Capítulo 16 - Cumplicidade

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Eu me arrependi no mesmo instante em que prometi. Deveria ter sido mais firme em minha decisão. Mas, Leandro parecia ter o poder da persuasão. Aquilo não era novidade. E me deixei levar pelo seu olhar tristonho, que poderia muito bem ter sido uma arma para me enganar. Por que sempre faço tudo errado? A saudade que sentia de Danilo se tornava insuportável a cada dia. Tanto que cheguei a pedir a Deus que arrancasse aquele sentimento de dentro de mim se não fosse a vontade dele. Mas pelo visto, meu pedido não foi atendido, pois a cada dia eu pensava nele.

Quando falei que iria pensar no assunto, achei que Leandro me daria um tempo para que eu decidisse melhor. Mas não, ele vivia todo seu tempo livre em minha casa e andava várias vezes na loja. Não me dava espaço nenhum. Ele estava tornando tudo mais complicado. Era difícil raciocinar tendo ele sempre no meu pé.

O Leandro foi a única pessoa que amei, além de Danilo. Mas eu sabia que ele não era pra mim. Deus já havia me confirmado que era o Danilo, no dia daquela palestra. Então porque eu estava insistindo? Pensando nisso, chamei o Leandro para conversar certa tarde. Não tinha sido um dia muito bom, Renan tinha retornardo à livraria, e voltou a ser o mesmo antipático de sempre. Agia como se só Renata estivesse ali. Claro que eu não esperava receber um tratamento especial depois de rejeitá-lo, mas bem que ele poderia ser mais civilizado. Tentei não ligar muito para isso, mas era um pouco chato ser tratada com tanta frieza. Mas mesmo não estando muito bem, eu não poderia adiar aquela conversa tão importante.

Eu saí do trabalho, e Leandro pediu para sair mais cedo. Seu Bernardo, que gostava muito dele, aceitou sem muita relutância. Assim, caminhamos até a praça. Aquela praça era repleta de histórias para mim. Eu e Leandro havíamos compartilhado muitos momentos nela, mas as melhores lembranças que eu tinha, vinha de Danilo. Ia ser difícil falar para Leandro que nunca haveria nada entre nós além da amizade. Dava para perceber que seu olhar estava cheio de expectativa e eu sentia muito em decepcioná-lo. Lamentei meu momento de fraqueza naquele fatídico dia de chuva, eu mesma havia me colocado naquela situação. Entretanto, eu estava decidida: mesmo que eu nunca mais voltasse a ver o Danilo, não iria namorar com o Leandro. Nunca daria certo. Porém, antes que eu abrisse a boca, ele falou me surpreendendo:

- Você não me parece muito bem. - eu havia feito de tudo para disfarçar o mal-estar que estava sentindo, mas parece que não deu muito certo. Eu era péssima em fingir.

- Estou ótima. - era péssima em mentir também, porque Leandro balançou a cabeça deixando claro que não acreditava no que eu dizia.

- Você sentiria menos tristeza se confiasse em mim, sabia?

- Como assim não confio em você?

- Quantos meses se passou desde o casamento da Bárbara? - ele perguntou me lançando um olhar afiado e eu entendi.

- Não sei desde quando você resolveu esconder as coisas de mim, mas me parece que não lhe fez muito bem.

- Onde você quer chegar? - perguntei já prevendo o final daquela conversa esquisita.

- Há mais ou menos um ano que você não é a mesma Júlia que conhecia: feliz e de bem com a vida.

- Claro que... - tentei me defender, mas ele me cortou.

- Não precisa negar, e nem fingir. Eu lhe enxergo através de qualquer aparência, Júlia. Enxergo seu coração chorando mesmo que seus lábios estejam sorrindo. - mesmo sabendo a quem ele queria culpar fiquei comovida com aquelas palavras e o nível de cumplicidade entre nós. E foi exatamente isso que me fez perder um pouco da coragem de mencionar o verdadeiro motivo por estarmos ali.
Ele se aproximou mais de mim:

- Você tem a mim, Júlia, para contar em todos os momentos. Não precisa se esconder em seu quarto e molhar o travesseiro. Eu nunca lhe deixaria na mão.

Não sei se foi o fato de está chateada com o Renan, ou por lembrar de tudo que passei até ali, mas deixei escapar algumas lágrimas. Gentilmente, Leandro as enxugou. E foi aí que perdi o restante da coragem que ainda havia sobrado. Eu não poderia magoar o Leandro naquele momento.
Mesmo que uma vozinha lá dentro estivesse me dizendo que tudo ali tinha sido planejado por ele porque ele sabia o que eu iria falar, ignorei e resolvi adiar aquela dura notícia.

(Des)complicado Amor (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora