Capítulo 22 - A pior briga

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Eu fiquei totalmente inerte ao ver Leandro parado ali, olhando para mim. Eu me senti como uma criança pega em uma travessura.

- O que você está fazendo aqui? - ele pergunta com a cara confusa, e ao perceber a caixa no meu colo, o sangue foge de seu rosto - Você não pode mexer nas minhas coisas sem a minha permissão! - disse com a voz firme, dando alguns passos na minha direção.

Bastou ouvir aquilo para eu sentir, de novo, a raiva circulando no meu corpo. Dei uma risada cínica antes de responder:

- Você quer mesmo falar sobre pegar as coisas sem permissão? - fui ao encontro dele de uma forma intimidadora, consumando o espaço que havia entre nós - O que você me diz sobre isso aqui, Leandro? - perguntei, a centímetros dele, apontando para dentro da caixa.

- Júlia, eu posso explicar...

- Como você pôde? Eu confiei em você. Você era meu melhor amigo... - as lágrimas escorriam dos meus olhos ao lembrar que o responsável por aquilo foi a pessoa que por muito tempo eu mais admirei - Mas do que ninguém, você sabe o quanto eu sofri por falta de notícias do Danilo. Você me privou da coisa mais preciosa, Leandro. Essas cartas - falei olhando para elas - deveriam ter sido o meu consolo. Eram o que iam me deixar feliz...

- Eu fiz porque te amo, Júlia...

- Não ouse! - interrompi - Nunca mais mencione isso para mim. Eu estou cheia de você! - ouvir aquelas palavras saídas dos lábios fingidos de Leandro me davam repulsa.

- Você não entende, Júlia. Tudo que eu fiz foi pelo seu bem. Eu quis lhe poupar. Eu não queria que ele lhe desse esperança e depois não fosse mais voltar...

- Mas ele voltou! - gritei já perdendo a paciência - Ele voltou porque tem palavra. E não agiu como um covarde que nem você! - Lhe acusei com o dedo indicador em seu peito, enquanto ele retornava alguns passos. A dor me deixou totalmente fora de mim, e senti medo de perder a cabeça de vez e ir com tudo para cima do Leandro.

- Eu... eu nem sei o que dizer - Leandro falou tendo os olhos já vermelhos, parecia preste a chorar - Mas... eu não li as cartas, não...

- Você que eu diga "obrigada" por isso? - falei com voz amarga - Estou profundamente decepcionada com você. Como conseguiu dormir todo esse tempo, sendo que praticava uma coisa horrível? Sua consciência não lhe acusava?

Neste momento, tia Paty entra no quarto quase correndo. Provavelmente atraída pelos meus gritos.

- O que está acontecendo aqui? - indagou olhando alternadamente entre eu e Leandro, talvez estranhando meu semblante raivoso e ele parecendo levemente acuado.

- Pergunte ao seu filho! - respondi enquanto passava por ela. Ainda julguei ter escutado um "sinto muito", mas devia ser coisa da minha cabeça. Leandro nem ao menos tentou se desculpar! Aquilo era a coisa mais mesquinha que ele havia feito, e perdoá-lo pareceu-me muito difícil no momento.

Eu fui quase correndo para casa, e durante todo o caminho minha vista estava embaçada pelas lágrimas que ainda caíam. Ao chegar, me deitei de bruços em minha casa, profundamente magoada com Leandro. Dele eu poderia esperar tudo, menos isso. Era o ápice! Ele havia acompanhado cada tristeza minha e, enquanto isso, guardava cada carta que chegava. Acredito que se divertiu muito com o meu sofrimento. Como fui uma tonta por não ter desconfiado! Eu confiava tanto nele que nem mesmo cheguei a considerar que deveria ter tentado dar uma olhada no envelope que o vi colocando em sua mochila. E o pior era, que enquanto mentia para mim, ele tentava, a todo custo, me conquistar.

- A Paty me ligou. - minha mãe falou. Eu nem mesmo tinha percebido sua presença no quarto.

- Não quero falar sobre isso. - eu disse com o rosto ainda enterrado no travesseiro.

Ela procurou um lugar ao meu lado para sentar e começou a acariciar meus cabelos.

- Filha, o que ele foi muito errado...

- Mãe!

Ela parou, respeitando meu momento. Ela sabia que a vida toda eu e Leandro fomos muito unidos. Já tinha acontecido alguns desentendimentos entre nós, mas nada que tivesse durado mais do que meia hora. Essa, era a pior briga que nós já havíamos tido.

- Porque você não me contou?

- Não contei o quê? Eu só descobri nesta tarde.

- Por que não contou tudo o que aconteceu nos últimos meses? - pelo visto, Leandro tinha contado tudo mesmo à tia Paty.

A verdade é que eu sempre me esforcei para esconder meus medos e tristezas, a fim de não preocupá-los, que nem se passou pela minha cabeça que eles poderiam me ajudar de alguma forma. Sempre achei que os adultos tinham problemas de verdade para resolver, e não era justo tomar seu tempo com picuinhas de adolescente. Lentamente, coloquei a cabeça no colo de minha mãe.

- É complicado...

- Você sabe que pode contar com a gente sempre, não é? Eu me sinto tão culpada! Eu sabia que havia alguma coisa errada, que lhe preocupava, mas pensei que era só intuição tola de mãe. Eu pensei que vocês mantinham contato, e eu e seu pai até lhe perguntamos algumas vezes por ele. E você nunca nos contou nada! Você era tão aberta quando criança, mas na adolescência mudou um pouco. Mas sempre pensei que se realmente tivesse passando por algo mais difícil me contaria. Eu devia ter perguntado.
- Por favor, mãe, não se sinta culpada! Eu fiquei com vergonha. Com bastante vergonha de o Danilo ter esquecido de mim.

- Por favor - minha mãe continuava afagando meus cabelos - não passe mais por isso sozinha.

Eu ainda passei alguns minutos com a cabeça em seu colo. Era o que eu precisava no momento para me acalmar. Eu devia ter falado para ela e meu pai. Teria sido mais fácil passar por aquilo com o apoio deles.

- Posso faltar aula hoje? - perguntei com voz manhosa.

- Não! Você já faltou nessa semana.

De um minuto para outro, ela passou de compreensiva para mandona. Essa era a minha mãe.

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Olá queridos! Neste capítulo eu quis esclarecer um pouco a posição dos pais de Júlia durante o momento de espera dela pelo Danilo. Eles estavam por fora, infelizmente. Não por negligência, mas porque Júlia sempre foi boa em esconder alguns sentimentos.

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