Capítulo Vinte e Seis

155 11 0
                                    

JONATHAN

Entrei no meu carro sentindo meus olhos arderem. Alicia me pegou completamente de surpresa tanto com a notícia da gravidez quanto com a notícia da traição. Tenho quase certeza que foi possível ouvir meu coração se partindo quando ela disse que o filho não é meu.

Não que eu quisesse ser pai a essa altura do campeonato, mas saber que a mulher que eu amo, minha namorada está grávida de outro foi como levar um soco no estômago. Decido dirigir para o hospital, é melhor trabalhar e encher minha cabeça com qualquer outra coisa que não seja Alicia na cama com outro.

- Que carinha é essa? - Stefani pergunta assim que entro no pronto socorro.

- Aconteceram uma merdas - respondo olhando os prontuários - Qual a situação aqui?

- Uma paciente com cólica renal; um aguardando transferência, mas ainda está sendo medicado e aquela garotinha - ela aponta para a última maca -, que está me esperando para fazer uma sutura.

Levo o carrinho com todas as coisas necessárias para a sutura. A garotinha não deve ter muito mais que cinco anos. Ela está choramingando agarrada ao braço do pai. Cumprimento o homem e ele cochicha para a menina um quase inaudível "eles vão cuidar de você".

- Eu sou a Dra. Souza e prometo que vou deixar sua testa novinha em folha - ela diz com um sorriso. - O que aconteceu?

- Eu sou o padrasto - ele aperta a mão da Dra. e a minha em seguida. - Uma coleguinha empurrou ela do escorregador e ela acabou batendo a cabeça no concreto.

- Pensei que anjinhos voassem - a garotinha me responde com um sorriso com janelinha. - Qual é o seu nome?

- Sara - ela responde com a voz mais doce do mundo.

Respondo que é um nome muito bonito e começamos o processo de sutura. No final eu descolei um pirulito para dar para a garotinha. O padrasto dela me agradece e eu saio da sala do pronto socorro para meu turno na enfermaria, mas acabo dando de cara com a Stefani. A cabeleira ruiva dela presa em um coque apertado.

Ela me chama para ir até seu consultório e eu a sigo até a sala. Ela pede para que eu me sente enquanto encosta a porta. A Dra. Stefani caminha até sua mesa, arrasta alguns prontuários e se senta, me encarando. 

- Não vai mesmo me dizer o que está acontecendo?

- Não é nada.

- É alguma coisa com a sua namorada? - Meu olhar dele ter me denunciado, porque ela continua - Nunca vi o olho de ninguém brilhar mais que o seu quando fala sobre a pessoa que gosta. Seja lá o que aconteceu, eu acho que você deveria conversar com ela.

Ela se levanta e caminha até a porta. Ela segura a porta aberta para indicar que a conversa acabou. Eu me levanto e caminho na direção do corredor. Antes que eu saia do consultório, Stefani segura meu braço.

- Vou dizer aos supervisores que você não estava se sentindo bem e teve que ir para casa.

- Obrigado.

- Qualquer mulher que consiga te conquistar merece uma segunda chance.

Enquanto vou para o estacionamento eu me pego pensando no que Stefani me disse e em como eu me senti ao ver aquela garotinha ser tão bem cuidada pelo padrasto. Eu já não ia fazer isso com o Miguel? 

Decido que Alicia e eu merecemos ao menos mais uma conversa, nem que eu pague o papel de trouxa do ano, eu preciso saber se o melhor é realmente abrir mão de nós.

LEON

Ao abrir os olhos um terrível dor de cabeça tomou conta de mim. O quarto parecia muito claro e meus olhos reclamaram com isso. Minha boca tinha gosto de sola de sapatos e o cheiro de bebida emanando de meus poros me causou enjoo. 

Corações ErradosOnde histórias criam vida. Descubra agora