5. c'est comme voler

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Finalmente suas mãos voltaram para o meu corpo e posso deixar que ela me toque como na noite passada. Respiro fundo para inalar seu cheiro característico, maravilhoso e singular. Beijo seus ombros nus e sei que ela gosta quando aperta um pouco mais a minha cintura.

Seus olhos castanhos estão encarando meu rosto, os cachos jogados e volumosos por conta da noite agitada, a pele quente e macia...

- Sei que você queria terminar, mas vai ter que ficar para mais tarde. Hora de acordar. - dá uma piscadela e sai de cima de mim.

O barulho ensurdecedor do meu alarme faz com que meus sonhos sejam despertos de forma rude. Joe começa a latir em protesto e sei que ele está mais frustrado que eu.

Arrasto meus pés para fora da cama e vejo as coisas como deixei na noite passada, sinal claro de que Henry mal dormiu e já saiu novamente.

E infelizmente eu agradeço por isso.

Não houve um jantar de comemoração. Mais tarde naquela noite, Henry chegou e me procurou no quarto. Me deu um novo colar caro e um vestido novo. Senti vontade de jogar tudo pelo ralo.

Ele não me procura mais faz semanas.

Não é diferente de mim.

Sei que isso não dá mais certo e sei o quanto estou desconfortável vivendo nessa relação.
Acredito que ele também. Henry não se desculpou por esquecer do nosso aniversário, mas eu sei que ele esqueceu e sua secretária ligou avisando que era o nosso dia.

Também sei que Henry não precisa estar comigo, mas ele está. Por mim.

Sei que não me vê mais como uma mulher desejável e por algum motivo sinto alívio por isso.

Depois de muito tempo reprimindo esses pensamentos, me conformei de que Henry sempre foi dessa forma. Sempre esquecia nossos aniversários, sempre estava fora e sempre priorizou qualquer coisa que não fosse o nosso casamento.

E isto se tornou confortável com o passar do tempo. Sem cobrança, sem problemas eminentes e acima de tudo sem pessoas ao nosso redor.

Acostumei a estar sozinha esse tempo todo, acostumei a fingir estar contente todos os dias por ele. Pois sabia que se não fosse ele, não seria ninguém.

Porém, agora está sendo equivalente ter Henry ou não.

Não é como se ele se importasse com isso.

E não é como se ele percebesse que eu também parei de me importar com isso.

Por que isso aconteceu? Não faço ideia.

Mas sei onde isso pode chegar. E talvez ele não saiba.

Tenho feito bastante dinheiro e isso me satisfaz. Não fico à vontade de compartilhar as coisas com Henry e confesso que me assusto como se um desconhecido estivesse na minha casa quando vejo o próprio em pé na minha cozinha, servindo a mesa de café da manhã.

- Bom dia! - ele fala animado.

- Bom dia. - fico encarando Henry por algum tempo, até ter certeza de que não estou sonhando.

- O que foi? Você está me olhando estranho. - ele está cortando algumas frutas.

Pelo que vejo são mangas e pêssegos.

- Você está fazendo uma salada de frutas?

- Sim, para você. - ele sorri.

No peito desnudo de meu esposo nascem alguns pelos e chego à conclusão que aquilo é bonito.

02:09 Onde histórias criam vida. Descubra agora