Capítulo Dezesseis

169 14 0
                                    

ALICIA

Logo que acordo alguém bate na porta. Por sorte acordei antes hoje, caso contrário me atrasaria para trabalhar. Ajeito o cabelo em um coque enquanto caminho para abrir a porta. Estou com uma camisa e o short do meu pijama. Assim que abri a porta sou agarrada e tomada em um beijo voraz. Não preciso abrir os olhos para saber quem é, conheço muito bem esse perfume: é Leon.

Ele puxa minhas pernas para sua cintura enquanto me beija e caminha até o sofá. Meu coque se desfez e meu cabelo se misturou as mãos apressadas e beijos ardentes. Até que eu finalmente percebo o que estamos fazendo e paro.

- Por favor Alicia - ele sussurra.

- Não. Prometi a mim mesma que não faria mais isso, sua mulher não merece e Jonathan não merece. E eu estou atrasada para trabalhar.

- Uma última vez é tudo o que eu preciso, é tudo o que te peço. Não pense em nada, nem ninguém.

- Isso é errado.

- Não se manda no coração, Alicia - ele segura meu rosto nas mãos -, sou casado a quase dez anos e mesmo amando Ana Beatriz eu jamais senti por ela o que sinto por você, o que meu coração sente por você.

Sinto lágrimas escorrerem por meu rosto e Leon as seca com as mãos. Anos a fio sem me apaixonar, sem me permitir sentir algo por qualquer pessoa e aqui estou eu: apaixonada por um homem que não é e jamais poderá ser meu.

- Vê-la nos braços de outro - continua - me deixa louco. Prometo que se for minha mais uma vez eu a deixarei em paz, vou me controlar para não sentir ciúme ou qualquer coisa.

Mesmo sabendo o quão errado isso é eu beijo Leon. Será a última vez. Tiramos a roupa as pressas e nem nos damos o trabalho de ir para o quarto. Leon me preenche com vontade, com mais intensidade a cada estocada. Me agarro as suas costas, não conseguindo evitar de cravar minhas unhas na sua pele no momento do ápice.

Ofegante eu saio de cima de Leon. Olho no relógio na parede, me odiando por estar quase uma hora atrasada, em todos esses anos isso nunca aconteceu. Leon começa a vestir suas roupas e eu vou para meu quarto. 

- Como pode ser tão burra Alicia - resmungo para mim mesma.

Leon diz meia dúzia de palavras bonitas e eu me entrego de novo. Isso não voltará a acontecer, não pode voltar a acontecer. Visto minha roupa, pois não posso me dar ao luxo de um banho e acabar me atrasando mais.

- Quer uma carona para a fábrica? - Leon pergunta encostado no batente da porta.

- Vou com meu carro - respondo ríspida.

Ele vem até onde estou e segura minha mão com carinho, quanto com a outra mão puxa meu rosto para cima, para encará-lo.

- Tudo o que eu disse é verdade, mas se você quiser reconsiderar a parte de te deixar em paz.

- Não. Não deveríamos ter feito isso desde o Rio. E sou eu quem vai me afastar. Entenda isso como meu aviso prévio.

- O quê!? Não, você não pode.

- Não só posso como acabei de fazer. Agora é melhor você ir embora.

Leon me encara confuso, mas não diz nada. Ele vira as costas e vai embora do meu apartamento e da minha vida.

LEON

Não pensei que a felicidade pudesse escapar das nossas mãos num piscar de olhos. Num instante estou com Alícia em meus braços novamente e no outro a perdi. 

Entro no meu carro, mas não consigo dar a partida. É como se meu corpo todo estivesse em um estupor e eu não conseguisse raciocinar direito. Por fim decido que o melhor é seguir com meus compromissos do dia e depois pensar no que fazer com relação a Alicia. Vou até a fábrica e ao chegar noto que o carro de Ana Beatriz está no estacionamento.

Subo as escadas até meu escritório. Ana Beatriz está olhando pela janela interna, a qual dá uma ampla visão da fábrica. Quando entro ela não se vira imediatamente, como se estivesse perdida em pensamentos.

- Bom dia amor, que surpresa.

- Onde você estava Leon?

- Fui tomar um café primeiro.

Ana Beatriz se vira e me encara. Seus olhos estão vermelhos e isso é sinal de que ela esteve chorando. A preocupação com a minha mulher cresce no meu peito, mas o medo do motivo de suas lágrimas cresce junto.

- Não mente pra mim, eu te segui.

- Você o quê!?

- Você esqueceu isso - ela coloca meu celular em cima da mesa - e eu vim trazer para você, mas no meio do caminho você mudou sua rota e eu fui atrás. Te vi entrar em um prédio residencial e quando demorou mais de quinze minutos eu me obriguei a entender.

- Não é o que você pensa.

- Chega! - ela grita. - Estou cansada de acreditar em você Leon. Briguei com a minha família por você.

- Meu amor, eu juro que... - me aproximo para acalma-la, mas ela se afasta.

- Não me toque - lágrimas escorrem como cascatas pelos seus olhos. - Eu vou para casa, quando chegar conversamos. Passar bem.

Ana Beatriz sai e bate a porta. Penso em ir para trás, mas ainda estou impactado por tudo o que aconteceu em poucas horas nessa manhã. Olho pela janela e observo minha mulher sair a passos largos e Alicia chegar logo em seguida.

Como pude deixar tudo isso acontecer?

Esfrego as mãos no cabelo na intenção de apaziguar meus sentimentos. Eu consegui com uma única decisão perder minha funcionária, minha amante e minha mulher. Não, me recuso a perder minha esposa.

Peço para que Bruna cancele todos meus compromissos e dê entrada aos papéis do pedido de demissão de Alicia. Vou tentar salvar meus dez anos de casamento.

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora