23. j'irai toujours

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As luzes florescentes incomodavam a minha visão sem os óculos de grau. Os corredores eram amplos e naquele dia em especial não estavam tão movimentados. Eu e o resto da minha família estávamos na sala de espera enquanto Aimée continuava no quarto com dois policiais que recolhiam o seu depoimento. Fazia apenas algumas horas que chegamos e muita coisa já havia acontecido. A TV ligada no espaço me chamou atenção para a chamada da reportagem de um helicóptero sobrevoando a propriedade dos Graham enquanto diversos carros da imprensa e polícia estavam estacionados do lado de fora. Um grande aglomerado de pessoas se reuniu do lado de fora para assistir William Graham sair algemado da sua casa. O cabelo grisalho desgrenhado, a barba por fazer e a gravata azul frouxa em volta do seu pescoço. Não vi nitidamente quem estava em volta dele na porta da casa pela filmagem ser do alto, mas torci para Alex não ser levada junto.

- Toma, tem que comer alguma coisa. - Gio traz um café em uma das mãos e na outra um bolinho que provavelmente encontrou na cantina do San Borat Hospital, que era um dos maiores de todo o estado.

- Verdade, Claire. Não come nada direito faz dois dias. Precisa comer. - Julie senta do meu lado, afagando minhas costas quando se dá conta do que estava passando na TV. - É o William?

- Sim. - uma lágrima solitária escapa dos meus olhos e faço questão de secá-la antes que Julie e Gio voltem a me olhar.

- Meu Deus... - Julie é a primeira a falar.

- Estava na hora da justiça ser feita, Claire. - Gio beberica um pouco o café que trouxe para mim.

- Como eu deixei essas coisas passarem por tanto tempo? Simplesmente ignorei tudo isso. A quantidade de pessoas que se prejudicaram e até morreram por conta da irresponsabilidade deles... isso está acabando comigo. Como nunca me liguei nisso? Em ver com outros olhos toda aquela agressividade do Henry ou a perspicácia do Mark? - não conseguia mais controlar as lágrimas e agradeci quando percebi que estávamos sozinhas. - Eles tiveram filhos e esses filhos irão crescer sem o pai? Não é justo com elas, não é.

- Não pode se culpar por isso, irmã. Não é sua culpa nada do que aconteceu. As coisas aconteceram como precisaram acontecer e nós estamos aqui agora, Aimée está bem e Thomas não consegue sair nem um segundo do lado dela desde que chegou aqui. - Julie esboça um sorriso. - Sei que é difícil entender que isso não é sua responsabilidade, mas...

- Mas você é a única que não tem culpa, Claire. - Gio completa. - Uma vítima de um relacionamento abusivo jamais irá culpar o seu agressor porque ele faz com que você se sinta ao contrário. E mesmo depois de sete meses, Henry ainda ecoa na sua cabeça culpando a você por ser provedora de todas essas coisas ruins. O que não é verdade, Claire! Não é!

- Acho que precisa cuidar disso aqui, - Julie acaricia a minha cabeça. - antes de continuar, está bem? Seria bom você entender primeiro o que está acontecendo aí dentro e então seguir em frente. Não precisa de qualquer receio. Você irá mexer nessas feridas uma última vez para que elas nunca mais sejam abertas. - me conforta em seu peito enquanto Gio me abraça do outro lado.

- Amo tanto vocês que nem sei o que faria se não estivessem aqui.

- Onde eu queria estar era na parte dos bandidos e polícia. Aquilo sim deve ter sido emocionante. - Gio corta o momento tenso que estávamos tendo com suas piadas.

- Emocionante? Foi horrível, não gosto nem de lembrar.

- Sortez du chemin! Où est ma fille? Je veux voir ma fille! Aimée!

(Saiam do caminho! Onde está a minha filha? Quero ver a minha filha! Aimée!)

A confusão estava sendo instalada no hospital e vejo o homem alto com Adrien em suas costas, dois médicos, quatro enfermeiras e um segurança também estavam atrás.

02:09 Onde histórias criam vida. Descubra agora