O caminhão da loja de colchões estacionou a frente da casa de Lisa. Eu estava assistindo televisão quando a garota surgiu na porta, carregando o objeto com dificuldade. Eu era atrapalhada, mas Lisa também não perdia muito.
Nós não tivemos nenhuma grande briga, passaram-se três dias desde o incidente com David. Eu estava chateada, mas, segundo Lisa, eu não tenha o direito nem motivo para isso, então eu deveria desmanchar a minha cara emburrada e voltar a ajudá-la.
Eu devia ter dito que eu não tinha obrigação nenhuma de ajudar em nada, mas eu fiquei quieta e abaixei a cabeça. Ultimamente eu era a sua escrava.
"Eu estou em abstinência sexual!" Lisa reclamou. Ela estava de bom humor hoje, menos mal.
Eu a ignorei, como de hábito. Eu vinha a ignorando o máximo que podia, a garota sempre dava um jeitinho de chamar a atenção, mesmo que esse jeitinho fosse, às vezes, grosseiro ou nada agradável, resgatando cenas que eu não gostaria de lembrar tão cedo.
"Chaeyoung, me ajude a trocar o colchão. Eu não posso trazer ninguém aqui enquanto eu não trocar. Aquele está com muitos germes... Se é que me entende."
Eu rolei os olhos, mas concordei em ajudá-la. Nós subimos até o seu motel particular e Lisa trocou os colchões. Eu empurrava o antigo com a ponta dos dedos para fora do quarto, tomando cuidado para não me contaminar com as bactérias.
Lisa suspirou, "Adeus, colchãozinho, foi bom enquanto durou." Depositou três batidinhas sobre o colchão novo. "O que acha de estrear esse agora?" Ela me fitou descaradamente antes de gargalhar, indicando que aquilo era uma piada. Lisa andava cheia de piadas ultimamente.
Eu revirei os olhos, pela milésima vez no dia, "Não teve graça."
Parei por um momento para avaliar o cômodo, já que era a primeira vez que eu estava dentro dele, depois de ter virado um quarto de motel. A cama redonda no centro e alguns móveis onde ainda repousavam alguns livros — esses eram suas obras de romance empoeiradas, contrariando a minha primeira ideia de encontrar o Kama Sutra ou contos eróticos. Eu dei uma volta pelo local, analisando cada coisa que passava pela frente dos meus olhos, até me deparar com uma caixa de vidro cheia de preservativos. Esses pareciam ter sabores. Eeeww.
Apanhei um que, segundo a embalagem, era de abacaxi.
"Isso realmente tem gosto?" Encarei o produto com estranheza.
"Coloca na boca para descobrir." Lisa riu. "Você é tão boba."
A inválida tinha os olhos apertadinhos, como toda vez em que ela ria exageradamente e era tão bonitinho que eu não pude evitar de ficar lhe encarando com um semblante de idiota. Eu adorava cada expressão que passava por aquele rosto.
Eu não sei o que passou pela minha cabeça quando eu colei nossos lábios em um selinho. Não foi mais do que dois segundos até que eu me tocasse que isso não era o tipo de ação que nossa relação permitia e me afastasse. Lisa me olhou profundamente sob os seus cílios e acariciou a minha bochecha com o polegar antes de avançar em direção a minha boca e tomar os meus lábios.
A inválida abraçou as minhas costelas, guiando-me até a cama e estendendo o meu corpo sobre o novo colchão. Ele era macio, ela sabia mesmo comprar colchões. Sabia se livrar das minhas roupas com rapidez e facilidade também, pois em poucos segundos eu já estava apenas de lingerie — a sorte é que eu não vestia nenhuma calcinha de ursinhos dessa vez. Lisa despejou o seu peso cuidadosamente sobre mim e entrelaçou minhas pernas no seu quadril, aprofundando o nosso beijo.
O seu toque me fazia ficar em chamas. Suas mãos fizeram caminho até o feixe do meu sutien e os seus lábios traçaram beijos pela extensão do meu pescoço. Ela estava mesmo em abstinência sexual. Foi então que eu lembrei: eu estava sendo o seu brinquedo. Eu não era David que só servia para satisfazê-la. E mesmo que aquilo estivesse estupidamente bom e que as minhas mãos teimassem em não se mover para longe do seu corpo, eu sabia que as coisas estavam saindo fora do controle.
"Lisa, sai..." Empurrei-a delicadamente.
Mas a garota continuou distribuindo chupões pelo meu pescoço, "Shhh..."
Fechei os olhos, tentando ignorar as sensações que Lisa me causava e me concentrar em levantar daquela cama e fugir das suas garras — mas eu queria tanto ficar ali.
"Você é tão melhor do que todos eles." A inválida soprou contra o meu ouvido e esse foi o estímulo que eu precisava para deixá-la.
Comparação é a pior coisa que você pode fazer se quer levar alguém para cama. E era isso que Lisa estava fazendo: me comparando. Eu era apenas mais uma das pessoas que iriam passar pela sua cama. Eu não era isso. Não era assim que a minha primeira vez devia ser, mesmo que tivesse que ser com ela.
Eu me pus de pé e me enfiei no primeiro buraco que encontrei, que foi uma minúscula porta que dava acesso ao banheiro daquele quarto. Eu bati a porta atrás de mim e deixei que minhas costas deslizassem por ela, até que eu tocasse o chão.
"Ei, Chaeyoung, abra essa porta! O que você tem?" Lisa batia freneticamente.
"Nada." Eu gritei de volta. "Eu quero ficar sozinha."
"Eu fiz algo errado? Vamos voltar, estava tão divertido."
Diversão. Eu não era um parque de diversões onde Lisa entrava e saía para se divertir quando queria.
Eu abri a porta e encarei os seus olhos, que estavam perdidos em um olhar confuso, "Eu não farei sexo com você. Primeiro, porque eu não sou sua prostituta. E, segundo, porque você me odeia." Tentei bater a porta na sua cara, mas Lisa a segurou, me impedindo.
"Primeiro, eu não disse que você era uma prostituta. E, segundo, te odiar não impede que eu esteja me sentindo atraída sexualmente por você. É apenas sexo." Fixou.
Eu ouvi bem? Ela me odiava?
Apontei o dedo no rosto de Lisa, "Olha aqui..."
Lisa segurou o meu pulso com força, deixando a marca dos seus dedos, "Não aponta esse dedo para mim... Seja lá o que eu fiz, me desculpa."
Nós nos encaramos intensamente por alguns minutos. Os seus olhos estavam suaves como algodão, não chamuscavam fogo, não estavam de nenhuma cor estranha, era o olhar que eu conhecia. Lisa soltou o meu pulso, me deixando livre.
"Eu te odeio também." Cuspi as palavras e esbarrei no seu ombro ao sair.
***
Eu enfiava os pés na piscina tentando conter as lágrimas que rolavam pelo meu rosto. Eu não esperava que Lisa confirmasse que me odiava, e eu preferia mil vezes quando ela me amava e não sentia atração por mim.
Eu ainda buscava um motivo para continuar nessa casa. As coisas não estavam funcionando e saindo da maneira como eu esperei, eu não sei se havia razão para eu continuar a ser sua escrava e ser tratada como lixo sem ganhar nada em troca.
Um barulho vindo da montanha chamou a minha atenção, eu enxuguei as lágrimas e me pus de pé para ver quem estava invadindo a propriedade de Lisa. Era um garoto. Ele devia estar perdido, certamente.
"Acho que você errou a trilha." Eu disse. "Isso é uma propriedade privada."
"Aqui é a casa de Lisa Manoban, não?" Ele perguntou com um ar de quem tinha certeza do que dizia. "Eu sou um amigo, ela me ligou."
"Oh," eu não sei porque eu estava surpresa, "suba as escadas e primeiro quarto." Eu indiquei o quarto de motel, pois eu sabia para que ele estava ali. O garoto assentiu com a cabeça e adentrou a casa.
Pela primeira vez nesses últimos tempos, eu percebi a realidade. Meu reflexo na piscina revelava alguém esgotado e frágil. Talvez eu estivesse começando a pensar que essa era a hora de deixar a jaula do tigre, definitivamente.
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Se houver algum erro me avisem que estarei corrigindo.
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Destinadas (CHAELISA)
Fiksi PenggemarDESTINADAS (ADAPTAÇÃO CHAELISA) Em uma época onde o mundo está tentando se recuperar das consequências deixadas pelas guerras, tenta-se encontrar formas mais rápidas de deixar o planeta um lugar bom de novo. Após grandes períodos de ódio gratuito, i...