(Des)complicado Amor (LIVRO 2)

Capítulo 20 - Confissão

Passei o restante do dia nas nuvens. Eu estava tão feliz que nem a cara feia de Renan, que chegou pouco depois que Danilo saiu,  estragou meu humor. Torci para que as horas se passassem bem depressa, eu não via a hora de ver Danilo novamente. Leandro visitou a loja, pela segunda vez no dia, assim que Renan entrou. Ele se recusou, de novo, a olhar para mim. Mas nem isso estava importando mais.

Mal marcou dezessete horas, eu voei para casa. Eu estava tão leve que poderia voar, se quisesse.

Danilo chegou quinze minutos antes do horário combinado. Eu imaginei que ele queria conversar com meus pais. Quando falei para eles que iria sair com o Danilo, pensaram que eu estava louca. Mas agora, eu estava escutando a surpresa dos dois ao verem que o Danilo realmente veio. Dá para perceber como a voz de meu pai está em um tom muito animado.

Estou um pouco nervosa com este encontro. Não sei o que ele irá me contar, e pior, não sei como eu vou contar tudo o que se passou durante o tempo que estivemos longe um do outro. Me deu um calafrio só em pensar no que pode acontecer se ele souber o quanto fiquei tentada por Leandro de novo.

Respirei fundo três vezes e dei uma última olhada no espelho antes de sair. Eu estava me sentindo bonita naquela noite. Usei o meu melhor vestido e até arrisquei em usar um pequeno salto. Ainda que fosse para ficar na sala, eu teria me vestido do mesmo jeito. Era uma ocasião especial.

Quando, finalmente, cheguei à sala, todos os olhares se viraram para mim. Meu pai me elogiou exageradamente,  me deixando muito envergonhada. Danilo, no entanto,   não tirava os olhos de mim. Se despedi rapidinho antes que meu pai me fizesse passar vergonha de novo e saímos. Assim que passamos pela porta, ele segurou minha mão. Caminhar de mãos dadas com ele era uma sensação maravilhosa. Instantaneamente, lembrei do sonho que tive conosco meses antes.

- Que tal irmos à pizzaria?

- Uma pizza cai bem. Pode ser aquela que fomos com as meninas naquela vez? Aquela do dia em que você... - parei no meio da frase, sentindo minhas bochechas já esquentando.

- Em que eu me declarei para você e te convidei a orar comigo? - ele completou.  Não pareceu ficar constrangido em falar, pelo contrário, mostrava-se muito satisfeito.

- Essa mesmo. - respondi baixinho mas não olhei para ele.

Continuamos a andar, e como tudo em meu bairro era perto, logo chegamos. Por ser meio de semana, o local estava quase vazio e podemos escolher o mesmo lugar onde estivemos naquele dia. Escolhemos o sabor de nossa pizza, e fizemos o pedido. Ainda tinha uns bons minutos para conversarmos antes da pizza ficar pronta.

- Eu passei todo o tempo planejando  que nosso primeiro encontro seria em um lugar chique. Me desculpe, mas é que não deu para programar a tempo. - Danilo falou dando uma olhada em redor, antes de olhar para mim.

Ele mal sabia que até se eu ficasse sentada na calçada com ele e comendo pipoca, eu já estaria feliz. 

- Aqui está ótimo, relaxa. O importante é que você está comigo. - criei coragem para expressar o que estava sentindo -  Agora, me conte: como veio parar aqui?  - eu não aguentava mais de curiosidade.

- Eu comecei um curso técnico em contabilidade que a empresa em que meu pai trabalha oferece. É um curso muito bom e eu me identifiquei com a área. Como meu pai é bastante conhecido, eu iniciei mesmo antes de terminar o Ensino Médio. Então, já estou bem avançado. Eles também ofereceram um bom estágio com opção em várias cidades e estados. Eu mal pude acreditar quando vi que nesta cidade tinha duas vagas disponíveis. Passei o restante do dia agradecendo a Deus. Meus pais não se opuseram em nada, e o mais interessante, é que meu amigo também quis vim comigo. Vamos morar em um pequeno apartamento junto da empresa.

Eu ouvia atentamente cada palavra.

- Quem é esse amigo?

- O nome dele é Calebe. Ele também é cristão e tem sido uma bênção de Deus na minha vida. Você vai gostar de conhecê-lo.

Mesmo ouvindo tudo muito bem, eu ainda estava um pouco perdida nos relatos. Um dia antes, eu não tinha quase esperança que o Danilo chegaria, e agora ele estava falando que iria estagiar na mesma empresa que meu pai trabalha.

- Isso é... maravilhoso. - eu não tinha palavras para expressar o quanto estava feliz.

Neste momento, notei-o um pouco inquieto, como se quisesse falar algo mas tinha medo da resposta.

- Agora, me responde, Júlia, porque não respondeu a nenhuma carta?

Eu fui lá no céu e voltei.

- Carta???  Você me mandou alguma carta? - fiquei chocada em ouvir a sua pergunta, e ainda assim, senti alívio ao saber que ele tinha procurado manter contato comigo.

- Eu simplesmente mandei dezenas de cartas. Na verdade, na primeira carta, mandei meus novos contatos. Quando vi que não tinha resposta, mandei outra. E assim, uma após a outra. Eu não entendia o que podia ter dado errado. Chequei o endereço diversas vezes, mas não tinha nada incomum.

- Não cheguei a receber nenhuma. - falei ainda em choque.

- Eu só faltei ficar louco por falta de notícias suas. Mas me recusei a acreditar que você havia esquecido de mim. Isso explica tudo: você não respondeu porque não chegou a receber. Eu sabia que tinha algo errado. Eu nunca duvidei de você, Júlia.

Me envergonhei bastante ao ouvir isso dele. Me  lembrei que havia recusado os contatos oferecidos por Bárbara. Eu fui uma tola. Naquele momento, eu me enxerguei: eu era indigna do Danilo. Enquanto ele sofria por não ter notícias minhas e acreditou em mim até o final, eu quase caí nas lábias de Leandro. Eu devia está com uma cara muito estranha, porque Danilo me perguntou com semblante preocupado:

- Júlia, você está se sentindo bem?

Não aguentei mais e rompi em lágrimas.

- Me desculpe, Danilo, - falei com a voz entrecortada pelo choro - eu não sou quem você pensa.

Ele se aproximou mais de mim, afagando meu cabelo em uma tentativa de me acalmar.

- O que aconteceu?

- Eu... - respirei fundo - Eu quase tive uma recaída pelo Leandro.

Pronto. Não tinha como voltar atrás. Eu havia confessado e, provavelmente, tinha estragado tudo.