As batidas frenéticas na porta cessaram. Mamãe havia desistido, finalmente. Eu esfreguei os olhos e me encarei no espelho a minha frente, eu estava horrível. Os cabelos já haviam se tornado um ninho para passarinhos, o pijama já estava mais do que na hora de ir para a lavadora e, além disso, as olheiras me deixavam com uma aparência de zumbi. Isso é o resultado de dois dias sem sair do quarto, choros incessantes e jejum.
Há dois dias Sehun estragou o meu natal. Bem, ele apenas adiantou as coisas, já que o erro quem cometeu fui eu. Mesmo que fosse um erro justificável, não me havia sido dada a oportunidade de explicar.
Há dois dias Lisa havia me dado as costas e sumido da minha vida. Eu não tive nenhuma notícia desde então. Dahyun e Momo foram atrás da inválida - droga, eu devia parar de chamá-la dessa forma -, após Jennie e Jisoo me encontrarem aos prantos na varanda. O casal a levou até o aeroporto, já que a garota não conhecia nada aqui, mal sabia ir até a esquina. Segundo Dahyun, Lisa não dirigiu uma palavra sequer aos dois. O silêncio dela me assustava.
Há dois dias meu coração estava doendo. Eu não podia reclamar, pois Lisa estava com o seu quebrado. A sua frase ainda rodava na minha cabeça: eu havia quebrado o coração que ela não tinha.
Há dois dias eu não tomava banho e não tinha contato com nenhum ser vivo. Eu decidi levantar da cama, pois não estava mais me aguentando. Meu estômago roncava em, no mínimo, duas línguas românicas, ainda assim, eu não sentia fome. Eu estava no fundo do poço. E, infelizmente, não era o poço dos olhos de Lisa.
As batidas na porta voltaram e eu rolei os olhos, quantas vezes eu já havia dito à minha mãe que eu não queria nada? Ela só estava desperdiçando o seu tempo.
"Chae, estou entrando! Você está nua?" A voz de Jisoo anunciou, antes que ela deixasse o queixo cair ao ver a situação em que eu me encontrava. "Ok, estão fazendo audições para uma nova versão de 'Mud' e você quer o papel do Matt McConaughey?"
Eu estava tão ruim assim? Toquei os meus cabelos embaraçados com a ponta dos dedos, detectando quantos nós haviam ali. Melhor não contar. Eu encarei Jisoo, tendo a certeza de que parecia um homem das cavernas.
"Eu não estou bem."
"Percebe-se. Você tem tomado banho?" Minha amiga me deu um olhar desconfiado.
"Eu não estou cheirando bem também." Bufei e joguei meu corpo sobre o colchão.
Eu estava um lixo humano. Não era o caso de não ter amor próprio, eu tinha ódio de mim mesma. Ódio de não poder consertar as coisas. Ódio, a única coisa que eu era proibida de sentir.
Algumas vozes conhecidas soaram pelo corredor, chamando a minha atenção. Era óbvio que a Jisoo teria combinado de encontrar as meninas na minha casa. Ultimamente elas pareciam uma versão real da centopeia humana, sempre uma atrás da outra.
Eu queria paz, pelo menos pelos próximos seis meses. Ao que me parecia, era a única coisa que eu estava longe de conseguir.
"Chae, você não toma banho há quantos séculos?" Jennie fez uma careta, dividindo o espaço da cama comigo.
"Eu disse que ela se parece com o Mud." Jisoo riu.
Jennie concordou, "É, uma versão feminina."
Eu já havia entendido que estava em uma má condição, mas eu não aguentava mais a comparação com um personagem de um filme do tempo da minha avó. Jisoo parecia um pouco viciada nessa observação que havia feito. Alô, nós estamos em 2072.
"Você está triste?" Dahyun se ajoelhou ao lado da cama e eu me virei de lado para encará-la. "Lisa deve ter chegado bem em casa, Momo e eu a enfiamos no avião certo, não se preocupe."
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Destinadas (CHAELISA)
Hayran KurguDESTINADAS (ADAPTAÇÃO CHAELISA) Em uma época onde o mundo está tentando se recuperar das consequências deixadas pelas guerras, tenta-se encontrar formas mais rápidas de deixar o planeta um lugar bom de novo. Após grandes períodos de ódio gratuito, i...