Nós estávamos em frente à minha casa. Eu já tinha tentado abrir a porta do carro, mas Leandro a havia deixado travada. De propósito.
- É sério, Júlia, você não deu uma palavra sequer desde que saímos do casamento. Você não estava assim antes da Bárbara pedir para falar com você. Foi algo que ela falou?
Eu permaneci muda e tentei ignorá-lo como fiz durante toda a viagem. Mas essa tática não estava funcionando mais. Leandro estava decidido a arrancar as palavras de mim a todo custo.
- Tem alguma coisa a ver com o Danilo? - perguntou com a voz cautelosa, como se estivesse pisando em um terreno desconhecido.
Acertou em cheio.
Foi quando a primeira lágrima rolou. Eu me repreendi mentalmente por ter deixado isso acontecer. Durante todo o trajeto eu havia me segurado para não chorar na frente do Leandro. Mas dessa vez, não deu para evitar. A sensação de abandono veio com toda a força.
Eu não respondi a sua pergunta e nem precisava. Aquilo foi o suficiente para ele saber que estava certo. Por puro impulso, e para a surpresa dele, eu me refugiei nos braços de Leandro. Eu estava arrasada e precisava de uma pessoa para me amparar naquele momento. Como sempre, o Leandro sempre estava comigo nos momentos mais difíceis. Ele não disse nada e continuou acariciando meus cabelos até eu me controlar. E aquele gesto, de alguma forma, me consolava.
- Eu sinto muito. - falou baixinho enquanto eu enxugava meus olhos.
Havia sinceridade na sua voz. E agradeci por ele não ter passado na minha cara o quanto havia avisado sobre o Danilo. Era a segunda vez que eu sofria por alguém. Mas pelo menos o Leandro não havia me prometido nada. O Danilo sim. Ele havia feito uma promessa. E eu acreditei nele.
Eu tentei sair do carro pela segunda vez.
- Você vai ficar bem? - Leandro perguntou e eu assenti afirmando com a cabeça.
- Tem certeza? Não quer que eu fique contigo um pouquinho?
- Não precisa. - Aquelas eram as primeiras palavras que saíam da minha boca depois de horas.
Antes de sair, porém, eu me detive. Senti que precisava dizer alguma coisa para ele. Me virei para o Leandro e falei:
- Muito obrigada. Por tudo mesmo. Foi muito importante que você estivesse aqui comigo.
- Você sabe, Júlia, sempre pode contar comigo. E... você não merece ser magoada.
Eu sabia que ele se referia ao Danilo. Eu saí do carro e entrei em casa apressada. Ainda bem que meus pais não se encontravam. Ou iriam iniciar uma série de perguntas sobre o meu estado. Pela manhã eu estava arrumada e feliz. Agora, meus olhos estavam inchados, eu estava descabelada e, por dentro, um coração em pedaços. Ou seja, um caos.
Ao entrar no quarto, meus olhos foram diretamente para o livro que ganhei de Danilo. Aquele livro... ele me confortou tantas vezes! Era meu consolo nos momentos em que a saudade mais apertava. Eu o pego em minhas mãos e por instinto, leio a dedicatória pela milésima vez. Essas palavras tão confiantes não pareciam ter sido escritas por uma pessoa que iria me abandonar em alguns meses. Procuro relembrar o último encontro, cada palavra, cada detalhe. Por mais que eu me esforce, não consigo encontrar nenhum traço de indecisão ou de mentira em Danilo.
Mas, então porque não me escreveu uma carta? Não estava ansioso para ter notícias minhas? Eu não conseguia entender. Eu folheei o livro como se ele podesse me dar alguma resposta. Eu estava desesperada por uma resposta. Começava uma luta interna sobre se eu deveria continuar esperando Danilo ou não. Lá dentro, algo me dizia que eu devia acreditar nele.
Mas... e a carta?Nunca pensei que uma carta, algo considerado quase primitivo para os dias de hoje, iria trazer tanta turbulência na minha vida. Ou melhor, a ausência dela.
Meu celular vibra e eu vejo que é o Leandro. Instantaneamente, me arrependo pela imprudência de abraça-lo dentro do carro. Eu sabia que o Leandro era apaixonado por mim. Não deveria ter feito aquilo. É incrível como a dor nos deixa tão vulnerável. Eu ignoro sua chamada. Instantes depois, ele manda uma mensagem:
"Você está bem? Quer conversar?"
Eu não estava bem e nem queria conversar. Nova mensagem:
"Tudo bem se não quiser conversar sobre o que aconteceu. Só quero que saiba que me preocupo com você."
Será que o Danilo se preocupa comigo? Foi inevitável pensar nisso. Eu já estava sentindo aquela sensação, de novo, corroendo em meu peito.
"Um açaí melhorará seu estado com certeza. "
Era incrível como o Leandro não se ofendia com o fato de eu está deixando ele no vácuo. E aquilo fez eu, bem... admirá-lo um pouquinho. Eu estava triste, magoada e profundamente desconsolada. Sim. Um açaí me faria bem. Mesmo estando cansada depois de uma longa viagem, eu digitei:
"Estou pronta em meia hora."
Em seguida, peguei o livro e o enfiei, sem nenhum cuidado, dentro do meu armário.
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(Des)complicado Amor (LIVRO 2)
RomanceContinuação de "Complicado Amor" Júlia Beatriz fez uma promessa: ela esperaria por Danilo. Danilo, por sua vez, prometeu que iria voltar. Nenhum dos dois imaginou quanto tempo iria se passar até aquele reencontro acontecer. Leandro, porém, usa esse...