From Hell To Heaven - part 2

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Os espiões entraram juntos no andar principal da Torre quando já passava da meia-noite, uma vez que haviam ficado no apartamento de Natasha até passar a tempestade – tempo suficiente para decidirem encerrar os assuntos tratados ali, em prol de conseguirem dormir à noite para ter a mente mais clara no dia seguinte. O arqueiro tinha o braço passado em torno dos ombros da assassina, que tinha o seu em torno da cintura dele – gestos de afeição que tinham apenas entre si - até o momento em que a porta do elevador se abriu. Ainda preocupado com Natasha, Clint perguntou:

- Nat, tem certeza de que você está bem?

- Barton, até parece que não me conhece. – Ela inclinou a cabeça com aquele olhar acompanhado de um leve sorriso torto. – Eu sempre fico bem. – A russa tirou o casaco e ia pendurá-lo no cabideiro da entrada, quando viu Steve descendo as escadas. Voltando-se para o espião, falou em tom baixo – Clint, nos vemos depois. Eu preciso... Conversar com Steve.

Apenas trocando um olhar, o arqueiro anuiu e lançou um breve olhar para Steve, alertando-o sem palavras para se lembrar bem do que haviam conversado. Logo em seguida, deu um tapa de leve nas costas da mulher e falou baixinho:

- Se precisar de qualquer coisa, é só me chamar. – ele quase completou com "especialmente se for para esconder o cadáver do Rogers", mas segurou a piada para hora mais propícia.

- Eu sei. Vá para o ninho, Gavião. – Ela forçou um sorriso encorajador para o amigo, que retribuiu e subiu para o próprio apartamento.

Sozinha com Steve, a soviética evitou olhar para o companheiro e foi até o balcão do bar, servindo-se de uma dose de uísque. Amaldiçoava a si mesma por ter se deixado envolver tanto com o americano, pois só agora, sabendo que provavelmente estaria tudo terminado entre ambos, percebia o quanto a separação doeria. Estúpida, Natalia! Estúpida! Nisso resultava a paixão, já não havia aprendido desde cedo?

- Se veio para terminar nosso relacionamento, Steve, considere feito. Não quero estender essa conversa. – Declarou, bebendo o shot de uma vez e se servindo novamente. Como queria ser capaz de se embebedar...

- Para uma espiã do seu calibre, essa não foi uma boa leitura. – Respondeu o soldado, aproximando-se da mulher. – Então olhe para mim, Nat, e tente de novo.

A voz dele soava tão doce e gentil... Natasha sabia que o envolvimento emocional prejudicava o julgamento, mas não seria capaz de errar em algo tão óbvio. Com um suspiro profundo, voltou-se para o homem, que a fitava com carinho e, após um breve segundo de hesitação, levou a mão a seu rosto devagar, a fim de evitar que ela reagisse com um afastamento.

- Estava preocupado com você; procurei-a o dia todo, agente. – A mão esquerda rodeou a cintura de uma perplexa Natasha, puxando-a para si num abraço, antes de se afastar o suficiente para fitar seu rosto. Ela estava no controle, novamente, mas não saía de sua mente tudo o que vira, e sabia que tudo o Natasha estava fazendo era se cercar de uma armadura emocional, envergonhada de si mesma. – Como você está?

- Steve... Você está louco? – Ela não compreendia... Como podia ser?! – já se esqueceu do que eu sou?

Ele respirou fundo e se sentou, servindo-se também de uísque; estava sério, mas de um modo sereno, e a espiã só podia deduzir que ele conversara com Barton a respeito, para ter lidado com o choque visto por ela em seu rosto, quando o expulsara da sala na noite anterior.

- Não vou mentir, Nat: foi um pouco chocante. – Ele suspirou, pousando a mão sobre a dela. – Mas você nunca mentiu sobre o que foi, e o que faz. E deu certo: a cientista abriu a boca sobre tudo e mais um pouco. Eu não conseguiria fazer isso, Barton e Grey talvez não fariam, mas você consegue, e usou para um objetivo legítimo: salvar aquelas crianças e achar o Cetro. Evitar muito mais mortes. – Steve franziu o cenho, cada vez mais preocupado com Natasha; aquela missão a estava consumindo em culpa, fazendo-a se sentir responsável por não haver percebido tudo o que ocorria anos atrás, e mais ainda por se deixar dominar pela raiva fria e cruel que a sensação despertava. Odiava a si mesma por manter aquela parte de si, a qual considerava hedionda, mas da qual não podia se livrar... Não gostava de agir como costumava fazer em sua época de agente da KGB, tentando se livrar de todo aquele passado... Mas como Natalia podia não perceber como essas coisas o faziam sentir sobre ela? A admiração, o cuidado, respeito... Amor?! Ela podia ser o mais luminoso dos anjos, ou o mais terrível dos demônios, e precisava ser capaz de ir de um extremo a outro para se manter viva. O que ele via, para além de tudo isso, era uma sobrevivente que tentava se eximir das antigas culpas fazendo a coisa certa, mesmo que seus métodos pudessem ser por vezes iníquos. Uma mulher que não fora quebrada, por mais que houvesse sido golpeada, e ele enxergava beleza em meio a tantas cicatrizes, assim como a luz em meio às trevas. – Era o único jeito.

A Aranha na TeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora