Lisa estacionou o carro na garagem da sua casa. Seu turno na galeria terminava ao entardecer, normalmente. Eu passei toda a tarde conversando com a Jihyo, ela me contou sobre suas aventuras sexuais e eu tive certeza de que ela era uma versão feminina de Don Juan.
A minha inválida se ocupou estudando alguns catálogos de obras de arte. Eu não sabia exatamente o que elas costumavam fazer na tal galeria, mas não parecia ser algo com muito compromisso, visto que aquilo estava uma bagunça e não tinha um chefe.
Segundo Jihyo, elas dividiam os turnos entre quatro garotas: Jihyo e Lisa ao dia e Wheein e Hwasa à noite. Portanto, eu provavelmente faria amizade com a fugitiva do hospício, já que esperava acompanhar Lisa todos os dias no seu trabalho.
Eu adentrei a casa, correndo os olhos pelo cômodo como se fosse a primeira vez desde que tudo aconteceu — e era, pois Sana me empurrou para a varanda no dia anterior e à noite eu estava doente demais para reparar em qualquer detalhe.
Bem, eu não precisei estudar muito o ambiente para notar que tudo estava diferente.
A sala de estar não tinha mais a estante com livros, nem a colagem de fotografias e muito menos os quadros pendurados na parede. Havia um aparelho de música no canto, como uma cabine de DJ e a televisão na parede abria espaço, deixando o local três vezes maior do que já era.
Eu me perguntei se estava no lugar certo. Eu não me lembrava da adega de bebidas ou dos narguilés de diversos modelos emparelhados lado a lado. Caminhei até dois tubos de plástico de, aproximadamente, dois metros no canto da parede — era um desses videogames de última geração, onde você incorpora o personagem do jogo.
Percorri a área mais uma vez, desviando das roupas, copos coloridos e caixas de pizza pelo chão, até pousar o olhar sobre a mesa de centro. Eu me agachei para apanhar o objeto, aquilo era um cinzeiro?
"Você fuma?" Virei o rosto para encarar Lisa, que estava de pé atrás de mim.
Ela deu de ombros, "Às vezes."
"Você não deveria usar essas coisas." Depositei o cinzeiro sobre a mesa novamente.
"E você não deveria se meter na minha vida."
Lisa jogou a sua mochila sobre o sofá e subiu as escadas. Aquilo estava tão sujo, eu aposto que ela havia dado uma festa um dia antes de eu chegar. Não era possível tanta bagunça, Lisa era a pessoa mais organizada que eu conhecia.
Eu a segui para o andar de cima e estranhei o fato da biblioteca estar com a porta aberta. Aquilo costumava ser um lugar secreto. Mas, olhando bem, não se parecia mais com um local de estudos e sim com um quarto.
"Lisa!" Chamei sua atenção, fazendo com que ela traçasse o caminho de volta até mim. "O que é isso?"
"Um quarto?" A garota devolveu a pergunta, impaciente.
"Eu estou vendo." Passei os olhos sobre uma enorme cama redonda, aquilo parecia-se com um motel particular. "Mas o que aconteceu com a biblioteca de pesquisas?"
A inválida pregou os olhos em mim e eu dei um tapa na minha testa. Merda. Ela não sabia que eu havia invadido o seu laboratório de estudos sobre amor. Eu realmente sabia como transformar uma situação ruim em outra pior.
"Oh, Lisa, eu apenas tive curiosidade uma vez. Eu não sabia do que se tratava." Tentei me explicar, mas a inválida apenas rolou os olhos. Certamente ela estava farta de mim, das minhas mentiras e das minhas explicações.
"Isso realmente não muda nada." Ela pôs a mão da maçaneta da porta e a fechou, cortando a minha visão daquele quarto estranho.
"Para que serve esse lugar?" Perguntei, com o pouco de voz que saiu pela minha garganta.
"Não se preocupe, você não irá usufruir do cômodo." A inválida piscou e deu as costas, seguindo para o seu quarto.
Certo, aquilo claramente era o seu motel particular. Parece que os seus estudos haviam mudado o foco neurológico para anatomia. Lisa deveria se divertir estudando a anatomia dos seus casos.
"Você traz o David para essa cama? O Taeyang? O Siwon?" Eu apertei o passo, alcançando Lisa e segurando o seu braço.
Lisa se virou para mim com um sorriso dissimulado, "Não é como se eu tivesse culpa por ter uma vida sexual ativa."
Semicerrei os olhos, estudando cada canto do seu rosto. Maldita cara bonita. Eu soltei o seu braço, dando um passo para trás.
"Pois saiba que não é a única com novos interesses." Encarei-a de nariz em pé, resgatando o mínimo de orgulho que ainda restava na minha alma. "Eu estive com uma colega nas últimas semanas, caso você queira saber."
Lisa soltou uma risada pausada, "Acontece que eu não quero saber."
"Porque você tem ciúmes. E irá ficar ainda mais quando ver a foto da Joy." Tirei o celular do bolso, folheando o perfil de Joy, em busca de uma boa foto.
"Ok. Eu apenas não me importo." A inválida deu as costas. "Além disso, essa garota não deve sequer existir. Ou então você não teria batido na minha porta, implorando por perdão."
Eu fiquei em silêncio. Por um tempo eu havia esquecido qual era a verdadeira finalidade de eu estar ali: me redimir com Lisa. Ao invés disso, eu estava comprando brigas por ciúmes, o que era ridículo.
***
A noite não se demorou a chegar. Lisa havia jantado uma pizza do dia anterior e eu devorei um pacote de biscoitos, pois a inválida não parecia mais se preocupar com as minhas refeições. Ela não cozinhava mais para mim, aparentemente.
Eu encontrei uma ponta livre de sujeira no sofá e me encolhi, esse lugar precisava de uma limpeza com urgência. Lisa estava em uma poltrona, concentrada assistindo a algum desenho animado. Ela parecia a pessoa mais entediada do mundo inteiro, então eu apanhei o controle remoto e troquei de canal. Por um acaso do destino, passava Romeu e Julieta.
"Tira disso, Chaeyoung." A garota rolou os olhos.
"Não." Eu coloquei um sorrisinho debochado no rosto.
"Você sequer gosta de Romeu e Julieta." Ela bufou.
Dei de ombros, "Hoje, especialmente, eu estou com vontade de assistir."
Lisa se pôs de pé, irritada e impaciente, com uma almofada no colo. "Então assista a essa merda sozinha." A garota lançou a almofada no meu rosto e subiu as escadas.
Suspirei pesadamente, encarando a tela a minha frente. Romeu estava com a sua bonita bunda de fora, eu apreciei a cena antes de resolver subir para o andar acima. Eu precisava dormir e, mesmo que eu quisesse, não havia espaço no sofá.
Eu subi degrau por degrau, silenciosamente, até chegar ao quarto de Lisa. Para a minha sorte, a garota já havia pegado no sono. Eu admirei o seu rosto angelical e depositei um beijo na sua testa. Apanhei os travesseiros e montei a muralha cuidadosamente. É, parece que nós havíamos voltado à estaca zero.
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Destinadas (CHAELISA)
FanfictionDESTINADAS (ADAPTAÇÃO CHAELISA) Em uma época onde o mundo está tentando se recuperar das consequências deixadas pelas guerras, tenta-se encontrar formas mais rápidas de deixar o planeta um lugar bom de novo. Após grandes períodos de ódio gratuito, i...