Capítulo Vinte e Sete

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ALICIA

- Claro - respondo com cautela enquanto me aproximo do sofá, minhas pernas fraquejando um pouco.

Eu não esperava encontrá-lo aqui, não tão pouco tempo depois de tudo que eu disse para ele naquele restaurante. Jonathan parecia muito perturbado, como se ainda ainda estivesse pensando se estar aqui era realmente uma boa ideia. 

- Têm algumas coisas que eu preciso te perguntar e preciso que seja sincera comigo.

Engoli em seco antes de assentir. Eu contaria tudo o que ele quisesse saber, nem que estivesse correndo o risco de Jonathan me odiar para sempre. Ele me encarou com aqueles olhos azuis e eu vi neles o medo que Jonathan estava sentindo. Na verdade, eu também estava apavorada.

- Quem é o pai? 

Eu me engasguei com o ar ao ouvir a primeira pergunta que ele fez. Obviamente eu esperava que ele a fizesse, mas não na largada. A minha resposta iria destruir uma amizade, além do que quer que tenha sobrado de admiração de Jonathan por mim. Se é que sobrou algo.

- Leon Manshur - as palavras saíram arranhando minha garganta.

- O quê!? - ele se sobressalta. 

- A primeira vez que aconteceu foi no impulso e eu não me orgulho disso. Estávamos no Rio para uma conferencia.

- Suponho que não foi dessa vez que você engravidou - o desdém quase me passou despercebido.

- Não, dessa vez nós nos protegemos. A outra vez foi depois da partida de tênis que jogamos contra ele e a esposa, ele veio até aqui e mais uma vez o impulso foi maior que eu.

- Isso um mês atrás? - a mágoa cintilando em cada espaço do seu rosto.

- Sim.

- E você não pensou em me contar?

- Pensei, mas como ainda não tínhamos oficializado decidi deixar quieto para evitar uma situação como essa. Tudo mudou quando o teste deu positivo, eu não podia continuar mentindo pra você - ele soltou um riso amargurado. - Eu pedi demissão para colocar a maior distância entre o Leon e eu, para não correr o risco de acontecer novamente.

- Se precisou se afastar é porque foi mais que sexo - permaneci em silêncio. - Foi mais?

- Eu não sei, talvez tenha sido, mas não importava porque ele ainda era casado e eu tinha você.

Jonathan se levantou e começou a andar de um lado para o outro passando a mão nos cabelos pretos. Lágrimas começaram a forçar meus olhos. Merda de hormônios. Eu não quero chorar, tenho que parecer forte. Uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha antes de uma enxurrada que veio em seguida.

A  expressão de raiva de Jonathan se transformou em preocupação. Eu não conseguia respirar direito. Ele saiu da sala e me deixou chorando. Tomei um pequeno susto quando ele apareceu na minha frente e se ajoelhou. Seu rosto fora de foco por causa das lágrimas.

- Bebe - ele pede de forma afável.

Eu pego o copo de sua mão e tomo um gole da água com açúcar que ele fez. Em seguida Jonathan mandou que eu abraçasse uma das almofadas do sofá e seguisse a sua respiração. Ele ficou segurando a minha mão, sem dizer nada, enquanto eu me acalmava.

Jonathan segurou meu rosto com uma mão e com a outra secou a última lágrima da minha bochecha. Levantei meu olhar de encontro ao dele. Ele soltou um suspiro pesado, como se tivesse em alguma luta interna, enquanto me analisava. Coloquei minha mão em cima da sua e aproveitei a última caricia que eu provavelmente teria dele.

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora