Capítulo 13 - Culpada

90 17 1
                                    

Como assim eu falei que era comprometida? Foi o que veio na minha cabeça. Foi a sensação que eu tive no momento em que Renan me pediu em namoro: como se aquilo fosse algo indevido. Na verdade, eu me senti comprometida com o Danilo no momento em que ele me convidou a orar com ele. Ele não prometeu voltar e eu não prometi que o esperaria? Então!

A reação de Renan foi a melhor: ele passou meio minuto com a boca aberta, como se não tivesse certeza do que tinha escutado:

- Como... como assim você tem um namorado e eu não percebi?

- É que ele mora um pouco longe. - me apressei a falar. Muito longe, na verdade.

- Um namoro à distância? - ele falou com desdém na voz - E porque eu nunca o vi te visitar esse tempo todo? - ele cruzou os braços e me fitou com um olhar de desafio.

- Na verdade, não nos vemos muitas vezes. - Nenhuma vez, para ser sincera! Mas é claro que eu não diria isso para ele.

Ele permaneceu ainda calado, me olhando. Como se não tivesse engolido a história direito. Eu torci para que ele não falasse mais nada e fosse logo embora. Não saber o que ele estava achando disso tudo me dava uma aflição.

- Não acredito, Júlia! Você devia ter me contado. Eu tinha esperança!

- Eu não te dei esperança, Renan! - minha voz tremia ao falar. Era injusto ele tentar colocar toda a responsabilidade em mim.

- Você sabia que eu gostava de você e me deixou ir em frente. - ele acusou sem piedade.

- Mas você nunca falou nada! - tentei me defender. Eu sempre desconfiei, é claro, mas não tinha a certeza.

- Estou decepcionado! - foi a última coisa que disse antes de entrar no carro, bater a porta e sair em disparada. Eu esperei o carro sair de vista, para derramar minhas lágrimas em paz.

Para minha sorte, meus pais já estavam no quarto. Quando me deitei, um sentimento de culpa me inundou: será que Renan está certo? Eu tinha dado esperanças a ele através do meu comportamento? Tudo que eu tinha feito até ali era retribuído a gentileza dele. Não lembrava de ter correspondido a algum elogio ou um olhar diferente. Porém, pelo visto, algo em mim o fez acreditar que seu pedido de namoro iria ser aceito. O sentimento de culpa me sufocava. Eu não tinha intenção de dar esperanças a ele.

No dia seguinte, cheguei ao trabalho bastante envergonhada. Não sabia o que fazer quando visse Renan. Eu havia passado no mínimo meia hora se devia continuar trabalhando naquele local ou não. Eu gostava bastante do meu trabalho, mas estava em uma situação complicada agora.

Assim que me viu, Renata me deu um sorriso fraco, e deduzi que ela já sabia de tudo. Não vi Renan em lugar algum, e não sei se isto é bom ou ruim.

- Então... - pouco tempo depois Renata começou a falar - você tem um namorado?

- Sim... - até eu quase não ouvi minha voz.

- Interessante. - ela falou - Porque você nunca falou dele?

- Não tive a oportunidade. - falei da forma mais despreocupada possível, aparentando está segura de minhas palavras. Porém, por dentro eu estava preste a desmoronar.

- Meu irmão está arrasado. - ela olhou para mim. Um frio correu pela minha espinha. Eu sabia que aquela situação era ruim desde o início. A culpa assumiu seu posto em mim de novo.

- No entanto - ela continuou - não precisa se preocupar. Ele se recupera em um instante.

- Não entendi... - falei surpresa.

- Meu irmão é uma pessoa maravilhosa. Mas ele tem a facilidade de se desapegar com a mesma rapidez em que se apaixona. Claro que passará ainda alguns dias magoado, e talvez nem pisará aqui enquanto isso durar. Mas depois de umas duas semanas, isto estará no passado.

Embora essa notícia me deixasse aliviada, não pude deixar de ficar também intrigada. Aquele comportamento não parecia ser de Renan. Ele já era um homem feito, e demonstrava muita seriedade. Como poderia ser tão imaturo quando se tratava de relacionamento? A forma como Renata falara, indicava que isso já tinha acontecido outras vezes. Agradeci a Deus por não ter aceitado aquele pedido de namoro desastroso.
Era só uma questão de tempo para tudo voltar ao normal.

Naquela mesma noite, contei tudo para Ester. Eu estava deitada na cama enquanto nos falávamos em uma chamada de vídeo. Momentos como aquele, eram raríssimos, por isso aproveitávamos bastante colocando os assuntos em dia.

- Do nada, falei que era comprometida. - falei procurando alguma resposta por meio de Ester. Eu valorizava a sinceridade dela.

- Vocês não fizeram promessas um ao outro? Isto é um compromisso. - ela respondeu enquanto lixava as unhas.

- Pelo contrário, ele falou que não assumiria nenhum compromisso comigo porque não sabia quanto tempo ficaríamos sem nós ver. - falei em tom magoado. Eu me lembrava de cada palavra.

- Ah, ele só disse isso porque na hora estava nervoso. Mas é claro que ele lhe considera uma namorada. - Ester, pelo visto, era mais otimista que eu.

- Eu só queria uma notícia, algo que me desse uma garantia... - engoli em seco já a beira de um choro.

- Não chore o leite derramado. Você teve a chance de conseguir o número dele. - Ester era bem malvada quando queria.

- Por favor, não me lembre disso. - escondi o rosto no travesseiro. Essa era uma atitude que tomei no calor da emoção, ao qual me arrependo todos os dias, amargamente. O preço, eu estava pagando caro.

(Des)complicado Amor (LIVRO 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora