Capítulo Dezessete

151 15 0
                                    

ALICIA

Quando chego na fábrica sou tomada por um enorme sentimento nostálgico. Talvez eu tivesse precipitada quando pedi demissão, mas não volto atrás nem morta, nunca foi do meu feitio. Entro na minha sala com Olivia ao meu encalço. Com todo o serviço daquela manhã atrasado, eu não poderia nem mesmo tirar o horário de almoço.

- O que houve? - Olivia parecia preocupada.

Olivia entrou na fábrica alguns meses depois de mim, nos demos bem rapidamente e apesar de mão sermos amigas fora daqui, eu sei que posso considerá-la uma amiga. Sabia que o que quer que eu dissesse para ela, jamais sairia daquela sala.

- Eu pedi demissão - respondi me jogando na minha cadeira de couro.

- Você o quê!? - perguntou exasperada.

Esfreguei minhas têmporas nas tentativa vã de clarear meus pensamentos. Eu não podia dizer nem a Olivia o motivo da minha demissão. O que eu diria? 

Acontece que eu coração de gelo resolveu amar e se entregar alguém cujo o coração já tem dona. E pior, ele é meu patrão e como não podemos ficar juntos eu resolvi pedir demissão para conseguir me manter afastada.

Não, nem pensar! Soltei um longo suspiro antes de responder a pergunta de Olivia, que me encarava com incredulidade.

- Eu estou sobrecarregada demais e sei que se tudo continuar assim eu posso acabar sendo promovida, o que acarretaria em mais carga sobre meus ombros. Preciso de um tempo para mim.

- Mas a Manshur é a sua vida...

- Era. Agora vou ter que encontrar novos motivos para continuar acordando todo dia - pensei por um instante. - Olivia, chame Felipe para mim.

Minha secretária não disse nada, apenas me obedeceu. Abri uma planilha do Exel e comecei a traçar as metas de tudo o que eu teria que fazer em trinta dias, antes que meu aviso prévio vencesse. Eu não deixaria Leon na mão e mesmo com tudo o que aconteceu entre nós, eu o daria bons motivos para uma excelente carta de recomendação. Afinal, eu ainda tinha meus pais para sustentar.

- Mandou me chamar? - Felipe disse abrindo a porta, visivelmente pisando em ovos.

- Sente-se.

O homem de quarenta anos obedeceu. Nós nunca tivemos um bom relacionamento. Quando ganhei a vaga de gerente de produção, ele começou a ganhar destaque na fábrica e algumas pessoas disseram que ele seria uma melhor escolha do que eu. Aquilo me corroeu por dentro e como eu ainda estava amargurado por tudo o que Henrique fez comigo, acabava por descontar no pobre homem.

- Eu sei que logo a fábrica toda vai falar sobre isso, mas eu queria conversar com você primeiro - ele se mexeu desconfortavelmente na cadeira. - Eu pedi demissão, mas quero que você assuma meu lugar.

Os olhos do homem se arregalaram e como ele não encontrou palavras para dizer nada, eu continuei:

- Você sempre foi o maior capacitado para preencher minha vaga e, por isso, eu pegava tão pesado com você. Vou te passar durante esse mês tudo o que eu sei e quando sair deixarei minha recomendação para o senhor Manshur.

Para minha surpresa o homem sorriu e se esticou para pegar a minha mão por cima da mesa me agradecendo. Não consegui conter a emoção e comecei a chorar assim que ele deixou a sala. Mas uma batida na porta me fez me recompor. Mandei que entrasse e Bruna caminhou até a minha mesa.

- Me diz que estou sonhando - ela disse ao se sentar. - Ele vai mesmo te demitir? Você é a melhor funcionária da fábrica em disparado, foi até parar no hospital para diminuir prejuízos.

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora