ALICIA
Jonathan me acorda de manhãzinha para dar os remédios. E não consigo dormir depois que ele sai do quarto, então me levanto. Pelo que parece ele está na cozinha preparando alguma coisa, pois o cheiro está muito bom.
- Bom dia - digo admirando a cena.
Jonathan está todo de branco, mas com meu avental rosa amarrado na cintura. Vestido assim ele parece aqueles bonequinhos da Barbie. Ele responde meu bom dia ainda concentrado no que está fazendo. Vejo ele lançar uma panqueca para cima. Eu amo panquecas.
- Aqui está seu café da manhã - diz colocando uma tigela com salada de frutas na minha frente.
- Está de brincadeira, né?
Ele solta uma risada gostosa.
- Não. São ordens médicas.
- Mas você fez panquecas. Isso não é justo - protesto.
Ele se senta ao meu lado, corta um pedaço da panqueca dele e passa na calda. Jonathan tem um olhar divertido no rosto e juro que se ele não me der esse pedaço eu faço ele engolir meu punho.
- Só esse pedacinho e se o médico perguntar isso nunca aconteceu.
- Sim senhor, digo antes de abocanhar o pedaço de panqueca.
Os 15 dias de atestado médicos seriam mais fáceis do que eu pensei. Jonathan era uma ótima companhia. O resto do dia nós jogamos baralho, assistimos TV e conversamos muito. Mas o que mais me chamou a atenção é a tristeza em seus olhos quando ele fala dos pais.
- Então larguei tudo e fui para Curitiba, cuidar deles. Meu pai só ficou mais forte quando minha mãe entrou em recessão, o que surpreendeu até os médicos devido a idade dela. Voltei para São Paulo porque minha vida está aqui, mas se precisar voltar para o Paraná eu não penso duas vezes.
- Sei bem como é. Todo dinheiro que me sobra eu mando para os meus pais em Campinas e se eles precisarem de mim lá eu vou. Não me importaria de largar tudo por eles.
Ele sorriu e eu sabia que tínhamos nos conectado naquele instante. Um entendia o outro. Às vezes não damos valor a essas pequenas conexões que criamos com as pessoas, talvez por estarmos preocupados demais com grandes conexões, grandes amores, grandes amizades. Porém nem sempre o melhor vem numa grande embalagem.
LEON
- Nem acredito que está tudo certo agora - Ana disse me abraçando por trás.
Eu estava na internet encomendando peças novas para as máquinas da fábrica. Eu não queria correr o risco de acabar mandando mais alguém para o hospital.
- Claro que está tudo certo - coloquei o notebook de lado para puxar Ana para meu colo. - Você fez tudo isso acontecer.
- Obrigada - ela respondeu com ar divertido.
Estamos muito bem e isso me faz sentir um angustia no peito. Quando saí com Alicia foi fácil porque nós não estávamos muito bem, agora a culpa está começando a pesar. Jamais farei aquilo novamente, Ana Beatriz é a minha esposa, minha companheira e não é justo com ela.
- Com licença senhora - Joana diz entrando na sala.
- Diga Joana - Ana sai discretamente do meu colo.
- Eu estava desfazendo a mala do senhor Leon e encontrei um brinco, mas não encontrei o outro do par. Deixei junto com as outras jóias da senhora.
- Ah. Sem problemas, um deles deve ter caído na mala dele e o outro não. Obrigada Joana.
- Droga, fui descoberto. Achei que poderia usá-lo sem você perceber.
Debochei e ela começou a rir.
- Não ouse tocar nas minhas coisas - ela ameaçou.
Puxei Ana novamente para o meu colo de uma forma que ela ficou de frente para mim, com uma perna de cada lado do meu corpo e nossas partes intimas se tocando.
- Claro que vou tocar em tudo - apertei a bunda dela com força. - Poque até você é minha.
Ela abriu um sorriso e me beijou com avidez. Eu amava Ana Beatriz de todas as formas que era possível amar uma mulher. Estava mais do que na hora de eu enxergar esse casamento do jeito de deveria ser. Eu não iria mais traí-la e honraria esses dez anos juntos.
Um mês se passou, e hoje é o grande dia, o dia das bodas. Ana Beatriz me fez usar um smoking e estou indo buscá-lo quando me deparo com uma cena curiosa. Quando paro no sinal vejo Alicia tomando sorvete com um garoto e um homem. Eles estão rindo e parecem namorados. Isso me incomoda um pouco, mas deixo para lá e sigo até o alfaiate.
Coloco uma música para me distrair. Alicia Cardoso só é da minha conta como funcionaria, fora da fábrica não devo me preocupar com quem ela sai ou deixa de sair. Soco o volante em frustração. Por que não consigo parar de pensar em Alicia na cama com aquele homem? Droga!
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Corações Errados
RomanceAlicia, mulher linda, arrogante e fria. Muito enganada no passado decidiu colocar uma pedra no lugar do coração, o que a fez ficar conhecida na fábrica em que trabalha como "coração de gelo". Aos 28 anos jurou jamais se apaixonar novamente. Mas por...