horizonte, o Terraço de Vidro facilita sua visão. Os pequenos feixes de luz coloridos dançantes, saem do dossel de vidro sustentado por colunas claras e projetadas inteligentemente. Seguro a língua para não lhe insultar, ter a sua voz falano em minha cabeça é a última coisa que quero.
─ Se me permite, Majestade. Acredito que sendo auxiliada e ensinada muito bem, posso ser uma boa rainha. Sem contar no lugar onde fui criada, sou prateada mas vermelha de criação. Que rainha melhor acalmaria uma enorme rebelião prestes a se erguer?
Ela me olha, sorrateiramente. E tento tirar qualquer coisa da minha mente para que ela possa ficar longe dela, não posso deixá-la me controlar. Se bem que ela pode estar dentro da minha cabeça neste exato momento, estou na corte tempo o suficiente para ouvir a todos os rumores. Coriane.
─ Certamente. Você terá seu primeiro teste durante esta semana. Precisarei resolver assuntos em Harbor Bay, e você ─ Ela me encara de maneira fria.─ precisará tomar conta dos assuntos aqui.
─ O que precisa ser resolvido em Harbor Bay? ─ Não consigo controlar minha língua, deixando a ousadia cutucar Elara.
Ela se levanta, ágil e com uma graciosidade que eu seria incapaz de aderir.
─ Uma rainha não deve satisfações à terceiros.
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A noite cai fria e estrelada. De modo que da sacada de meus aposentos, posso fingir que estou vendo todas as estrelas desse universo incompreensível.
Soube que Elara partiu nesta tarde, me deixando no "controle". Acredito que, Maven não se sairá muito bem sem a coleira que sua mãe controla. Mais uma chance de tentar encontrar o Maven por quem me apaixonei.
Enquanto me deito, fico pensando se o dinheiro que mandam para os meus pais ficarem quietos é suficiente. Por vezes, prefiro me distrair com outras coisas para que eu não cometa uma loucura.
Pensar na minha família me faz lembrar de Shade. Ele vem aparecendo em meus sonhos, me falando coisas, sempre na janela do meu quarto. O problema é que parece tão real, que chega a me decepcionar e o único conforto que tenho, é saber que ele ao menos está longe do perigo, e longe desse jogo estúpido de poder.
Logo estou caída em um sono profundo, esquecendo preocupações e degustando do conforto que tanto desejei durante anos da minha vida.
Até ouvir a voz dela.
Mare, me admira como pode ser tão usada facilmente e tenham lhe ensinado muito bem a ser insensível.
É a primeira vez que a escuto em meus sonhos. Me vejo presa em uma cela com grades prateadas, uma escuridão imensa e a voz dela em todos os cantos.
Deixou seu irmão morrer. Deixou o agente quebrar a mão de sua irmã e agora está aqui, desfrutando do conforto enquanto eles sofrem.
A voz de Elara me rasga por dentro. Uma dor insuportável invade meu cérebro e, simplesmente não consigo acordar. É como se ela definisse quando o terror pararia, e não estava disposta a parar.
Beijou Cal enquanto estava prometida à Maven. Ganhou todo o conforto deste mundo prateado e ainda assim, teve a audácia de nos desafiar. Fez parte da traição à coroa, viu Cal matar o próprio pai e apenas concordou para ser rainha.
Suas palavras tem uma força subliminar sobre mim, e me vejo caindo e sufocando cada vez mais.
Você julga prateados por desejarem o poder. Isto não lhe é familiar?
E de repente estou de volta à cela do Ossário, quando Maven me salvou por escolhê-lo, ao invés de Cal e a Guarda.
Você é cruel mesmo com sua família, e ainda se acha no direito de julgar prateados ao seu redor?
Minha vida começa a ser repassada de trás para frente. A volta de meu pai da guerra, o dia em que quebrei um braço por causa do desafio de Kilorn, a ida dos meus irmãos para a guerra, meus pais decepcionados com meus roubos frequentes, Kilorn me contando sobre seu mestre, a mão de Gisa...
Levanto em um pulo, finalmente me libertando da voz dolorosa de Elara. Preciso ir até a pessoa capaz de fazer eu me sentir segura. A pessoa que conhece o poder de Elara como ninguém, e que saberá me confortar melhor do que todos neste lugar. Ele saberá o que fazer.
Me levanto no meio da noite, correndo até a porta do quarto e disparando a atenção dos sentinelas. Sem pensar, peço que me levem ao quarto dele. Os sentinelas me levam sem pestanejar, sabem que quando uma ordem é minha e se trata dele, ela deve ser cumprida. Sem pestanejar, eles me levam ao quarto de Maven.
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Kingdom of Storm
FanficMare Molly Barrow se via diante de duas opções: Se tornar uma rainha controlada por um rei cruel, cuja mente não se pode confiar e é traiçoeiro como a víbora da mãe. Ou ela poderia escolher o caminho da Guarda, onde certamente não teria voz alguma e...