Um ano sem notícias do Danilo. É muito tempo para qualquer pessoa, mas principalmente para mim. Choveu o dia inteiro. Por sorte, era feriado. Passei o dia todo de pijama, e a maior parte dele deitada em minha cama. Aproveitei para ler os livros que o Renan me deu. Já faz uma semana que ele nem pisa na loja. Deve está trabalhando em casa.
Lá pelas quinze horas, Leandro chegou munido de uma capa e um guarda-chuva, e entrou molhando todo o piso da sala. O tempo parecia piorar cada vez mais. As gotas da chuva eram tão grossas que dava a impressão de que iam furar o chão. Não ia dar trégua tão cedo. Eu admirei a coragem de Leandro em sair de casa em um dia assim.
- Adorei seu pijama de ursinho. - ele brincou.
Eu revirei os olhos para ele como resposta. Xereta como sempre, ele pegou meus livros que deixei em cima do sofá, onde agora eu estava deitada. Eu estava admirada por ele aparecer assim do nada. Já estava me acostumando com seu jeito mais retraído dos últimos meses.
- Livros legais. - ele virou a página de um e leu o que Renan tinha escrito para mim - Esse cara é super a fim de você.
- Não é mais. - falei em tom casual e o rosto dele se iluminou.
- O que aconteceu?
Contei tudo para Leandro. Ele fez uma careta na parte em que eu disse que falei para Renan que era comprometida e que meu namorado morava longe. Ele sabia que eu me referia ao Danilo. A quem mais seria?
- Tira o cavalinho da chuva, Júlia, ele não vai voltar.
As palavras duras foram como uma facada no meu coração. Meus olhos se encheram de lágrimas. Por incrível que pareça, era a primeira vez que nós dois falávamos abertamente sobre este assunto. Até então, eu sempre tinha evitado conversar com ele sobre isso, e parecia que ele também não queria comentar nada a respeito dessa minha espera.
- Se ele realmente te amasse, não teria lhe deixado, para começo de conversa. - Leandro falava com a respiração pesada, como se as palavras doessem ao sair de dentro dele. Parecia está magoado também.
Foi aí que tudo começou a fazer sentido: o Danilo deveria ter lutado mais para ficar. Deveria ter insistido mais com seus pais. Tudo aquilo que alimentava minha esperança de que ela voltaria um dia, não era nada comparado com o que eu estava pensando agora. Eu, mais uma vez, tentava lutar contra aqueles pensamentos mesquinhos, mas Leandro continuava falando, e eu me sentia frágil, incapaz de pensar o contrário. De repente, senti raiva. Raiva de mim mesma por ter passado um ano acreditando que ele viria até a mim, quando na verdade, nem contato ele fez comigo.
Eu me permiti se distrair com o Leandro. Ele deve ter percebido que fiquei mal, e começou a contar diversas histórias engraçadas que eu tanto gostava de ouvir. Me permiti rir mais uma vez de suas piadas, mesmo já tendo escutado muitas e muitas vezes. Eu me permiti se sentir à vontade com Leandro mais uma vez... Afinal, ele ainda era meu melhor amigo, meu único primo e o que sempre esteve comigo.
No final, acabei tendo uma tarde agradável na companhia dele. Brincamos de jogo-da-velha, assistimos filmes e comemos pipocas. No começo da noite, começou a trovejar, e parecia que uma tempestade ia chegar a qualquer momento. Leandro acabou dormindo em minha casa, no sofá.
Quando todos já estavam dormindo, liguei para Ester. Contei tudo para ela, não escondi nada do que estava passando no momento. É claro que ela ia me condenar.
- Você está deixando se iludir pela lábia do Leandro. Ele conhece seu ponto fraco. - ela me alertou.
- Um ano, Ester. Não é só um dia, nem só um mês. - falei enquanto derramava algumas lágrimas.
- O Danilo lhe alertou sobre isso várias vezes, Júlia. - ela fez questão de me lembrar. Eu havia contado tudo a ela. E ela teve paciência de me ouvir repetir as mesmas coisas muitas vezes.
No momento, eu só queria ter uma vida normal como a de muitos jovens da minha idade. Sem precisar ter medo de ser esquecida ou enganada. Ainda conversei alguns minutos com Ester. Eu queria que ela me entendesse, mas tudo que ela fazia era me mostrar que a decisão certa seria honrar a palavra que eu havia dado ao Danilo. Mas, nem eu mesma confiava mais no que tinha dito. Eu havia romantizado tudo aquilo, e o que tinha sobrado era apenas a incerteza de sua volta.
Me despedi de Ester alegando que eu estava morrendo de sono. Porém, ainda passei muito tempo deitada sem conseguir dormir. Era só mais uma noite de insônia das muitas que já tive. Sempre que me preocupo com alguma coisa, o sono foge de mim. Me levantei para tomar água e não resisti em dar uma olhada em Leandro, que dormia profundamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
(Des)complicado Amor (LIVRO 2)
RomanceContinuação de "Complicado Amor" Júlia Beatriz fez uma promessa: ela esperaria por Danilo. Danilo, por sua vez, prometeu que iria voltar. Nenhum dos dois imaginou quanto tempo iria se passar até aquele reencontro acontecer. Leandro, porém, usa esse...