Meu dia é tão preso em uma rotina, que às vezes fica monótono demais. Em dias assim, eu me pego pensando no que fazer depois de concluir o Ensino Médio. Quero cursar Letras ou Geografia. Aqui em minha cidade tem uma Universidade, mas às vezes tenho vontade de estudar em outro lugar só para criar mais experiência de vida. Em alguns meses, eu completo dezoito anos e ainda sou totalmente dependente. Nem ao menos viajei sozinha para um lugar longe. Quem sabe eu devesse procurar algum emprego de meio período para me desprender mais de casa e aprender a ter mais responsabilidade.
Eu estava estudando minha lição de inglês, quando Leandro entrou. Como falei, já faz algum tempo que ele vem aqui todos os dias depois do trabalho. Ainda com a mochila nas costas, ele coloca alguns envelopes em cima da mesa. Ele se tornou o responsável por verificar nossa caixa de Correios desde o dia em que chegou no meio de uma discussão do meu pai com minha mãe (e de vez em quando eles me colocando no meio, porque a culpa também se estendia a mim) porque ninguém teve o bom senso de verificar a caixa, e algumas contas venceram. Leandro, então, se prontificou para o ato. E segue isso à risca.
- O que está fazendo? - ele pergunta se sentando ao meu lado.
- Estou estudando aquela matéria de inglês. - respondo com os olhos ainda voltados no caderno.
- Leandro, estou fazendo macarronada ao molho branco. Quer ficar para o jantar? - minha mãe aparece na porta com uma tigela na mão.
É claro que ele vai ficar. É a comida preferida dele.
- Claro, tia. - Os olhos dele chegam a brilhar - Qual vai ser a cor do seu vestido? Tenho que comprar uma gravata da mesma cor. - ela pergunta depois que minha mãe sai.
Ele está mesmo ansioso por essa festa de formatura.
- Ainda não sei. - tento parecer desinteressada o máximo possível - Daqui para lá lhe aviso.
Leandro permanece com os olhos grudados em mim, enquanto eu continuo a estudar. Até que minha mãe chega pedindo para eu retirar os livros e ajudar a pôr a mesa para o jantar. Sempre que o Leandro fica para jantar conosco, ele ajuda nessa hora. E também me ajuda a lavar a louça depois. Essa é uma das coisas que admiro nele. E acho que foi um dos motivos que me fez ser apaixonada por ele por tanto tempo. Sempre admirei meu pai por ajudar minha mãe nos afazeres domésticos, e quando eu pensava em casar, queria alguém que fizesse isso por mim também.
Nós comemos, sem muita conversa. Só Leandro que elogiava sem parar a comida da minha mãe, e sei como ela adora isso, mesmo querendo disfarçar. E ele estava sendo sincero, pois ainda repetiu.
Depois do jantar, ele fica mais um pouquinho. E ainda com a farda do trabalho! Às vezes a constante presença de Leandro em minha casa me deixa sufocada. Tudo bem que ele me ajudou no começo, mas agora estava exagerando.
- Eu li a carta da Natasha. - ele fala quando já faz um bom tempo que estamos em silêncio. Eu voltei a estudar depois que terminamos de arrumar a cozinha.
Foi o suficiente para mudar meu humor.
- O que ela disse?
- Você quer ler?
Aquilo parecia ser íntimo demais.
- Não mesmo! - Eu não queria mandar uma carta para um garoto e ela ser lida por uma amiga dele. Tenho certeza que foi escrita exclusivamente para Leandro. E além do mais, ela confiou em mim.
- Como você mesma disse, é uma carta apaixonada - Ele falou após a minha recusa, e fez uma expressão estranha no rosto - também disse que é apaixonada por mim há muito tempo. Antes mesmo de eu namorar com Ester.
Meu queixo caiu. O Leandro era secretamente amado por mim e por ela! Me deu dó da Natasha ao imaginar que ela passou pelo mesmo que eu. Pelo menos eu tive Danilo ao meu lado. E ela? Tadinha!
- Você devia dar uma chance à Natasha. Ela deve te amar muito se persistiu até agora. - eu disse, sincera.
- Eu já lhe expliquei a situação. - da forma que ele falou, parecia que os sentimentos da moça não tinham nenhum valor.
- Leandro, você não se deu conta do que ela disse? Mesmo você namorando com a Ester, ela não desistiu! - eu queria que ele enxergasse isso. Ele deveria se sentir grato por ter uma pessoa assim, interessada por ele.
Leandro não responde nada e fica me encarando. Olhando através dos seus olhos, eu entendo o que ele quer dizer. Mais tarde, quando vai sair, ele me diz baixinho:
- Não importa se você ainda gosta do Danilo e está certa de que ele vai voltar. Eu espero por você. - Era a primeira vez que ele se declarava por palavras. Ele sai, mas antes deixa um beijo em meu rosto, que eu não consegui evitar.
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(Des)complicado Amor (LIVRO 2)
RomanceContinuação de "Complicado Amor" Júlia Beatriz fez uma promessa: ela esperaria por Danilo. Danilo, por sua vez, prometeu que iria voltar. Nenhum dos dois imaginou quanto tempo iria se passar até aquele reencontro acontecer. Leandro, porém, usa esse...