Capítulo Dezoito

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Um mês depois...

ALICIA

Hoje é meu último dia de trabalho. Não vi Leon nesse mês que se passou, o que de certa forma é bom. Felipe está mais que pronto para me substituir e, segundo a Bruna, Leon aceitou minha carta de recomendação e disse que a vaga é dele. Estou fazendo minha última ronda antes de entregar o jaleco e crachá. Não vou negar que estou emotiva com isso.

Entro na minha sala e olho com nostalgia para a caixa onde couberam as coisas que por longos anos preencheram a minha sala. Talvez seja bom dar uma mudada, apesar de que todo o dinheiro que recebi com a rescisão do meu contrato foi para uma poupança, não posso correr o risco de deixar meus pais desamparados.

Quando abro a porta para sair, tenho que segurar a caixa com força, pois quase a derrubo ao ouvir o barulho de algo estourando. Confetes coloridos caem sobre a minha cabeça e enchem minha caixa. Gritos de animação preenchem a fábrica, agora com as máquinas todas desligadas.

- O que é isso? - pergunto enquanto alguém tira a caixa da minha mão.

- Você não achou que te deixaríamos ir sem uma festa de despedida, não é? - Olivia responde.

Reparo nas pessoas  que ficaram até mais tarde para a festinha. Leon está num canto mais afastado. Felipe e alguns outros funcionários que eu tinha mais convívio conversam animadamente. Patrick e o namorado conversam com Bruna. 

- Vocês não precisavam fazer isso - falo com as lágrimas forçando meus olhos.

Olivia me abraça. Sentirei tanta falta desse lugar, o qual eu dei meu sangue e suor por anos. Bruna se levanta e me traz um copo de refrigerante. Há, também, sobre a mesa de Olivia um bolo escrito "Sentiremos sua falta" em cima. Não posso deixar de sorrir, pois sei que alguns aqui, como Felipe, já quiseram a minha cabeça mais de uma vez.

- Queremos um discurso - Patrick diz e todos concordam. 

- Não gente, nem pensar.

- Isso vai ser no mínimo interessante - Felipe cruza os braços, como se me desafiando.

- Tudo bem - solto um suspiro nervoso. - Eu quero agradecer o carinho de todos, apesar de eu não merecer tudo isso. Sei que fiz a vida de alguns um inferno - alguns concordam e dão risada. - Acho que quando me apelidaram de "coração de gelo" eu, meio que, quis fazer jus ao apelido. Então, a culpa de eu ser uma megera é de mérito de vocês - as risadas aumentam. - Mas sentirei muita falta daqui.

Depois disso todos comeram e beberam a vontade, falando sobre assuntos descontraídos. Me despedi de todos e saí pela última vez por aquelas enormes portas de zinco. Caminho até meu Civic, mas de repente uma mão em meu cotovelo me faz parar de andar. Viro-me para dar de cara com Leon.

- O que você quer? - pergunto na defensiva.

- Você não se despediu de mim - a falta de brilho no seu olhar me preocupou.

- Está enganado. Eu me despedi de você um mês atrás no meu apartamento.

- Não podemos nem ser amigos?

Fala sério, o que Leon estava querendo? Não especulei sobre como estava a relação dele com a mulher nesse último mês, mas ouvi que nada bem. Diferente da minha relação com Jonathan, que estava progredindo cada vez mais. E por falar nisso, ele deveria estar me esperando em casa.

- Melhor não, pelo menos por enquanto - entro no carro, não o dando chance de responder.

Já tenho problemas demais para me preocupar agora e não estou a fim de adicionar Leon Manshur de volta a lista.

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora