Capítulo Vinte e Três

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HENRIQUE

Estou voltando para o meu hotel com toda a papelada necessária para a transferência da guarda de Miguel. Me deparei com muito mais burocracia do que eu previa, mesmo com toda a influencia que agora eu tenho sendo dono da Vinícola Gartner.

- Senhor, seu jato está pronto - meu motorista me avisa.

- Obrigada, Pascal.

Com um aceno de mão eu dispenso o empregado. Meu celular começa a vidrar e furor me invade quando o nome de Anita aparece na tela. Penso em não atender, mas sei que não me deixará em paz. Anita e eu temos um caso há algum tempo, ela quer algo mais sério, mas eu não. Da última vez que me deixei apaixonar por alguém isso quase me custou tudo e está prestes a acontecer novamente, não posso deixar que isso a atinja.

- Diga.

- Querido, soube que estas no Brasil novamente.

- Estou. O que queres desta vez?

- Estou com saudades suas - ela responde com voz manhosa. 

- Ora, pois não posso fazer nada referente a isto. Eu lhe disse que aquela foi a nossa última vez.

- Você me ama e ainda vai admitir, Henrique - ela desliga o telefone na minha cara.

Típico de Anita: fazer birra quando não consegue o que quer. Os meus sentimentos por ela ficarão guardados até ser seguro. Isso pode levar anos ou até mesmo nunca acontecer, mas não posso correr riscos, não quando tenho o bem estar do meu filho para cuidar.

Saio do elevador e noto que 90% dos olhares femininos se dirigem a mim. Sempre causei uma boa impressão nas mulheres. Lembro de quando conheci Alicia, em uma boate quando fiz uma de minhas várias viagens para o Brasil. Ela usava um vestido vermelho e eu estava de terno, pois havia saído de uma reunião direto para a noite de São Paulo.

Alicia me olhou por três segundos e começou a me ignorar, aquilo mexeu comigo, pois eu estava acostumado com mulheres se jogando aos meus pés. Consegui - depois de muito esforço - levá-la para casa, mas ela não me deixou entrar. Agindo como uma mulher difícil, o que descobri mais tarde não ser verdade, não que eu me importasse com isso. Aquela mulher me enlouqueceu e eu fiz da vida dela um inferno meses depois.

Sei que sou um filho da puta e mereço todo o ódio que ela cultiva por mim, mas pelo meu filho eu estou disposto a mudar, penso enquanto entro no carro.

ALICIA

- Merda, merda, merda! 

Evelyn repetia andando de um lado para o outro no quarto, que agora parecia ter o tamanho de um carro popular. Eu não conseguia respirar direito, pensar direito. O que seria da minha vida? O que seria do meu namoro?

- Como vou me sustentar e sustentar duas crianças? - penso alto.

- Acha que são gêmeos? - Evelyn para de andar.

- O quê!? Não, não acho. É que Henrique vai me dar a guarda do Miguel.

- Por que você não me contou isso antes?

- Porque eu meio que tive outra coisa para me preocupar antes de ter a oportunidade - respondo balançando o teste que ainda estava na minha mão.

- Tudo bem, é um bom motivo.

Conto a ela sobre o almoço com Henrique e os motivos dele para devolver meu filho. Sempre desejei isso com todas as minhas forças, mas nunca imaginei que o universo realmente me ouvisse. Lógico que eu gostaria que Henrique devolvesse meu filho por espontânea vontade e não sob a ameaça de algo acontecer a Miguel.

Depois disso fui para cara, só veria Jonathan a noite e isso me daria tempo de pensar em uma forma de contar a ele todas as mudanças que aconteceriam. Estou certa de que meu relacionamento não passará de hoje, pois que homem vai querer uma mulher que tem um filho de um homem e está grávida de outro?

Por mais que eu esteja realmente gostando de Jonathan não abrirei mão de meu filhos. O filho que eu sempre quis e o que aprenderei a amar durante nove meses. Essas crianças terão o melhor lar ou eu não me chamo Alicia Cardoso.

***

ANA BEATRIZ

Não me despedi de Thomaz e Joaquim. Preferi ficar no jardim mexendo em meu Ipad. Exclui todas as pastas que fiz para minhas bodas com Leon, pasta por pasta. Quase cedi quando fui vê-lo e dar a noticia, ele pareci tão frágil. Porém, eu havia tomado uma decisão e jamais voltaria atrás.

- Joaquim perguntou de você - Maria diz se aproximando.

- Não me interessa - respondo, ranzinza.

- Aconteceu algo entre vocês?

- O quê!? - Sinto como se tivesse sido insultada. - É óbvio que não, quem você pensa que eu sou?

- Alguém que está magoada e que precisa dar a volta por cima - responde me fazendo olhar para ela. - Você passou anos certa de que o Leon era o homem de sua vida e se enganou, isso deixa marcas, mas talvez a melhor forma de superar isso seja com um novo amor.

Me levanto em um salto, não acreditando nos meus ouvidos.

- Primeiramente, eu não preciso de nenhum homem e se precisasse de um, Joaquim não seria ele, nem que fosse o último homem da terra.

Furiosa com a minha irmã, eu pego meu Ipad e marcho de volta para a casa. Maria Eduarda só pode estar louca. Não estou nem divorciada e ela já quer me empurrar um cara mesquinho e arrogante como Joaquim. Quando entro na sala minha visão fica escura, pois meus olhos estavam acostumados com a claridade do jardim.

- Oi - ouço alguém dizer.

Varro meus olhos, ainda mal acostumados com a mudança brusca de luz, pela sala a procura do dono da voz. Quando minha visão, finalmente, entra em foco eu travo. Joaquim está parado na porta de entrada. O homem solta um sorriso de canto quando percebe minha cara de surpresa.

- Oi - consigo dizer. 

- Encontrei - identifico a voz de Thomaz. - Oi, Ana, pensei que não estivesse em casa.

- Não estava - desvio os olhos de Joaquim para Thomaz descendo as escadas. - Esqueci meu relógio. Como é herança eu não podia ir sem ele.

- Entendo.

- Onde está a sua irmã?

- No jardim.

- Vou dar um beijo nela antes de irmos outra vez - ele sorri e sai porta a fora.

- Fugiu de mim hoje, olhos lindos?

Encaro Joaquim. Ele está com com braços cruzados e posso ver a camisa azul apertando os músculos de seus braços. Engulo em seco, eu sei o que ele está tentando fazer. Joaquim está tentando me intimidar como quando tive que arrumar um lugar para ele dormir. 

- Não, só não achei que se importaria com a minha ausência.

Ele abre um sorriso torto.

- Claro que a ausência da mulher mais bonita dessa casa faria falta - ele rebate.

Reviro os olhos e me viro para ir até o meu quarto, onde eu deveria ter ido desde o principio e não estar dando atenção para esse homem. Sinto uma mão quente e forte agarrar meu braço com delicadeza, me fazendo parar de andar. Encaro Joaquim e a proximidade dele faz meu coração acelerar.

- Não finja que não sentiu a química entre nós - sua voz sai como um ronronado.

- Não sei do que está falando - me desvencilho de sua mão.

- Eu vejo o jeito que você reage quando estou perto, eu te deixo nervosa - meu coração acelera mais e eu quase não consigo respirar.

- Você está louco - continuo andando.

- É, você deve ter razão.

Dessa vez ele não me impede de sair andando. Subo as escadas e me jogo na minha cama. Que merda está acontecendo comigo?

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora