Capítulo Vinte e Nove

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Na portaria do meu prédio eu encontro Leon. Ele está com sacolas de coisas que ele comprou mais cedo. Eu realmente não tenho cabeça para isso. Mas talvez ele consiga me distrair por uma hora inteira. Pergunto se ele quer subir e ele aceita. No apartamento, ele vai direto para o meu quarto, onde estamos guardando todas as coisas da Gabi. Enquanto isso guardo a pasta na gaveta da estante.

- Você está bem? - Leon pergunta ao voltar para a sala.

- Estou.

- É que você parece meio pálida.

Eu nego com a cabeça e caminho até o sofá, mas ele parece estar se afastando conforme eu ando. De repente a sala toda começa a girar e a última coisa que eu vejo é Leon saltando na minha direção.

Acordei ainda um pouco tonta. Ao meu redor estavam Leon e Jonathan, com Henrique e uma mulher do outro lado. Meus olhos se arregalaram ao encontrar os olhos de Henrique. Tento me levantar, mas Jonathan impede.

- Você teve uma queda de pressão, tem que ficar em repouso.

- Onde está a pasta?

- Henrique, agora não - Jonathan dá a ele um olhar duro.

Meu olhos se enchem de lágrimas e apesar dos protestos de Jonathan eu me sento no sofá. Todos me encaram. 

- Ele levou o Miguel.

- Ele quem? Levou para onde? - Henrique responde de maneira ríspida.

Eu me levanto e caminho até a porta, disfarçando para olhar o horário no relógio ao lado da porta. Faltam vinte minutos para a hora do encontro com Antônio. Giro nos calcanhares e encaro Henrique, a raiva brilhando atrás dos olhos castanhos.

- Seu pai.

- É brincadeira, Alicia - ele se aproxima. - Me diz que é brincadeira.

- Não.

Eu não tenho tempo para pensar em nada depois disso. Sou pressionada com força contra a parede, o impacto faz minha cabeça latejar. A mão de Henrique segura meu pescoço com força, me fazendo perder o ar. A raiva que brilhava nos olhos dele segundo atrás agora praticamente fazia caricias no meu rosto. E tão rápido quanto Henrique veio para cima de mim ele foi tirado.

Leon desferiu um soco em seu rosto enquanto Jonathan me apoiou para que eu não desmoronasse. A mulher caminhou até Henrique e o ajudou levantar, mas ele rapidamente se desvencilhou de suas mãos. 

- Fui egoísta a minha vida toda - ele aponta o depois para mim - e a única vez que não sou essa merda acontece.

- A culpa não é dela, querido - a mulher disse com calma. - Você sabia que mais tarde seu pai tentaria algo.

Ela me encara.

- Eu sinto muito. Tenho alguns contatos, vamos fazer de tudo para encontrá-lo. Acho que é hora de irmos - ela encara Henrique.

- Eu também acho - Jonathan diz de maneira ríspida.

Henrique ajeirou o cabelo e o terno antes de me lançar um olhar mortal e sair do meu apartamento. Esperei a porta se fechar para começar a chorar. Jonathan me consolou enquanto Leon observava de longe.

- Leon, se você não se importar eu gostaria de ficar sozinha.

- É claro. Me avise se precisar de algo - ele me lança um olhar de piedade antes de sair.

Jonathan me apertou mais ainda em seus braços quando ficamos sozinhos. Eu preciso pensar em alguma coisa para manter Jonathan ocupado para que eu possa sair. Olho no relógio e noto que faltam sete minutos para o horário marcado. Eu não diria a Henrique que nosso filho havia sido sequestrado, mas eu precisava que ele ocupasse a cabeça com outra coisa e esquecesse a pasta. Apesar do possível hematoma no meu pescoço, meu plano tinha dado certo.

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora