Natasha saiu do carro com passos visivelmente cansados: passado todo aquele inferno, as consequências das pressões e feridas psicológicas causadas pela missão se faziam notar. Ainda assim, ela se mantinha firme ao caminhar para a casa ao lado de Clint; felizmente as crianças já estavam dormindo, e não veriam a madrinha lavada em sangue e restos de vísceras, ou a menininha assustada que mal se atrevera a falar por todo o caminho até ali. Laura, porém, estava na varanda após receber a ligação de Clint, e foi direto até a amiga:
_ Meu Deus, Nat… - Obviamente a russa sabia o quão mal parecia, então a outra apenas procurou apoiá-la - Você está em casa. - E encarando a ruivinha, deu seu sorriso mais gentil. - Vocês duas estão, pequenina. Vamos cuidar de você, também. – A garotinha apenas assentiu, seus olhos incrivelmente azuis muito arregalados, curiosos e cheios de receio.
_ Obrigada, Laura. - O cheiro de ferro em suas próprias roupas era um constante lembrete de que sua prioridade era remover toda aquela sujeira de Lucy e de si mesma. - Precisamos de um banho, primeiro. Depois eu explico tudo.
_ Vou pegar um pijama de Lila para a mocinha. Vai servir bem. Vocês precisam de um banho, comida, descanso, e amanhã pode explicar o que for. Suba direto, já arrumei seu quarto.
Antigamente a casa dos Barton tivera dois quartos de hóspedes; agora, um deles era reservado apenas para Natasha, considerada por cada um deles como um membro da família, tanto quanto o casal ou as crianças. Era o único lugar que Romanoff já chamara de lar; seu refúgio seguro quando precisava ficar fora da zona de combate. Com um sorriso grato, a espiã subiu para seu quarto e pegou roupas para si, e duas toalhas, seguindo então para o banheiro. Lucy provavelmente já se banhava sozinha, mas certamente não naquele estado de choque e medo… Com cuidado, a russa colocou a menina em pé no chão e se abaixou para lhe falar:
_ Estamos seguras, agora, malenkaya. Estamos em casa. - Apesar do silêncio, o tremor da garotinha passara, e ela assentiu timidamente, concordando. - Vamos tomar um banho, tirar essas roupas sujas e colocar alguma coisa confortável, está bem?
Mais uma vez, Lucy assentiu, mas agora começou a soltar timidamente os cordões da camisola hospitalar; Natasha deixou que o fizesse sozinha, mas ajudou a tirar o tecido colado na pele, testando terreno para saber como deveria lidar com sua protegida. Ligou o chuveiro e regulou a água, deixando Lucy entrar e começar a se molhar enquanto tirava a própria roupa ensanguentada, para então se ajoelhar do lado de fora do box.
_ Venha cá, Lucy. Deixe-me tirar esse sangue todo de você. - Com o mesmo cuidado que tinha ao dar banho em Lila, lavou bem os cabelos vermelhos da garotinha, até que todo o sangue houvesse sido removido, e então a ajudou com o que se grudara à pele. Aos poucos Lucy relaxava ao contato de mãos que não a machucavam, até estender as mãozinhas para os cabelos de Natasha, molhando-os, e sua voz soar na mente da mulher:
"Você também precisa se limpar."
Romanoff deu um leve sorriso e entrou no box grande com a… Filha. E mesmo com todo o estranhamento da situação de duas pessoas que haviam aprendido a ser sozinhas tentando lidar com um vínculo novo, algo ali parecia a caminho de estabelecer uma via de contato. Lucy passou o xampu pelo cabelo ora negro de Natasha, maravilhando-se quando a tinta escura começou a sair para revelar o tom vermelho brilhante, igual ao seu, e isso a fez sorrir.
"Você é como eu."
"Em muitas coisas, pequena. Mas você é uma versão muito melhor." Respondeu a agente, enquanto os últimos resquícios de tinta, sujeira e sangue escorriam pelo ralo. Envolvendo-se na toalha maior, cuidou de secar a criança, primeiro, e pegar o pijama que Laura deixara do lado de fora da porta - lilás, com um gatinho azul na camiseta de alcinhas. Lucy se vestiu por conta própria, não sem se maravilhar com o tecido, a cor, a sensação dele no corpo… Mesmo sem perceber, um pequeno sorriso brotou de seus lábios, tímido e receoso, mas ainda assim um sorriso.
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A Aranha na Teia
FanfictionNatasha Romanoff sempre fez jus ao codinome Viúva Negra; suas mentiras e disfarces eram tecidos com a mais perfeita maestria, enredando as vítimas como a suave e invisível teia de uma aranha. Ela sempre dominou suas farsas, sempre conheceu bem a pró...