"Sem choro nem vela"

603 69 13
                                    

O cara me lança um sorriso cruel e abre passagem para que eu saia e o siga pelo corredor longo e sinuoso. Ao final, adentramos uma porta de mogno e começamos a descer uma escadaria em espiral feita de cimento bruto. Logo paramos em outra porta, só que essa é de ferro. O homem que está nos levando, dá alguns toques na porta com interrupções como se fosse um código morse. Logo ela é aberta pelo careca de cicatriz que me aterrorizou na primeira noite em que encontrei a Bella.

-Afastem as pernas. –Eu e o Ryan fazemos conforme ele pede e sinto as suas mãos subindo pela minha perna apalpando tudo, meus braços e até abaixo dos meus seios. Somos liberados. –Acho que vou ter que revistar ela de novo na volta.

Diz o grandalhão ao soltar uma risada de escárnio. Junto minhas forças para ignorar, mas o Ryan não faz o mesmo. Ele se vira rápido na direção dele, e eu só tenho tempo de ver quando ele aponta a arma para o peito do Ryan e entro na frente desesperada.

-Sai da minha frente!

Ele praticamente range entre os dentes.

-Não! Por favor, não! –Digo ao homem e me viro para o Ryan. –Você sabe que são assim, e tentar algo é suicídio.

-Sai da frente tola! Deixe eu estourar os miolos dele.

O grandalhão provoca ainda mais e o Ryan parece não dar a mínima para mim.

-Não! –Tento de novo. –Não precisamos disso. Ryan você está brigando comigo lembra? Não se importa comigo mais...então pare.

Dói dizer isso, mas é preciso. Só que novamente sou ignorada quando ouço o cara engatilhar a arma. Estou cada vez mais apavorada e quase grito por socorro.

-Já chega!

Desvio meus olhos apenas para ver Bella no fundo do corredor com um olhar visceral. Ela pronuncia algumas palavras em russo e todos os homens abaixam o olhar para os próprios pés.

-Sim chefe.

-E vocês dois. –Ela aponta para mim e para o Ryan. –Se apressem! Meu tempo é curto e precioso.

Entramos em uma sala pequena com vidro escuro do nosso lado direito. Obviamente pela pressão do momento, um arrepio sobe pela minha coluna. Mas se intensifica quando uma porta ao lado do vidro se abre e o Heron sai com um sorriso vitorioso. A camisa social branca está dobrada até o antebraço e um coldre de couro marrom carregado de armas, está por cima dela. Mas o que me assusta é o sangue respingado por todo seu corpo, como se ele tivesse servido de tela para um pintor.

-Desculpem-me. São os negócios.

Diz ele com uma tentativa de sorriso amigável para nós. Ficamos ali parados apenas observando enquanto ele desabotoa a camisa logo depois de tirar o coldre. Bella já alcança uma nova camisa e apóia nos ombros para que a coloque. Meus lábios se entreabrem e instantaneamente passo a mão pelo meu pescoço ao ver a cicatriz grossa de fora a fora no pescoço dele, bem próxima ao seu peito. Não deixo de notar as outras pelo seu corpo, as marcas nas costas e os cortes em sua barriga. Ao invés de admirar seu corpo, o pânico toma conta de mim quando a cicatriz em seu abdômen começa a sangrar sem parar, escorrendo pela sua extensão até tocar o chão. Sinto minhas mãos tremerem e minhas pernas bambearem, meu coração acelerado em um ritmo alem do normal e o ar entrando e saindo rápido demais dos meus pulmões.

-Angel! Angel!

Pisco varias vezes tentando assimilar a realidade atual. Alterno meus olhos entre o Ryan que segura em meus ombros e a cicatriz que continua intacta, sem nenhuma gota se quer de sangue.

-É normal.

-O que?

Pergunto confusa para Bella. Como ela acha essa paranoia normal?

Dedo de Moça "Perigosamente Inocente" •Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora