Capítulo 10 - Suspeita

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Eu li e reli a mensagem. Não havia nada de incomum, era só uma mensagem normal. Porém, ela foi capaz de me fazer gastar bastante tempo pensando nela. Se não fosse as palavras "especial" e "lhe admiro muito" eu poderia ter deixado para lá. Mas não deu para deixar passar despercebido aquelas expressões um tanto afetuosas. Isso se devia ao fato de ser o Renan quem a escreveu. Aquilo não parecia  fazer o tipo dele. Dias antes, nem se passava na minha cabeça receber um cartão dele. Mesmo sendo de aniversário. O Renan, desde que o conheci, sempre se mostrou muito reservado.  Só não fiquei mais surpresa porque ele tinha mudado muito nos últimos dias.

...

- E aí? Já começou a ler os livros? - Renan perguntou enquanto me ajudava a organizar uns livros na prateleira. Isso mesmo! Ele estava me ajudando! Quando ele se prontificou a isso, Renata ficou tão espantada que perguntou se ele estava doente. Eu também não fiquei menos admirada.  Quando não estava fora, Renan passava o tempo todo no escritório. Mas agora, ele estava comigo organizando livros.

- Ainda não - respondi - estou um pouco ocupada esses dias. Estudando algumas coisas.

Renan riu.

- Você começou o primeiro semestre agora! Imagina só depois do terceiro!  Mas eu sei que você vai gostar dos livros.

- Imagino que sim. Na verdade eu até já dei umas folheadas neles. - falei e me arrependi. Ele podia perguntar se eu havia encontrado o cartão. Fiquei vermelha só em pensar nessa possibilidade. Mas, ele acabou não falando nada a respeito disso. Apenas comentou:

- Ainda tem o último da coleção. Infelizmente, quando procurei não havia nenhum exemplar disponível nos sites que costumo fazer compras.  Mas acredito que daqui a alguns dias vai ter e farei o pedido.

Meu aniversário já havia passado. Por que ele ainda estava querendo me presentear com livros? Eu já estava começando a ficar constrangida. E fiquei mais ainda quando percebi que ele estava me olhando fixamente. Rapidamente, peguei um livro qualquer e  fingi está absurdamente interessada nele, a fim de não  retribuir o olhar.

- Você tem planos para esse final de semana?  - ele perguntou enquanto me olhava. Se antes ele evitava olhar para mim, agora me encarava além da conta.

- Tem culto na minha igreja. - respondi.

- É culto de jovens na minha. Você não poderia nos fazer uma visita?

Automaticamente lembrei do convite que Danilo me fez, meses antes. Eu havia relutado em ir no início, mas acabei indo depois. E o resultado foi que amei a igreja. Eu acabei indo outras vezes com Danilo, e depois que ele foi embora, eu ainda tive vontade de ir, mas não queria ir sozinha. Agora o Renan estava me convidando, mas achei melhor não aceitar. Eu ainda não sabia sua verdadeira intenção. Poderia ser só um convite normal, ele era líder de jovens, mas também poderia ter algo a mais. Ele estava agindo muito estranho.

- É que não gosto de visitar outras igrejas quando tem trabalho na minha. Me desculpe. - fui direta.

Ele franze a testa como se estivesse analisando a minha resposta. Nós já havíamos terminado de arrumar os livros, então ele estava parado de frente para mim.  Antes de falar, ele sorriu. Percebi que era raro o Renan sorrir, mas ultimamente, ele sorria com frequência.

- Não tem problemas. - falou - Ainda vão surgir muitas oportunidades. - E continuou sorrindo. Qual era a dele?

Renata pigarreou e ele recuperou a pose. Fiquei com vergonha por ver que ela estava nos observando.

- Telefone para você. - ela falou para Renan. Ele foi atender e minutos depois saiu em sua habitual pressa se despedindo brevemente. Eu fiquei ao lado de Renata no balcão.

- Ele está agindo como um bobo apaixonado.

- Quem? - fiz-me de desentendida. Renata nunca havia conversado sobre  assuntos amorosos comigo.

- Ora quem! O Renan. Ele está caidinho por você.

- De onde você tirou isso? - Perguntei morrendo de vergonha.

- De onde eu tirei? Vai dizer que você não percebeu?

- Você deve está se confundindo. - simulei ingenuidade.

- Eu conheço meu irmão. - Foi só o que ela disse.

Será que ele estava mesmo gostando de mim? Analisando todos os fatos eu poderia suspeitar que sim. Não havia outra razão aparente para o seu tratamento generoso comigo nos últimos dias.

Mas a questão é: o que eu farei caso o Renan se declare para mim? Eu nunca o imaginei como um possível namorado. Não mesmo! Eu até o achava um tanto antipático e metido,  além de ser bem mais velho que eu.  Só agora que ele está mais legal.   E considerando o fato de trabalharmos juntos, esse é um assunto um tanto delicado. Se eu aceitar (o que está totalmente fora de cogitação), seria um pouco estranho. E se eu não aceitar, como ele vai reagir? O Renan é praticamente meu chefe, já que vi o pai dele aqui na loja apenas uma vez desde que comecei a trabalhar. É uma situação complicada e ruim dos dois lados. Se eu estivesse com o Danilo tudo seria mais fácil.

(Des)complicado Amor (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora