Nunca esperei tanto pela hora do almoço. Mal deu meio-dia e eu disparei pela porta, ainda ouvindo Renata me pedindo para esperar a quentinha. A comida poderia ficar para depois. Entrei na loja vizinha e por sorte, Leandro estava sozinho.
- Por que escondeu de mim o namoro com a Natasha? - perguntei na lata.
Ele ficou branco:
- Como você sabe?
- O menos importante agora é saber como descobri. Por que escondeu de mim, Leandro? Não foi você que me passou um sermão porque eu não compartilhava minhas preocupações? - sorri com ironia.
Lembrar de tudo que o Leandro falou e ver que tudo não passava de falsidade, me enojava.
- Não escondi só de você. - Era novidade ele está admitindo alguma coisa, mas aquilo era curioso.
- Como assim?
- Bom - falou um pouco sem jeito - era um namoro escondido. - confessou.
Abri minha boca, surpresa. Aquilo era ridículo!
- Quê??? Quantos anos você tem mesmo? - ele olhou um pouco magoado ao ver que eu zombava dele.
- Você não entende, Júlia. O pai dela, por algum motivo que desconheço, não foi com minha cara. Então, ninguém poderia saber. A gente se encontrava na casa da tia dela. - Parou e olhou para mim - Foi a tia dela que contou, não foi?
- Tanto faz! Quanto tempo durou esse namoro? - Exigi saber.
- Uns... três meses no máximo... eu acho. Não deu para continuar. - ele evitava olhar para mim.
- Leandro, olha para mim. - falei com voz firme e ele me encarou com bastante vergonha.
- Como você ousa dizer que me esperou pacientemente por mais de um ano?
- O que você queria, Júlia? Você não me dava garantia de nada!
- Eu só queria que você fosse sincero. Que falasse a verdade. - cada vez mais eu me surpreendia com as mentiras do Leandro.
- Me desculpa, tá? Eu ia lhe contar naquele dia que o Renan lhe ligou. Quando vi que ele estava muito interessado em você, fiquei com medo de você aceitar namorar com ele quando soubesse que eu estava namorando também.
Eu não conseguia acreditar que havia escutado aquelas palavras saindo da boca de Leandro. Ele não teve respeito nenhum pela namorada. Aquilo nem merecia resposta. Eu já ia sair da loja quando me lembrei de algo.
- No meu aniversário, você estava namorando, não estava?
Ele não respondeu, mas pude pelo seu olhar que sim. Revoltada, eu saí sem dizer mais nada. Como pude quase ter sido enganada por ele? O Leandro era uma farsa! Procurei me acalmar e inspirei várias vezes para me controlar. Nunca mais eu veria o Leandro da mesma forma.
...
No dia seguinte, acordei com o pé esquerdo. Literalmente, pois foi o dedão dele que bati na cômoda quando me levantei assustada por ter passado da hora de me acordar. Enquanto eu me esforçava para não gritar de dor, esbarrei em minha pilha de livros que estava na mesa e acabei derrubando tudo, misturando uns papéis que estavam soltos. Como se não bastasse, descobri que minhas duas blusas do uniforme de trabalho estavam sujas. Imprudência minha. Eu iria trabalhar sem uniforme e Renan me olharia daquele jeito. Mais um motivo para ele reclamar, além do meu atraso, claro. Saí sem merendar e de cara lavada, pois não havia tempo de me maquiar. E de rasteirinha, pois o dedo ainda estava dolorido.
Cheguei na loja cansada e quase suada depois de tanta correria. Renata riu ao ver minha aflição. Contei para ela todos os azares daquele dia e ela acrescentou mais um à lista, pois avisou que teria que se ausentar o dia todo para resolver uns assuntos. Olhei para ela e fiz beicinho. Eu detestava ficar sozinha.
- Já não basta toda a má-sorte que tive hoje?
- Se prepare, ainda não são nem nove horas. - ela falou completando com uma risada, saindo logo em seguida.
Eu quase chorei imaginando o que ainda poderia acontecer naquele mesmo dia. E aconteceu que um pouco depois de dez horas Leandro entrou na loja. Quando ele viu que eu estava sozinha, desistiu de fazer seja o que fosse que ele pretendia, e voltou. Desde o dia anterior que não nos falávamos, e não seria eu a primeira a fazer isso. Ele que me devia desculpas. Mesmo assim, senti um pontinha de tristeza, nós sempre fomos muitos amigos a vida toda. E até então nunca tinha existido um desentendimento tão grande como agora. Pensando nisso, eu até quase chorei. E com receio de alguém ver meus olhos marejados, fiquei de costas para a entrada a fim de me recompor. Eu ainda estava tentando não chorar quando ouvi a porta se abrir. Passei a mão pelos olhos e me virei. A pessoa, ou seja, o rapaz que acabava de entrar, estava de costas para mim e falava ao telefone. Ele me pareceu extremamente familiar. Analisei a jaqueta jeans que ele usava, e a mochila nas costas. Senti um friozinho na barriga e meu coração disparou. Ele estava mais alto e o cabelo um pouco diferente, mas muito mais belo. Foi quando ele desligou o celular e se virou para mim. Sim. Era o Danilo. Meu dia tinha passado de ruim para maravilhoso.
------------
Aêêê.. até que enfim o Danilo apareceu!!! Comemorem!! Quase morro para encontrar um título que não desse spoiller he he
VOCÊ ESTÁ LENDO
(Des)complicado Amor (LIVRO 2)
RomanceContinuação de "Complicado Amor" Júlia Beatriz fez uma promessa: ela esperaria por Danilo. Danilo, por sua vez, prometeu que iria voltar. Nenhum dos dois imaginou quanto tempo iria se passar até aquele reencontro acontecer. Leandro, porém, usa esse...