A volta para casa foi mais estressante do que pensei. San Borat não é tão longe de Townville, mas o caminho é longo se comparado ao trajeto que faço todos os dias para ir para o trabalho, por exemplo.
Dias de domingo em minha cidade não servem para pessoas sem filhos ou casadas. Ou você é solteiro ou você já tem uma família formada para sair. No meu caso, não tenho nenhum dos dois.
Henry nem pisou em casa e já saiu para "resolver algumas coisas". Joe e eu estamos assistindo pela vigésima sétima vez "A culpa é das Estrelas" pensando na possibilidade de assistir uma vigésima oitava. E antes de morar com Henry, morava em uma república na cidade de Rospille, onde ficava minha faculdade. Dividia o apartamento com mais duas meninas: Hilary e Estefania. Hilary era minha conterrânea e Estefania uma intercambista russa muito educada e severa.
As vezes ela lembrava a minha mãe.
Dividir o apartamento com as meninas me mostrou que as vezes mesmo rodeado de pessoas, você pode estar sozinho. E é como me sinto casada com Henry. Não posso dizer que não o amo ou que realmente é ruim tê-lo ao meu lado, mas me sinto completamente sozinha.
Julie não atende o celular e sei que provavelmente ela deve estar pedalando ou estudando algum caso. Ela se formou em Química há um ano atrás. Faz dois que me formei e um ano após minha formatura meus pais estavam voltando para Rospille afim de formar minha irmã também. Preciso dizer que ter me formado antes proporcionaram alguns privilégios para minha irmã.
Seu grande sonho era se tornar perita criminal. Uma carreira arriscada e muito delicada também. Quando fui projetar a nova ala pediátrica do Hospital Anthony Capitan, vi o anúncio do concurso para médico legista. Ela passou em segundo lugar na prova concorrendo à uma vaga. Mas fui mais rápida e bajulei completamente o diretor do hospital que abriu mais uma vaga e colocou minha irmã como estagiária e logo após médica legista.
Devo admitir que fui suja o suficiente para fazer isso. Mas faria por qualquer pessoa.
A campainha toca e Joe late em resposta, como se dissesse para quem estivesse do lado de fora "cai fora?!".
Henry tem a chave de casa, Julie sequer respondeu minhas mensagens e Gio está na casa de Beck desde sexta-feira. As únicas pessoas prováveis de aparecer aqui em um domingo à noite.
Destranco a porta dando de cara com Thomas.
- Ahn... Oi?
- Oi. - Joe late para o rapaz de moletom, chinelos, uma camiseta e a toalha no ombro. - Esse é o vizinho que Julie tanto fala, Joe.
- Olá para você também, Joe. - ele sorri.
- Está tudo bem? Você parece meio nervoso.
- Na verdade, o meu chuveiro está destruído. Sério, a ducha sequer funciona. - ele gesticula.
- Você quer tomar um banho?
- Seria pedir muito? É que tenho um show daqui a pouco e esquentar a água daria um trabalhão. - não aguento e começo a rir do seu nervosismo.
- Entra aí! - abro mais a porta dando passagem para Thomas que olha em volta. - Se o chuveiro for dos antigos donos, deve ter uns quarenta anos.
Faço Thomas gargalhar.
- Meu Deus, seu apartamento é realmente incrível.
Não posso negar que amo quando as pessoas elogiam meu apartamento. Eu quem planejei e criei todo o design. É fato que vai demorar um tempinho até conseguir pagar tudo, mas valeu cada centavo.
- Obrigada. Foi eu que desenhei tudo.
- Sério?! Você é tipo uma irmã à obra?
Thomas é um cara legal e muito engraçado.
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02:09
Romance"Confiro mais uma vez o jantar pronto e servido sobre a mesa. A superfície de vidro embaçado pelo calor emitido por algumas travessas. Encaro o relógio prometendo pela sétima vez que é a última que o encaro. Já se passa das duas e ele ainda não cheg...