Capítulo 21 - Flagra

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Muitos certamente me criticariam por soltar essa bomba logo no primeiro dia em nos víamos,  depois de um longo período sem nenhum contato. Mas a verdade, é que eu não conseguia  guardar aquilo por nem um segundo a mais. E ouví-lo dizer que confiou em mim cegamente,  fez a culpa que eu sentia se tornar insuportável. Não dava mais para esconder do Danilo o que havia se passado comigo enquanto ele estava fora. Eu não conseguiria seguir adiante com ele, com aquele peso na consciência.

Eu ainda estava de cabeça baixa,  esperando pelo momento em que ele se levantaria, sairia e me deixaria sozinha. Eu bem que merecia. Talvez ele até me dissesse umas verdades antes, o quanto estava decepcionado comigo e arrependido de ter vindo de tão longe só para me ver. Sem falar de outras cidades bem mais desenvolvidas que a minha, em que ele teve a oportunidade de fazer o estágio.

Mas me surpreendi ao sentir seus braços ao redor de mim, em um gesto reconfortante. Não. O Danilo não poderia ter entendido o que acabei de falar.

- Você não entendeu. - expliquei novamente - Eu quase acreditei no Leandro de novo. Eu cheguei a pensar seriamente em...

- Claro que eu entendi. Eu entendi  tudo. - ele falou com voz suave.

- E você não está com raiva? - estranhei.

Danilo se ajeitou na cadeira,  ainda mantendo seus braços em volta de mim.

- Quando fui embora, estava consciente de que o Leandro não pouparia esforços para lhe reconquistar. Ele não estava de brincadeira. E sabendo agora que você não recebeu nenhuma carta minha, lhe considero forte por ter resistido enquanto não fazia ideia do que havia acontecido comigo.

- Mas... eu não resisti tão bem, Danilo. Eu tinha razão: você ainda não entendeu o que realmente aconteceu. - Escondi o rosto em minhas mãos, em um gesto de desânimo. O Danilo não fazia ideia do tanto de liberdade que eu havia dado ao Leandro. Mas, novamente, o escuto falar:

- Meu amor,  - disse enquanto tomava minhas mãos entre as suas - mesmo que eu chegasse aqui e você estivesse namorando com o Leandro, ainda assim,  eu não desistiria de você.

Ao escutá-lo dizer essas palavras tão meigas, e ao mesmo tempo tão convictas, meu coração se aqueceu. Finalmente eu pude olhar para ele, encantada com a pessoa maravilhosa que ele era. Permanecemos um bom tempo apenas olhando um para o outro, até que nosso momento mágico foi interrompido pela chegada da pizza.

...

Três dias depois, eu cheguei do trabalho e antes de entrar, dei uma conferida na caixa de Correios. Desde o dia em que Leandro não pisou mais em minha casa, ou seja, desde o dia de nossa briga, eu me acostumei a realizar essa tarefa. Minha mãe ainda me questionou várias vezes o porquê de ele ter parado de vim aqui, eu lhe contei que havíamos brigados, mas não contei o motivo. E, graças a Deus, ela não perguntou mais nada.

Não havia nada na caixa, exceto por um envelope azul que quase passou despercebido. Meu coração quase saiu pela boca ao ver que ele era endereçado a mim e o Danilo que havia enviado! Era uma carta de Danilo! Passei uns bons minutos matutando sobre aquilo. Tudo indicava que ele devia ter enviado a carta para mim pouco antes da viagem e acabou chegando primeiro do que ela.

Mas como assim, a última carta que ele me enviou era a primeira a chegar? Eis aí um mistério. Ainda intrigada, entrei em casa e abri o envelope. Dentro havia duas folhas escritas com a letra de Danilo. Meu coração se encheu com aquelas palavras tão carinhosas escritas diretamente para mim. Mesmo ele afirmando que tinha escrito muitas cartas, e não ter recebido nenhuma resposta, não vi nenhuma sombra de ressentimento ou decepção em sua escrita. Mais uma vez refleti no quanto o Danilo é admirável. Eu já estava guardando a carta em minha gaveta quando tive um estalo: o envelope era do mesmo jeito daquele que o Leandro guardara na mochila! Não, não, não! O Leandro não pode ter feito isso comigo. Não. Ele não chegaria a esse ponto. Era ser cruel demais.

Quanto mais eu tentava afastar a ideia de que o Leandro podia ter escondido as cartas de mim, mas eu encontrava motivos de que realmente poderia ter sido ele. Era ele que pegava nossas correspondências e eu o tinha visto escondendo um envelope azul na mochila. Será que foi por isso que ele havia ficado tão nervoso naquele dia? Porque eu cheguei perto de descobrir seu segredo sujo? Mas... o Leandro não seria capaz.  Ou seria? Só havia um jeito de descobrir: xeretando o quarto dele!

....

O que eu estava perto de fazer era tão errado, que cada pessoa que olhava para mim na rua, eu sentia que me julgava. A voz da minha consciência alertava: "Júlia Beatriz, xeretar o quarto de seu primo às escondidas é muito feio!". Mas não tinha outro jeito. Se eu perguntasse, é claro que ele iria negar. E eu iria pedir permissão à tia Paty para entrar. Só que...  mais uma vez me envergonhei, porque eu iria mentir para minha querida tia. Porém, eu tinha que saber a verdade. E ainda tinha esperança que eu estivesse totalmente errada.

Acelerei o passo. Eu nem mesmo havia passado pela minha casa, tinha pouco tempo antes que Leandro chegasse do trabalho. Toquei a campanhia, e tão nervosa estava que toquei a segunda vez três segundos depois. Tia Paty abriu o portão e se surpreendeu ao me ver. Fazia um bom tempo que eu não aparecia. 

- Oi, Júlia! Que surpresa!

- Oi tia, só vim pegar um livro que o Leandro me emprestou. Está no quarto dele. - meu coração se apertou. Eu não era de fazer aquilo. E se ela soubesse que nós estávamos brigados, era o fim. Pelo visto, não sabia, pois foi logo dizendo:

- Ah, pode entrar, querida!

A adrenalina percorria meu corpo quando entrei naquele quarto onde tantos anos antes, brinquei com Leandro. Porém,  eu não tinha tempo para recordações, o tempo não pára. Vasculhei em suas gavetas, e nada. Olhei em um monte de papéis na mesa, dentro de livros, remexi em umas roupas que estavam na cadeira... o Leandro continuava muito bagunceiro! Por mais que eu procurasse, não havia nenhum vestígio daquelas cartas. Acabei olhando debaixo do colchão, pois uma coisa assim deveria está bem escondida, contudo, não tive sucesso. Do mesmo jeito, foi inútil procurar dentro de seu armário. Tudo que achei lá foi bagunça. Eu já estava para me render, e admitir que tinha sido muito maldosa ao acreditar que Leandro era capaz de fazer aquilo comigo, quando lembrei que havia um local que não havia olhado: em cima de seu armário. Peguei uma cadeira e tentei localizar alguma coisa que não estivesse ao alcance dos olhos. Meu coração quase parou quando toquei em uma caixa. Com cuidado, eu arrastei para mais perto e tirei. Estava um pouco pesada. Me desci da cadeira e sentei na cama. Ao abrir, quase duvido do que meus olhos estavam vendo : inúmeros  envelopes azuis, semelhantes ao que eu havia recebido no dia anterior. Claro que eram as cartas que Danilo tinha enviado. Fora isso, ainda havia dois livros que ele tinha me presenteado, ainda embrulhados. Era por isso que estava um pouco pesada.  Meu sangue ferveu. Como ele tinha sido capaz? Era indescritível a raiva que eu estava sentindo. Foi quando no auge da indignação, levei um susto: a porta do quarto se abriu. E por ela, Leandro entrou. Ele me pegou no flagra.

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Eita que esse capítulo rendeu boas descobertas a vocês que estavam suspeitando que o Leandro escondia as cartas!

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