Corações Errados

Capítulo Sete

Musica: Uncover - Zara Larsson

Foto da roupa de Alicia, tirando o colar pavoroso kk

***

ALICIA

Estou tendo uma dificuldade absurda para fechar minha mala, talvez eu não devesse levar tanta roupa assim, ou talvez eu devesse comprar uma mala maior. Assim que consigo fechar a mala, meu celular toca. É Eduardo avisando que já está me esperando. Evelyn está tão chateada comigo que não quis nem me levar ao aeroporto e tive que recorrer a Eduardo. Ele, como um bom amigo, aceitou na mesma hora.

No aeroporto e voo tudo corre normalmente. Chego no Rio assolada pelo calor e vou para um hotel de frente para a praia. Ao me instalar no quarto eu vou até a varanda aproveitar olhar a paisagem enquanto ainda tenho um tempinho. Queria ter toda essa paz em São Paulo, estando aqui é como se meus problemas não existissem.

Volto para o quarto e escolho um vestido preto, próximo ao corpo e que destaca meus seios fartos de uma maneira discreta. Deixo meus cabelos soltos e coloco um salto mais confortável, afinal o dia vai ser longo.

Pego um táxi até o Centro de Convenções Barra Life, onde será ministrado o curso. Entro e fico parada na recepção, tentando encontrar um lugar bom para me sentar. E impossível não notar os olhares em minha direção enquanto vou até o lugar que escolhi. Não posso negar que gosto de ser o centro das atenções, apesar de nunca ter tido esforço algum para isso acontecer.

- Esse lugar está ocupado? - conheço essa voz.

Levanto o olhar e me deparo com os olhos azuis de Leon me encarando de volta. Não sei o que ele faz aqui, mas ele está muito bem arrumado. Com um terno risca de giz e um perfume amadeirado embriagantemente delicioso. Passo para o outro banco e deixo ele sentar-se ao meu lado. Eu não esperava que ele viesse no curso. Mas óbvio que eu não diria nada à ele.

- Achei que não chegaria a tempo - ele me olha de cima a baixo, me fazendo corar - Está muito bonita senhorita Cardoso.

- Obrigada, você também não está nada mal - ele sorri.

Assim que ele abre o sorriso o curso começa, e com o passar do mesmo eu agradeço mentalmente por Leon ter me convencido a vir. O dia foi perfeito, o curso muito proveitoso e eu acho que estava precisando de algo diferente na minha rotina. Apesar de até isso ser relacionado ao meu trabalho.

Quando a palestra terminou eu eu fui sair do auditório  o fecho da minha sandália resolveu soltar.

- Pode ir, eu já te alcanço - falo para Leon.

Me abaixo para arrumar o fecho enquanto todos saem da sala. Após arrumar a sandália eu marcho até a sala onde está sendo servido o coquetel e assim que apareço na sala todos se calam e olham para mim. Exceto uma mulher loira que está em uma rodinha de pessoas em um canto.

- Vocês não acham que deveriam tê-la avisado que é um curso sobre empreendedorismo e não prostíbulos? - disse e riu da sua própria  piada.

Os amigos dela riram também, até perceberem que eu estava presente e encarando-os. A mulher loira também se vira e me encara de uma forma que faz parecer que estava satisfeita por eu ter ouvido seu comentário. 

Mil e uma coisas passam por minha mente, das quais 998 são formas de quebrar a cara dessa mulher. Porém, junto todo meu orgulho e saio sem dizer uma só palavra.

LEON

Após receber uma ligação de última hora da organização do evento, faço as malas às pressas e pego o primeiro voo para o Rio de Janeiro. Ana Beatriz não gostou nada da ideia, pois tínhamos o jantar de aniversário de nosso padrinho de casamento. Queria que ela entendesse mais que a fábrica é a coisa pela qual meu pai lutou a vida toda, e eu não vou deixar o seu legado ser jogado as traças.

Só tive tempo de jogar minhas malas no hotel e ir até o centro de eventos, onde está sendo ministrado o curso. Ao adentrar o auditório avisto a cabeleira dourada de Alicia e me aproximo. Quando ela me encara eu percebo que estou completamente perdido. Cada maldito detalhe do corpo dessa mulher parece gritar "sexo".

Me sento ao seu lado e aproveito o curso, com certa dificuldade devo admitir. O cheiro doce que emana dela, não sei se de seu cabelo ou pele me distraiu boa parte do tempo, mas não mais que o homem ao seu lado se distraiu em seu decote. Alicia não deu demonstração alguma de que percebeu os olhares indiscretos dele. O que me faz questionar se ela faz a mínima noção do efeito que causa a sua volta.

Quando o curso acaba todos somos convidados para um coquetel, Alicia fica para trás, pois teve algum incidente com a sandália. Entro na sala e começo a conversar com alguns conhecidos, quando percebo que Olivia Waltersdolf, presidente de uma rede de shoppings, está falando com deboche de Alicia, aliás todos parecem ter percebido.

Quando Alicia aparece todos se calam, menos Olivia. Por um instante achei que Alicia fosse desmoronar, mas ela apenas respira profundamente e se retira. Peço licença e vou atrás dela, porém quando chego ao hall de entrada ela não está mais.

- Com licença, você viu uma moça loira de vestido preto? - pergunto para um funcionário.

- Sem senhor, ela foi andando por ali - ele aponta a direção.

Na rua eu não a vejo. Então volto e pego o carro que aluguei, indo na direção indicada pelo funcionário. Assim que o carro sai da garagem uma chuva forte começa a cair. Acelero o veículo. Ao longe vejo alguém que pode ser ela e aproximo o carro do acostamento devagar  e abro o vidro.

- Alicia entra no carro.

Vejo Alicia tremer antes de perceber quem sou. Ela me encara com um misto de confusão em seus olhos. Ela está abraçando seu corpo com os braços e sei que é numa tentativa vã de aquecê-lo.

- Entra no carro - repito.

- Não! - responde com veemência. - Consigo chegar ao meu hotel sozinha.

- Não duvido disso. O que eu duvido é que chegue sem uma hipotermia ou viva, pois não estamos mais em São Paulo, caso tenha esquecido.

Relutantemente ela descruza os braços e entra no carro. Ligo o ar quente e pergunto o endereço de seu hotel. Seguimos o caminho todo em silencio, deixando apenas uma música qualquer tomar conta do espaço. Estaciono o carro na garagem do hotel e sei o que passa na cabeça de Alicia, ela só quer subir e esquecer o que houve. Mas não vai ser tão fácil.

- Olha, Olivia sempre foi uma mulher amargurada, o problema não é com você - ela dá uma pequena gargalhada.

- Não precisa fazer isso Leon, é sério. Já estou mais acostumada com julgamentos do que você imagina.

- Mas não deveria - rebato e ela me encara. - Você é uma mulher linda, autêntica, competente e apesar de um pouco arrogante você incomoda as pessoas, por isso te julgam, porque querem ser como você e não podem.

Ela morde o lábio inferior e em seus olhos vejo algo que não consigo decifrar. Deus como seria fácil beijá-la agora, sentir seus lábios, sua pele e cheiro mais de perto. E talvez no ato mais impensado da minha vida eu o faço. Junto meus lábios aos seus. Alicia resiste em um pequeno instante, mas logo sua boca quente se abre para mim em um beijo ardente.