E cá estou eu, atualizando mais um capítulo!!!!! Sei que judiei de vocês, especialmente de quem ama Romanogers, mas aqui vai um capítulo para vocês se deleitarem!!!!!
Beijos enormes!!! E boa leitura!!
Natasha não conseguiu evitar o leve tremor dos dedos ao colocar a agulha no disco; vinis poderiam ser antiquados, mas o som era infinitamente mais agradável do que a música tocada em aparelhos eletrônicos; embora evitasse gastos supérfluos, ela se permitira esse luxo, pois música era uma das poucas coisas das quais realmente sentia falta. Lago dos Cisnes. Ah, tão clichê uma mulher russa adorar Tchaikovsky! Mas o que dizer em sua defesa, senão que era um dos mais delicados e plenos ballets, em sua opinião? Giselle, Orfeu e Eurídice, La Silphyde e Bela Adormecida figuravam entre outros de seus favoritos, mas não era pela musicalidade que ela tinha Lago dos Cisnes como seu favorito: assim como Odete, via-se presa em uma vida dupla. A mulher que mostrava aos outros e a pessoa que realmente era, tão escondida que às vezes se esquecia de existir. O "cisne" exibido a todos tomava conta de seu ser até que quase se esquecesse de haver um lado humano, exibido apenas na escuridão, na solidão. Poucos sabiam existir esse lado, e ela definitivamente temia que, como o príncipe, essas pessoas a traíssem ou abandonassem, ou simplesmentefossem arrancadas dela. Mas esses pensamentos jamais sairiam de sua boca. Eram apenas seus, e assim permaneceriam para sempre.
Indo para o centro da sala de treinamento – vazia a essa hora da madrugada – a russa encarou a própria imagem no espelho: os cabelos ruivos em coque, collant de alças preto, legging de mesma cor, sapatilhas de tecido bege. Erguer-se nas pontas trouxe a familiar e bem-vinda dor do gesso esfolando a carne, mesmo que esta já estivesse calejada por tantos anos de prática; através dos calos, a dor era amortecida. As feridas demoravam mais para sangrar, e às vezes nem o faziam, a sensação menos agonizante através das camadas de pele grossa, mas nem por isso menos real, ou menos balsâmica... Todo o corpo da mulher fora calejado por 90 anos de ferimentos, tortura, combates. Seus ossos haviam se partido vezes o bastante para serem quase impossíveis de quebrar, os músculos endurecidos por inflamação atrás de inflamação causada por exercício intenso, a ponto de resistirem mais do que seria humanamente possível para qualquer um que não houvesse vivido tanto. E como diziam... O tempo cura tudo. Mas Natasha tinha algo a dizer sobre isso: o tempo apenas ensinava a não se importar com as cicatrizes. A maior parte do tempo.
Pois a verdade é que amava as dores físicas, de certa forma, simplesmente porque essas um dia passavam. Mais além, entorpeciam-na momentaneamente a dores mais profundas que se obrigara a enterrar fundo o bastante em sua mente para que não a atormentassem na maior parte dos dias; mas coisas enterradas ou naufragadas não ficam assim para sempre: tempestades as trazem de volta à tona, às vezes em tremores de terra – momentos em que sua carne e seus ossos chacoalhavam com um frio não físico, fosse de modo imperceptível, como agora, ou em abalos intensos, quando sabia que não havia a chance de ser vista ou ouvida por pessoa alguma – outras em inundações – lágrimas que ninguém jamais veria, além de seu reflexo na água da banheira, perturbado por gota após gota que atingia a superfície. Mas ela se orgulhava em contabilizar esses momentos como extremamente raros, e seu autocontrole não a desapontava. Quando muito, extravasava o fogo que lhe queimava a alma nos explosivos movimentos do treinamento, ou do combate verdadeiro; mas quando o que a afligia vinha como uma dor afiada como cacos de vidro — como agora — então ela se refugiava na música, onde podia traduzir em movimentos tudo aquilo que jamais confessaria, e tudo podia extravasar, transbordar, conferindo um tom de sentimento que aos espectadores pareceria teatral, uma bela interpretação emotiva, enquanto a espiã purgava os venenos de sua mente e alma. E se todo o resto a aliviava, a dança e a música realmente a tratavam, enchendo-a de força para encarar cada um dos dias de sua longa vida. Talvez longa demais para um ser humano comum, e certamente longa demais para alguém com tantos crimes. Só na dança conseguia libertar tudo o que simplesmente não conseguia verbalizar. Só na dança encontrava paz e o esvaziamento da mente, o apagamento das culpas pelo qual ansiava como um afogado anseia por ar.

VOCÊ ESTÁ LENDO
A Aranha na Teia
FanficNatasha Romanoff sempre fez jus ao codinome Viúva Negra; suas mentiras e disfarces eram tecidos com a mais perfeita maestria, enredando as vítimas como a suave e invisível teia de uma aranha. Ela sempre dominou suas farsas, sempre conheceu bem a pró...