Capítulo Vinte e Oito

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ALICIA

Quatro meses depois

Reclamei mentalmente dos meus pés inchados enquanto ia até o depósito uma terceira num curto período de tempo. Essa é a última semana de paz que teremos antes da São Paulo Fashion Week. Meu celular apita e o rosto de Leon aparece na tela. Aproveito que estou sozinha no depósito e atendo a chamada de vídeo.

- Você não vai acreditar no que eu encontrei.

Olho além de Leon e reparo que ele está no shopping. Que droga! Ele vai querer comprar mais da metade da loja, de novo. Ele fez isso na semana passada, assim que descobrimos que nosso mundo seria cor-de-rosa. Leon mostra um macacãozinho de ovelha.

- Ela vai ficar tão fofa com isso.

- Leon, ela não vai precisar disso. Ela não vai usar nem metade do que ela já tem.

- Se ela não usar eu não me chamo Leon Manshur - seu olhar se perde por um instante. - Depois a gente se fala, eu vi uma sandália linda.

Ele desliga antes de um possa falar qualquer coisa.

Reviro os olhos e volto ao estúdio com os braços cheios de amostras de tecido. Douglas - companheiro e sócio de Patrick - corre para me ajudar. Ultimamente eles não me deixam fazer muita coisa, como se gravidez fosse uma doença.

- Assim vocês me deixam mal acostumada - reclamo quando ele tira tudo das minhas mãos.

- É o nosso trabalho, fofa - Patrick diz entrando. - Qual você acha que ficará melhor?

- Primeiro eu pensei em Tafetá Sevilha, mas lembrei que a noiva pediu o mais fluido possível. Então eu votaria no Chiffon - respondo erguendo a amostra desse decido.

- Sabia que eu não me arrependeria em contratá-la. 

Patrick me dá um beijo no rosto e marcha para seu escritório. Me despeço dos dois minutos mais tarde. Tenho um almoço marcado com Jonathan e depois vou buscar Miguel para irmos até o Parque do Ibirapuera. Como peguei a tarde de folga, dispensei Sofia depois que ela levasse Miguel até a escolinha de futebol.

Ele se adaptou tão bem nesses meses. Fez muitos coleguinhas e além do futebol está fazendo curso de artes. Lembro do abraço apertado que recebi quando ele soube que teria uma irmãzinha. Henrique tem nos visitado com frequência, mas cada vez que o vejo as manchas rochas debaixo de seu olhos parecem maiores e isso me preocupa. Segundo Miguel ele está preocupado com a mãe que parece estar cada vez pior, mas sei que provavelmente o pai tem uma parcela de culpa nessa preocupação.

- Oi, amor - falo antes de dar um beijo rápido em Jonathan.

- Já pedi para nós, surgiu uma emergência no hospital.

- Sem problema.

- Como estão minhas meninas? - ele pergunta com brilho nos olhos.

- Cansadas, cada vez mais só quero dormir.

Ele solta uma risada rouca. Nossa comida chega logo em seguida e comemos conversando sobre trivialidades. Ele acaba me dizendo que terá uma surpresa para mim à noite. Tentei pressioná-lo, mas não consegui extrair nenhuma informação.

Me despedi de Jonathan e fui até a sede da escolinha. Entrei e cumprimentei alguns funcionários que eu já havia conhecido no decorrer desses meses. Os alunos mais velhos que Miguel estavam jogando e a turma dele arrumando as coisas para ir para casa. Olhei para o amontoado de meninos, mas não vi meu filho.

- Alicia - a recepcionista me chama.

- Onde está o Miguel?

- Você não mandou buscá-lo? - sinto um mal estar no instante que ouço a pergunta.

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora