Ligação desagradável

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Meus olhos nadavam em lágrimas ao mexer nos meus arquivos de fotos na intenção de limpar a memória do celular. Eram inúmeras fotos de momentos bons que vivi ao lado da família de Henrique, mas aquela em que eu me demorava olhando, fora uma das tiradas na casa de Ana Rosa no último dia em que eu e Henrique fomos lá: Eu estava na piscina com as crianças. Meu coração rachou de saudade deles, parecia que não nos falávamos a uma eternidade. No dia em que Henrique me agrediu, ele não feriu apenas a minha alma. Pensei em como as coisas poderiam ter terminado de forma diferente, limpei as lágrimas com as costas da mão e balancei a cabeça, não adiantava sofrer por aquilo agora, mas eu realmente sentia saudade de Ana Rosa, das crianças e toda a família de Henrique. Continuei limpando imagens desnecessárias do aplicativo, revivendo momentos passados, até que cheguei a uma que nem lembrava que ainda tinha lá: Os prints das fotos que flagrei no celular de Henrique naquele dia fatídico e senti o estômago embrulhar, eu não queria ver aquilo nunca mais. Apaguei uma por uma sentindo um nó no estômago, depois desliguei o celular e fitei o teto sem saber onde fixar os pensamentos. Fechei os olhos e pensei em Túlio, no dia em que o conheci, sentado ao lado de Henrique na festa de formatura de Ana Rosa, nós dois dançando juntos, nossa conversa na casa de Ana Rosa, nossa troca de mensagens durante a briga com Henrique, a presença dele no momento mais desesperador, as visitas agradáveis, as conversas que poderiam durar para sempre,  a pele morena de Túlio em contraste com a minha, os abraços, os olhares, o sorriso... Em que momento mesmo eu comecei a me apaixonar por Túlio? E será que ele de fato estaria correspondendo esse sentimento? As palavras de Vanessa ecoavam em minha cabeça: Se eu fosse você, não deixaria um cara como Túlio passar... Túlio estava para voar em Ravi... O cara te comeu com os olhos... Esse homem está louco por você.
As palavras de Vanessa iam sumindo sumindo... Até que apaguei em um sono profundo. Acordei as 2h da tarde como o celular tocando.
- Alô!
- Oi! Uma voz masculina respondeu. - Como você está?
- Esperando a alma voltar pro corpo. Pensei. - Anh... Bem. Desculpe, quem é ?
- Sarah! Sou eu... Henrique!
- Que?? Parecia que tinha caído subitamente na terra.
- Desculpe ligar pra você. Sei que não quer falar comigo e que nem devia estar ligando, mas... Sarah eu preciso muito que me ouça.
- Henrique, você sabe que não pode se aproximar de mim, e eu não quero ouvir você! Esqueça meu número. Se continuar me ligando vou acionar as autoridades.
- Sarah...
Desliguei sem mais delongas. A última pessoa que eu esperaria ligar para mim, seria Henrique. Me joguei na cama na esperança de dormir mais algumas horas, mas não havia possibilidade. Atirei o celular longe, eu não imaginava qual seria a intenção de Henrique ao me ligar mas aquilo me dava um pouco de medo e por alguns segundos eu me senti sozinha e desprotegida.
- Boa tarde. Como vai você?
Mandei mensagem para Túlio. Ele visualizou e não respondeu. Esperei mais alguns minutos e nada... Que estava acontecendo? Suspirei e larguei o celular na cama. Liguei para os meus pais, eles também não atenderam.
- Nossa! Acho que ninguém me ama hoje. Disse para mim mesmo.
Resolvi levantar e tomar banho, nem sempre era chato passar um domingo sozinha, mas aquele estava sendo bastante.
Saí do banheiro e resolvi aproveitar o lado bom de morar sozinha, vesti apenas uma calcinha e fui ler no sofá, isso me distraiu por algum tempo, mas não conseguia sentir paz na alma. A ligação de Henrique realmente mexeu comigo e conseguiu me desestabilizar. Deixei o livro de lado e fui ver meu celular. Havia uma chamada perdida de Túlio e uma mensagem dele no Whatsapp.
-Desculpe. Estava ocupado.
-Hmm. Tudo bem! Desculpe atrapalhar a sua ocupação. Respondi pensativa em qual seria a tal ocupação.
- Achei que estivesse  conversando com seu novo amigo.
- Que amigo?
- Ravi.
Dei uma risada alta.
- Ele não é meu novo amigo!
- Hmm. Pensei que fosse, estavam conversando muito a vontade ontem.
- Hmm. Você é o novo amigo de Vanessa também?
- Vanessa é gente boa. Ravi não.
Ele conseguiu alegrar minha tarde.
- Que está fazendo? Ele insistiu.
- Deitada e me sentindo o ultimo biscoito esquecido no pote. Ninguém me ama hoje... Nem você, nem meus pais...
- Quer fazer alguma coisa comigo?
Suspirei com pergunta e antes que Podesse responder ele corrigiu:
- Vamos comer uma pizza a noite?
- Vamos! Você paga! Hahahahaha
- Não! Você come demais. Hahahahahaha
Fiquei olhando nossa troca de mensagens e sorrindo... Vanessa deve ter razão.

Histórias de amor que eu não viviOnde histórias criam vida. Descubra agora