Capítulo 6 - Deprimida

114 19 9
                                    

Foi um erro sair com o Leandro. A forma como ele havia se arrumado e passado perfume um pouquinho acima do normal, deixava claro como estava interessado em mim. Talvez tivesse interpretado errado eu ter aceitado seu convite.
Eu me arrependi também quando vi que a única mesa disponível na sorveteria era aquela que eu havia compartilhado com Danilo meses antes. Não parecia certo se sentar ali com Leandro.

- Vamos nos sentar lá fora. - sugeri e mais uma vez me lembrei de Danilo. Era o que ele tinha sugerido também naquela noite. Naquela bela noite.

Parecia que tudo conspirava contra mim. Eu estava ali a fim de esquecer um pouco dele, e do que ele não havia feito,  e agora tudo me lembrava ele.

- Tem certeza? Está um pouco frio, não acha? - perguntou Leandro.

Estava. E eu nem mesmo havia trazido um casaco. Mas mesmo assim, insisti. Já tinha tomado açaí milhares de vez com o Leandro. Mas desta vez, eu estava muito incomodada. Incomodada por ele ter se arrumado demais, incomodada por eu está aqui quando devia está em casa e,  principalmente, por ter lhe dado aquele abraço. Foi totalmente inconveniente. Senti como se estivesse traindo alguém. Era uma sensação horrível. E ao invés de consertar as coisas, eu estava piorando. Tudo porque não havia recebido uma carta.

- Você não vai comer?  - Leandro perguntou apontado para o açaí intocado.
Não sei quanto tempo eu fiquei fora do ar. Devia ser um bom tempo, porque o dele estava menos da metade.

- Se importa se a gente for para casa? - eu não estava me sentindo nada bem. Meu estômago embrulhava, e eu estava muito cansada.

- Tem certeza? A gente chegou a pouco tempo. Pensei que poderíamos dar uma volta depois.

- Eu realmente preciso ir.

Leandro não questionou mais. Apenas se levantou, pagou a conta, e colocou seu casaco, que estava impregnado de seu perfume enjoativo,  em meus ombros. Quem nos visse ali, pensaria que éramos um casal. Outro pensamento que me fez sentir bastante mal. Eu só queria chegar em casa.

- Desculpe, Júlia. Eu sabia que você estava cansada, mas mesmo assim lhe convidei para sair. - Ultimamente o Leandro estava muito compreensivo.

- Não. Eu aceitei por minha vontade. Eu achei que me faria bem.

- Eu só quero que você fique bem. Não gosto de lhe ver triste.

Ele tocou minha mão e foi como um flashback. Eu me lembrei da primeira vez que a minha mão e a de Danilo se tocaram. Foi por pouquíssimo tempo, mas foi o suficiente para que eu soubesse que era algo que eu nunca havia sentido. Foi como se uma eletricidade percorresse o meu corpo, e desde aquele dia eu me senti ligada a ele. Eu poderia está chateada, mas no momento eu vi que o que sentia por Danilo, era mais forte do que eu pensava.

- Vamos lá? - Leandro chamou.

Caminhamos de volta para casa. Eu coloquei minhas mãos dentro dos bolsos do casaco a fim de aquecê-las. Estava ficando muito frio. Leandro parecia um pouco decepcionado, e eu  achei que ele havia criado expectativas para aquela noite.

Sem muitas palavras, nós nos despedimos. Eu devolvi o casaco, embora ele insistisse para que eu fizesse isso apenas no dia seguinte. Entrei em casa, e meus pais estavam planejando alguma coisa enquanto analisavam um monte de papel.
Eu ia passando direto, mas minha mãe me fez parar.

-  Estamos planejando fazer alguma coisa no seu aniversário. Sei que falta menos de dois meses, mas dar para organizar. - ela disse satisfeita.  Talvez achasse que eu ficaria feliz. A última coisa que eu precisava naquele momento era de uma festa de aniversário.

- Mãe, não precisa.

- Mas, querida, só se faz dezoito anos uma vez na vida. - como sempre, ela não  iria desistir tão fácil.

- Também só se faz vinte, trinta e quarenta anos uma vez na vida. - Respondi tentando  mostrar que não estava em clima para festa.

- Eu sei que você nunca gostou de festa de aniversário, - meu pai começou - mas é só uma comemoração simples. Deixa a gente fazer isso por você.

Eu realmente nunca gostei mesmo. Pra começar, nunca fui boa em fazer muitas amizades. Até na igreja, os jovens eram simples colegas. Não tinha muitas pessoas para convidar. No dia, a maioria dos convidados seriam amigos dos meus pais, e os filhos dos amigos dele. E eles acabariam aproveitando a festa mais do que eu.

Minha mãe, perpicaz como sempre, soube que havia algo de errado comigo:

- Você está bem?  - perguntou com os olhos fitos em mim. Tão penetrantes que poderiam ler a minha alma.

- Só estou cansada. Foi um longa viagem. - em seguida, bocejei para dar mais crédito às minhas palavras.

Antes de ir para o meu quarto,  prometi a eles que pensaria no assunto. Para quê eu ia querer uma festa? O quê exatamente eu tinha que comemorar? Tudo bem que eu era grata pela vida que tinha e pela minha família, mas naquele momento, eu estava deprimida demais para celebrar meus dezoito anos.

--------------------
Tadinha da Júlia 😢

(Des)complicado Amor (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora