Finalmente suas mãos voltaram para o meu corpo e posso deixar que ela me toque como na noite passada. Respiro fundo para inalar seu cheiro característico, maravilhoso e singular. Beijo seus ombros nus e sei que ela gosta quando aperta um pouco mais a minha cintura.
Seus olhos castanhos estão encarando meu rosto, os cachos jogados e volumosos por conta da noite agitada, a pele quente e macia...
- Sei que você queria terminar, mas vai ter que ficar para mais tarde. Hora de acordar. - dá uma piscadela e sai de cima de mim.
O barulho ensurdecedor do meu alarme faz com que meus sonhos sejam despertos de forma rude. Joe começa a latir em protesto e sei que ele está mais frustrado que eu.
Arrasto meus pés para fora da cama e vejo as coisas como deixei na noite passada, sinal claro de que Henry mal dormiu e já saiu novamente.
E infelizmente eu agradeço por isso.
Não houve um jantar de comemoração. Mais tarde naquela noite, Henry chegou e me procurou no quarto. Me deu um novo colar caro e um vestido novo. Senti vontade de jogar tudo pelo ralo.
Ele não me procura mais faz semanas.
Não é diferente de mim.
Sei que isso não dá mais certo e sei o quanto estou desconfortável vivendo nessa relação.
Acredito que ele também. Henry não se desculpou por esquecer do nosso aniversário, mas eu sei que ele esqueceu e sua secretária ligou avisando que era o nosso dia.Também sei que Henry não precisa estar comigo, mas ele está. Por mim.
Sei que não me vê mais como uma mulher desejável e por algum motivo sinto alívio por isso.
Depois de muito tempo reprimindo esses pensamentos, me conformei de que Henry sempre foi dessa forma. Sempre esquecia nossos aniversários, sempre estava fora e sempre priorizou qualquer coisa que não fosse o nosso casamento.
E isto se tornou confortável com o passar do tempo. Sem cobrança, sem problemas eminentes e acima de tudo sem pessoas ao nosso redor.
Acostumei a estar sozinha esse tempo todo, acostumei a fingir estar contente todos os dias por ele. Pois sabia que se não fosse ele, não seria ninguém.
Porém, agora está sendo equivalente ter Henry ou não.
Não é como se ele se importasse com isso.
E não é como se ele percebesse que eu também parei de me importar com isso.
Por que isso aconteceu? Não faço ideia.
Mas sei onde isso pode chegar. E talvez ele não saiba.
Tenho feito bastante dinheiro e isso me satisfaz. Não fico à vontade de compartilhar as coisas com Henry e confesso que me assusto como se um desconhecido estivesse na minha casa quando vejo o próprio em pé na minha cozinha, servindo a mesa de café da manhã.
- Bom dia! - ele fala animado.
- Bom dia. - fico encarando Henry por algum tempo, até ter certeza de que não estou sonhando.
- O que foi? Você está me olhando estranho. - ele está cortando algumas frutas.
Pelo que vejo são mangas e pêssegos.
- Você está fazendo uma salada de frutas?
- Sim, para você. - ele sorri.
No peito desnudo de meu esposo nascem alguns pelos e chego à conclusão que aquilo é bonito.
VOCÊ ESTÁ LENDO
02:09
Romance"Confiro mais uma vez o jantar pronto e servido sobre a mesa. A superfície de vidro embaçado pelo calor emitido por algumas travessas. Encaro o relógio prometendo pela sétima vez que é a última que o encaro. Já se passa das duas e ele ainda não cheg...