Capítulo 1 - Quem diria

172 21 6
                                    

Noventa dias sem ver o Danilo.
Tento imaginar que cada dia que se passa é um dia a menos para vê-lo. Pensando assim, tenho ânimo para levantar da cama e dar início a mais um dia. Foi muito difícil as primeiras aulas sem ele. A sala ficou absurdamente vazia. Fora os alunos que vinham até a mim perguntar por ele. Todo mundo já tinha prestado atenção em nós dois. Eu voltei a passar o intervalo junto com o Leandro e a Ester outra vez. Parecia que minha vida havia voltado à escala zero.

Faltava menos de dois meses  para o ano acabar, e a maioria dos alunos estavam empolgados com a nossa festa de formatura. Menos eu. Nem festa eu queria. Mas minha mãe fez questão que eu participasse, já que eu não quis a do nono ano.

- Você vai ser meu par, não é?  - Diz Leandro, sentando-se ao meu lado.

Eu olho para onde Ester está, junto com uns alunos da outra turma,  e ele parece entender.

- Ela não vai participar.

- Eu também não.

- Tia Mari disse que você iria.

- Não sei porque minha mãe insiste em algo que não quero. - Eu já estava começando a me chatear com aquilo. Não era justo. Eu nunca gostei de participar dos eventos da escola, onde todo mundo parecia aproveitar o momento para se exibir. Se Danilo ainda estivesse aqui, talvez eu me animasse mais...

- E que graça essa festa teria sem você? - Leandro está me fitando longamente. É mais um dos seus elogios baratos. Depois que o Danilo partiu, ele tem investido tempo em me elogiar. Deve pensar que eu me sinto especial por isso. Ele não entende que nada do que ele fala vai fazer a diferença para mim.

- Toda a graça, Leandro. Se não percebeu, eu não sou uma das populares. E sim, eu aceito vim com você. Até porque querendo ou não, eu vou vim mesmo. - Suspiro pensando novamente em minha mãe e suas insistências. Ultimamente ela procura desesperadamente qualquer atividade fora de casa para eu fazer. Acho que ela tem medo que eu me enclasure por causa do Danilo. Nem conto às vezes que ela já me pegou chorando sozinha no quarto. De qualquer forma, ela está fazendo isso pensando no meu bem. Devo ser mais compreensiva com ela.

- Boa garota! - Leandro abre um sorriso de orelha a orelha, e tenta pegar minha mão, acredito que para beijar, mas eu a afasto para longe do alcance dele. Não quero dar esperanças para o Leandro.

Ester se junta a nós.

- Adivinha: - ela diz - eu vou participar da festa.

- Quê?  - pergunto admirada com a repentina mudança de planos dela.

Leandro só diz: - Uau!

- E outra coisa: - ela sorri tentando ganhar tempo para nos deixar curiosos - eu já tenho um par!

Ela parece se divertir com o nosso assombro. Agora, Leandro realmente se interessa:

- E quem é? - ele pergunta.

- O Rubens.

Eu olho para onde ela estava a menos de um minuto atrás e vejo Rubens. Ele estuda na classe do Leandro, e parece que observa Ester de longe. Quem diria!

- Desde quando você e o Rubens são tão íntimos?  - Eu pergunto.

- Ah! Conversamos há um tempinho.

- Ester! - olho para ela magoada. Ela devia ter me contado.

- Uma hora você iria saber. - Foi só o que ela disse.

Leandro estava calado, de braços cruzados, e eu não sabia o que ele estava pensando disso tudo. Apesar de tudo, eu sempre pensei que eles voltariam, mas parece que não será assim. Ester também está olhando para Rubens.

Nós voltamos para a classe, e assim que Leandro entra na dele, Ester me diz:

- O Rubens me convidou para ser par dele desde a semana passada.

- E você só me diz hoje?

- Eu tinha que confirmar com meus pais. Deixei tudo para a última hora. Mas acabou dando certo. Desde o mês passado que ele troca mensagens comigo.

- Ele parece interessado em você.

- É. Parece. Mas vou com calma. Não quero me precipitar de novo.

O Rubens é um dos melhores alunos do terceiro ano. E também é evangélico. Ele é um bom partido para Ester.

...

Em todas as aulas de História, a professora Regina exige que fiquemos em círculo. Ela disse que ajuda mais na concentração, mas para mim é o contrário. Por exemplo: eu estou vendo que Natasha não para de olhar para mim. Ela nem ao menos disfarça! Espera! Ela está fazendo sinal que quer falar comigo depois. O que será que ela quer comigo?

Depois que a aula finalmente acaba, eu permaneço no meu lugar e espero Natasha. Nós mal trocamos algumas palavras, então estou bastante curiosa para saber o que ela quer comigo.

- Oi!  - ela diz - Eu posso te perguntar uma coisa?

Eu sei que ela já fez uma pergunta, mas mesmo assim respondo:

- Pode.

- Bem... - ela parece um pouco envergonhada - Aquele menino que anda contigo, o Leandro, ele tem namorada?

Nossa! Ela está interessada no Leandro!

- Pelo que sei, não tem não.

- Então ele não está mais com a Ester, não é?

- Não. Terminaram há um tempão!

- Você poderia entregar isso para ele? - Natasha está vermelha. Eu pego o papel rosado e sei que é uma carta dela para ele. É algo um pouco clichê e antigo, mas ainda considero um gesto fofo.

- Pode deixar. - garanto.

- Muito obrigada. - ela agradece sorrindo e logo se afasta.

Ester já me espera impaciente na porta, e trato de sair logo.

- O que ela te entregou? - a curiosa pergunta.

- Uma carta para o Leandro.

- Uau! Quem diria!

- Bico calado!

- Para quem mais eu contaria?

Leandro está nos esperando mais à frente. Logo na saída, antes que o pai de Ester chegue e que Leandro vá para o trabalho, discretamente eu lhe entrego o papel.

- A Natasha pediu para eu entregar a você.

- A Natasha? - ele estranha.

- Sim. Deve ser uma carta muito apaixonada. - eu brinco com ele.

Ele coloca no bolso da calça sem muito interesse.

- Ela é bem bonitinha, mas vou ser sincero em dizer que não dar.

- Você é um bobo!

Ele olha bem para mim e diz:

- Já estou interessado em outra pessoa.

Eu me encolho um pouco sem graça. Eu sei que essa pessoa sou eu.

(Des)complicado Amor (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora