Capítulo 4 - Esquecida

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Já fazia um mês que eu trabalhava. E agora, eu estava retornando do casamento da Bárbara. Como a família de Danilo não iria comparecer ao casamento, ela fez questão que eu fosse. Eu me senti honrada, mesmo que isso significasse viajar por mais de cem quilômetros na ida e na volta.  Como a festa foi durante o dia, não teve nenhum problema para retornar no mesmo dia para casa.

- Não vai falar nada? - Leandro insistiu me olhando pelo canto do olho enquanto dirigia.

Já fazia alguns minutos que ele tentava manter um diálogo comigo, mas eu não estava com a mínima vontade de falar, e deixei isso bem claro quando continuei com o rosto virado para o lado contrário, observando a paisagem. Ele suspirou. Eu era grata por ele ter se oferecido para vim comigo, já que meus pais não podiam, mas realmente não estava a fim de contar o que estava me chateando. Principalmente, porque era algo que iria lhe fazer muito feliz.

Eu não havia planejado ir para o casamento da Bárbara. Ela nem mesmo havia me dado um convite físico, tendo em vista que nem me conhecia quando foi visitar minha cidade. Mas há mais de um mês atrás, ela insistiu que eu fosse. Disse que era a única chance de vê-la antes de ir fazer missões entre os nativos da Bolívia, o que aconteceria duas semanas depois do casamento. Isso mesmo! Eles mal teriam uma lua-de-mel! No entanto, aparentavam está  felizes. Era o sonho deles.

Eu queria muito visitar minha querida amiga, pois a presença dela me fazia bem. Mas eu tenho uma aversão total à  sair de casa. Principalmente, se for para um lugar que eu não conheça ninguém. Juntando o fato de eu não ter ainda uma carteira de habilitação e meus pais se recusarem a ir comigo, eu teria de ir de ônibus. Dois grandes motivos para não ir. Mas Bárbara era muito insistente quando queria. E em uma dessas insistências, Leandro me ouviu mandando um áudio para ela explicando porque não iria. E ele se ofereceu para ir comigo. Não deu para recusar.

Nós havíamos chegado ao endereço, que era a casa da avó do Murilo, por volta de onze horas. Exatamente o horário marcado. A avó de Murilo, dona Margarida, nos recebeu muito bem, e nos levou até o local da cerimônia, que era um lindo jardim, onde já estavam outros convidados. Entre eles, tivemos a oportunidade de conhecer os pais do noivo. Tudo estava muito delicado, e senti vontade de me casar em um local assim. Era uma cerimônia pequena, com poucos convidados. Senti que Bárbara queria compartilhar aquele momento tão íntimo, com poucas pessoas. E me senti lisonjeada por está ali.

Bárbara entrou linda em um vestido que deixou ela perfeita. Ela entrou sozinha, e entendi que deveria ter sido com o pai do Danilo. Não deve ter sido fácil para ela. Mas dava para saber que aquele momento era o mais esperado de sua vida. Murilo derramou algumas lágrimas ao vê-la. Era indescritível o olhar apaixonado do casal. Suspirei ao observá-los.

- Porque que mulher é tão melosa? - Leandro questionou. Eu o ignorei.

Pouco depois, tendo terminado a cerimônia, e após as fotos com o casal, um farto almoço foi servido.
Mesmo estando muito ocupada, ela arranjou tempo para falar comigo particularmente antes de eu ir embora.

- Teve notícias do Danilo?

Aquele assunto me doía, e eu apenas balancei a cabeça em sinal negativo. Foi notável a surpresa em seus olhos.

- Eles me escreveram. Me mandaram uma carta.

A ficha caiu. Eu não havia cogitado a ideia de que Danilo poderia me escrever! Ele sabia o meu endereço!

- Eles lhe escreveram? - mal consegui perguntar tamanha era a dor que estava sentindo.

- Sim. Foram meses difíceis para eles. Quando chegaram, o apartamento que iriam morar não estava pronto ainda. Eles foram morar,  então,  em uma casa que perto corria um pequeno rio. Uma certa noite choveu muito, o rio subiu e eles acabaram perdendo tudo. Tudo mesmo! Eles escaparam por um milagre.

Apesar da sensação de rejeição, eu me preocupei com o que eles, principalmente o Danilo, tinham passado.

- Eles perderam meu contato, e de todo mundo, na verdade. Mas lembraram do meu endereço.

Notando meu desapontamento, ela colocou a mão em meu ombro, como um gesto para me confortar.

- Não se preocupe, ele vai te escrever. Ou talvez já tenha enviado, só faz três semanas que a carta chegou.

Três semanas! O Danilo teria enviado a carta para mim no mesmo dia que a da Bárbara foi enviada! Estava claro como a água que ele não queria mais saber de mim. Fui uma boba em acreditar que ele estava sentindo minha falta , como eu sentia a dele.

- Na carta, eles escreveram seus novos contatos. Você quer? Talvez você possa falar com ele antes mesmo da carta chegar.
Ela acreditava piamente que ele iria mandar uma carta para mim! Eu estava morrendo de vontade de falar com ele novamente, mas o orgulho me consumia.

- Vou esperar a carta chegar. - falei para evitar maiores explicações. Não queria que Bárbara percebesse o quanto eu estava decepcionada.

- Tem certeza?

-  Tenho. Melhor assim. - Meu coração no entanto, estava em pedaços. Mas sustentei minha palavra.

- Tudo bem. - ela deu de ombros - eu só tenho esses dias para falar com eles antes de partir. Vou ficar isolada do resto do mundo depois que entrar na floresta dos nativos.

Bárbara era a única pessoa que ainda me ligava a Danilo. Eu sentia muito em vê-la partir, mas talvez fosse melhor assim. Eu estava muito amargurada por ele ter esquecido de mim.

(Des)complicado Amor (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora