Capítulo Vinte

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Foto de Ed WestWick - Joaquim

ANA BEATRIZ 

Estou escondida na cozinha comendo um pedaço de bolo de chocolate. Minha mãe e meu pai estão discutindo sobre o meu futuro na sala, quanto Maria Eduarda está se arrumando no quarto. Leon me ligou mais cedo, querendo saber como estou. Contei a verdade, afinal não se quebra uma conexão de nove anos e dez meses.

Ouço a campainha ser tocada e a discussão cessar imediatamente. Deve ser Thomaz e o tal Joaquim. Eu limpo minhas mãos em um guardanapo e corro para entrada. Que bom que eles chegaram antes que meus pais decidissem algo, pois não quero o mesmo que eles. Minha mãe quer que eu volte a conversar com um ex-namorado, bem nascido, que eu tive antes de Leon, e meu pai quer que eu volte com Leon, o que também está fora de cogitação. 

Quando chego a sala, os dois rapazes estão cumprimentando meus pais e Maria já tem seu braço entrelaçado ao do namorado. Me aproximo e cumprimento Thomaz, que me apresenta a Joaquim. O homem moreno de maxilar marcado estende a mão em minha direção e eu sinto uma corrente elétrica atravessar meu corpo ao apertá-la.

- É um prazer - diz com voz rouca.

- O prazer é todo meu - sinto minhas bochechas avermelharem.

- Bom - minha mãe diz. - O jantar está servido. Vamos?

O jantar segue normalmente. Thomaz conta sobre seus novos projetos e como Joaquim o está ajudando, pois ambos são engenheiros civis. Depois vamos para a sala de estar, onde meu pai vai dar-lhes licor e conversar sobre assuntos que não deixa mulheres participar. Mas por educação devemos permanecer na sala, como ouvintes. Não que eu achasse que Maria Eduarda sairia do lado do namorado.

- Na verdade, papai, eles preferem vinho a licor.

- Sem problemas, temos ótimas safras na adega.

- Eu adoraria vê-los - Joaquim diz.

- Claro - meu pai se vira para mim. - Ana, querida, ajude o rapaz a escolher uma boa garrafa para nós.

Eu aquiesço e me levanto. Joaquim também se levanta e me segue. A adega de meu pai é das tradicionais: no subsolo. A entrada é pelo lado de fora da casa. Quando saímos pela porta dos fundos uma brisa gelada envolve meu corpo e meus braços se arrepiam. 

- Maria Eduarda não me disse que tinha uma irmã tão bonita - diz quando estamos descendo as escadas até a adega.

- Obrigada.

Deixo que ele entre primeiro no cômodo e seus olhos brilham ao varrer o local. Com certeza é realmente um fã de vinhos. Vou até onde papai guarda os vinhos para visitas. Não são os melhores da adega, pois aqui ele guarda vinhos caríssimos. Um deles foi usado no brinde do meu casamento, o J. S. Terrantez.

- Seu pai tem uma excelente cartela de vinhos aqui.

- Meu avô era um apreciador, meu pai só continuou com a tradição - respondo. - E você, é um apreciador?

Ele solta um sorriso.

- É uma das coisas que você acaba aprendendo quando vive em Barcelona. Há ótimas vinículas na redondeza - sorrio de volta.

- Aqui está - falo puxando uma garrafa de Mondot. - Essa foi uma ótima safra.

Começo a fazer o caminho de volta para a sala quando Joaquim segura meu braço esquerdo. Apesar da iluminação estar fraca, seu olhar se demora um pouco na marca da aliança no meu dedo anelar. Meu olhar encontra o dele e minha respiração falha por um instante.

- Diga-me: se eu lhe beijasse agora, você retribuiria? - permaneço em silêncio, incapaz de elaborar uma resposta. - Acho que terei que descobrir.

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora