Capítulo 8 - Carona

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Conferi a caixa de Correios. Era inútil: três dias verificando e nada. Achei que já estava fazendo papel de boba. Entrei em casa me sentindo mais cansada que o normal. Havia sido um dia exaustivo. E eu também estava um pouco zangada devido a mais uma tentativa,  sem sucesso, em encontrar uma carta endereçada a mim. Tudo que eu mais queria era uma notícia, um recado, alguma coisa que significasse que ele ainda lembrava de mim.  Joguei minha bolsa no sofá e me dirigi à cozinha para tomar um copo com água.

Enquanto sentia o líquido refrescando minha garganta, refleti sobre o que eu estava passando. Eu realmente precisava de alguém para conversar, trocar ideias, sei lá... Alguém para rir comigo. Eu sentia falta de Ester. Era minha única amiga. Semanas depois de nossa festa de formatura, ela foi morar a  quilômetros de distância. Foi muito doloroso me afastar dela. Nós nos falávamos por WhatsApp, mas era difícil conciliar nossos horários.

Eu andava pela casa quando vi no celular  uma mensagem de nosso líder de jovens, no grupo,  lembrando que hoje haveria uma palestra direcionada à  juventude na minha igreja.  O palestrante, geralmente, é um convidado de outra igreja, e é um momento muito rico em aprendizado e edificação. Mesmo cansada, eu não poderia faltar. Eu amava aquelas palestras.

Resolvi deitar uns minutinhos antes. Precisava descansar meu corpo dolorido. Passei muito tempo levantando caixas de livros pesadíssimas. Minha coluna parecia de uma anciã. E eu nem tenho dezoito anos ainda! Minutos depois, me vi lutando comigo mesma para me levantar e me arrumar. Mas hoje eu estava decidida a ir. De fato, que não demorei muito em tomar um banho e me vestir.

Cheguei quinze minutos antes de começar. Vinte minutos depois, nosso líder estava apresentando o palestrante daquela noite e, adivinha! Era o Renan. Fiquei de queixo caído! Não imaginava que ele seria... como posso dizer.... assim...   dedicado na igreja. Mas pelo que ouvi, ele era dirigente de jovens na igreja dele. Procurei por Renata,  mas ela não estava. Era estranho ver o Renan sem o uniforme da loja, e do lugar de uma pasta na mão, ter uma Bíblia.

Ele se apresentou, ainda que Elias tenha feito isto antes, e contou um breve testemunho de sua vida. Foi quando seus olhos se dirigiram até onde eu estava, e ele se mostrou um pouco surpreso em me ver. Mas logo recuperou a postura. O tema da palestra que ele ministrou era Como ser santo em um mundo impuro, tendo como base o livro de Daniel. Era fascinante a forma como ele falava, e nos prendeu do começo ao fim. Quase no final, ele incluiu o tema Namoro, mostrando a importância de termos um namoro santo, mesmo que o mundo grite para fazermos o contrário.  Pude perceber que tudo o que Danilo havia falado para mim, estava encaixado ali. Naquele momento, vi que Danilo realmente procurava aplicar a Bíblia em todos seus atos. Mais uma vez, senti em meu coração que eu deveria esperá-lo. E então, eu senti paz. Já não importava se eu tinha uma carta ou não, eu ia esperá-lo. Naquele momento, Deus confirmava nosso relacionamento. Mesmo amando o Danilo e ele dizendo que era a vontade de Deus que tivéssemos um futuro juntos, eu mesma, ainda não tinha experimentado aquela certeza como a que estava sentindo naquele momento, em meio àquela ministração. Era estranho, porque eu não fazia ideia de onde o Danilo se encontrava, mas mesmo que Deus não dissesse quando seria o momento que nos encontraríamos, eu sei que um dia aconteceria.

Uma hora e meia depois do início, a palestra terminou. Eu ainda estava na frente da igreja, ouvindo os relatos de algumas meninas sobre a palestra, quando Renan se aproximou. Notei que ele estava receoso em falar comigo.

- Não sabia que você se congregava aqui. - ele disse.

Era estranho ele ter puxado conversa e falar olhando nos meus olhos. Eu estava acostumada com seu jeito sério e apressado.

- Desde a infância sou desta igreja. - respondi, um pouco tímida.

- Você veio com alguém? Seus pais?  - perguntou olhando ao redor, ao ver que eu estava sozinha.

- Na verdade, vim sozinha. - esclareci o óbvio.

- Posso lhe dar uma carona. - ofereceu.

Se era estranho ele conversar comigo, mas estranho ainda era me oferecer uma carona. Não tinha porque eu aceitar. Minha igreja não era tão longe de casa, e também, não havia perigo nenhum em eu andar sozinha. Já tinha feito isso várias vezes.  Mais constrangedor seria ir sozinha de carro com ele. Se pelo menos a Renata tivesse vindo... Ele pareceu notar minha indecisão:

- Não será incômodo nenhum. - garantiu.

Será que ele estava tentando se redimir pelo tempo que praticamente ignorou minha presença na loja?
Eu não tinha uma desculpa à altura então resolvi aceitar. Tentei disfarçar ao máximo o incômodo que senti ao entrar no carro. Observei, aliviada,  que ele ia manter os vidros abertos.

- E a Renata, não quis vim? - perguntei para parecer que estava à vontade. A verdade é que eu nunca tinha me sentido confortável na presença dele.

- Ah, ela estava cuidando de alguns documentos que serão precisos para levar na faculdade amanhã.

- A Renata vai estudar?  - meu coração deu um pulo. Já estava na hora de eu encarar que precisava iniciar uma graduação também. Não podia mais adiar. Lembrei que ela tinha falado alguma coisa a respeito, mas eu não tinha prestado muita atenção.

- Sim. Ela vai cursar Letras. - Letras! Era meu sonho! No dia seguinte, eu pediria todas as informações a ela e, quem sabe, poderíamos estudar juntas.
Para continuar conversando, já que o silêncio é mil vezes mais desagradável, manifestei meu interesse em estudar Letras também. E, para minha surpresa, Renan me incentivou muito.

Antes que eu me desse conta, já estávamos na minha rua.

- Moro aqui. - falei quando chegamos em frente à minha casa - Obrigada pela carona. - agradeci ao sair.

- Nos vemos amanhã. - Ele respondeu antes de sair, surpreendedo-me.

(Des)complicado Amor (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora