Histórias de amor que eu não vivi

Só mais um dia comum

Os dias que se seguiram passaram tranquilamente, o episódio da aula anterior parecia ter sido esquecido, e eu voltei a ser a Sarah de sempre, mais uma na multidão, como eu gostava de ser. Como já falei para você, minha única melhor amiga da turma se juntou com umas garotas metidas da sala que eu odiava, mas isso não significa que a gente não se falava mais, porém deixei de lhe dar atenção pois eu não me uniria as garotas com quem ela resolveu andar.
Nossa turma naquele ano era grande e bem diversificada. Ali você encontraria de tudo, os populares, os nerds, a galera do fundão, as putas, e também aqueles que não eram nem uma ou nem outra coisa, não tinha exatamente uma classificação, acredito que eu pertencia ao último. Isso não significa que todos eram encontrados exatamente nessa ordem, ou que eram apenas de um grupo, para mim, as populares da escola eram todas putas, e na verdade eram mesmo. Afonso Neto era líder da galera do fundão, ele era a bagunça em pessoa e sacaneava todo mundo na sala, porém todos gostavam dele, pois não chegava a ser uma ser humano insuportável (na verdade era sim) ele tinha 14 anos, como a grande maioria ali, e era quase tão branco ou até mais do que eu, tinha um sorriso bonito, que quando abria, seus olhos fechavam.
Eu nunca tive intimidade com aquele garoto, poucas vezes nos falamos durante o tempo em que estudamos juntos, mas nos últimos dias, parecia que eu tinha sido escolhida como bode expiatório, por algum motivo desconhecido.
A sexta feira era o nosso dia favorito, tínhamos poucas aulas e após podíamos ficar na área jogando conversa fora, ultimamente(desde que fui abandonada por minha amiga) eu preferia ir para a biblioteca, mas justo nesta sexta após as aulas resolvi ficar por alí sentada em uma das mesas próximas ao refeitório, nisso alguns colegas da turma foram se aproximando, não demorou muito estávamos todos alegres e rindo, até que... Alguém chegou!
O insuportável apareceu do nada, com sua trupe, e sentou- se ao meu lado. Fingi que nem me importei. A conversa continuou animada, porém minha voz calou-se ali, aquele garoto dominava o grupo muito rapidamente, logo todos estavam disputando a vez para falar, eu até queria participar, mas algo dentro de mim me bloqueava, parecia que eu era um ET em meio a terráqueos. Mas estava tudo bem, até que em algum momento o assunto mudou, e o infeliz resolveu implicar comigo.
- Sarah fiquei sabendo que vc esteve fazendo exames. Está grávida? E pegou e minha barriga.
Eu nem sei lhe explicar em que ordem as coisas aconteceram, mas eu me lembro que em questão de segundos me transformei no alvo das risadas. Aquele garoto era uma amostra grátis do inferno. O meu sangue fervia, eu queria sair daquele meio, queria correr, ir embora. Ele ria de mim e olhava nos meus olhos, debochando, achando aquilo a coisa mais incrível do mundo.
Eu não conseguia me controlar, minhas mãos voaram em sua gola.
- Você é um completo idiota!
Imediatamente suas mãos grudaram em minha gola também, e me puxou para junto de si, e assim ficamos agarrados na gola um do outro por alguns segundos, enquanto o resto da turma apreciava a cena explodindo em risadas e gritos:
-Ok, agora se beijem.
Meus olhos se encheram de lágrimas furiosas, eu iria explodir, ele me encarou por alguns milésimos de segundos. Percebi que iria desmoronar ali mesmo.
Larguei a sua gola e lhe dei um empurrão, saí abrindo caminho em meio aos imbecis que dobravam na gargalhada.
Fui embora procurando algum lugar para me esconder e poder chorar a vontade ou pelo menos me segurar para não entrar em crise, eu não queria parecer uma louca, então andei bem depressa e evitando o olhar de qualquer que estivesse no meu caminho. Corri para o meu canto favorito: A biblioteca.
Tentei entrar sem chamar atenção, meus olhos captaram um ou outro aluno por ali. Ao fundo vi a bibliotecária arrumando etiquetas em uma pilha de livros. Me dirigi até a minha estante favorita e fiquei lá, tentando conter meu choro e repetindo mentalmente as palavras que me ajudavam nesses momentos.
- Por favor, você não pode desabar aqui. Você é uma fortaleza!
Fiquei ali por alguns minutos, as lágrimas na porta dos olhos enquanto eu fingia ler um livro qualquer, até que uma voz falou atrás de mim:
- Sarah...
Não era possível!
-Você esqueceu isso.
Aquela voz de taquara rachada era dele! Podia ficar pior? O que aquele garoto fazia ali? Meu Deus, será que ele veio terminar de me humilhar?
O susto me fez engolir o choro, limpei os olhos na manga da blusa e me virei me preparando para encontrar todo mundo pronto para acabar de vez comigo, seria o meu fim. Mas não, ele estava sozinho, eu não conseguia encara-lo.
Ele me estendeu a mão e me entregou minha mochila, na pressa em fugir a coitada havia ficado para trás. Peguei-a grosseiramente, e tentei dar no pé, mas ele me segurou pelo braço.
- Sarah, me desculpe. Eu, eu é... só estava brincando. Não pensei que isso iria lhe aborrecer tanto. É...
Eu o encarei com o rosto machado de vermelho, ele tinha uma expressão culpada.
Soltei meu braço e me limitei a balançar a cabeça.
- Você é um idiota! Agora você resolveu tirar onda com a minha cara, não é mesmo? Cadê a sua turma? Termine seu show.
- Eu realmente sinto muito. Só quis brincar com vc.
- Você está a dias procurando meios para me irritar na frente dos outros. Afinal o que quer de mim?
-Na verdade... eu só queria brincar mesmo. Vejo você sempre sozinha e penso que, sei lá, seria legal se desse a oportunidade de ter amizade na classe. Ele respondeu gaguejando.
Revirei os olhos.
- Ah é? Levantei a voz. Desse jeito? Quer minha amizade(fiz sinal de aspas com os dedos) pra que mesmo? Se for para ter amigos como você eu prefiro mesmo ficar sozinha. Você é um imbecil que acha que pode fazer graças com todo mundo, e o pior é que tem um bando de idiotas (a essa altura eu havia perdido o controle da minha voz.) que te acha o máximo e... Neste momento a bibliotecária apareceu entre as prateleiras.
-Shiii. Gente silêncio. A Biblioteca é lugar de leitura lembra?