"Um passado importa mesmo?"

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A brisa fria toca o meu rosto, mas eu não me importo. Eu não vou entrar naquele maldito carro. Meu orgulho é mais forte que isso. Ser repreendida ok, mas ser insultada ao ponto de me comparar com a Amélia? Ah isso eu não vou aceitar.

-Angel pare!

-Não. Vá embora!

-Não vou embora até que entre no carro.

Ryan me persegue pelas ruas nem sei por quanto tempo. Parece que estou só dando voltas a cada esquina que chego, uma mais parecida com a outra. Talvez as lagrimas em meu rosto se misturando com as poucas luzes da rua e aos sentimentos ruins que estou sentindo, estão me fazendo ficar mais perdida ainda. Percebo os seguranças andando atrás e outros nos seguindo de carro. Não estão aqui por mim, estão aqui por ele.

-Você me insultou! Me comparou com aquela asinha lá!

-E você queria que eu pensasse o que? São fetiches porra!

Paro bruscamente quase fazendo ele trombar em mim.

-Eu era virgem! Você tirou a minha virgindade cacete! Como pode pensar isso de mim? Não importa quais eram os fetiches, não é o mesmo que Amélia fazia ou faz porque não somos iguais. –Olho aqueles olhos procurando algo de nós, mas tudo o que vejo é desprezo e confusão. –Eu fui real com você, mas parece que você nunca me enxergou de verdade.

Dói mais do que eu mostro.

-Angel...Olha, me desculpe por não ter pensado nesse detalhe ta bom! Você precisa me entender também.

Me viro e continuo andando olhando o nome das ruas para tentar achar o meu apartamento. Viro a esquina e tropeço ao sentir o salto da sandália prender em um buraco.

-Droga! Merda! –Seguro para não chorar mais ainda com toda esta situação. –Eu só quero ir para casa!

Sôo mais chorosa do que pretendo.

-Então vamos! Entre no carro e pronto!

-Eu não quero ir pra sua casa, eu quero ir para a minha casa!

-Ééé... –Paro bruscamente esperando ele falar. –Desocupei o seu apartamento e ele já foi alugado.

Viro-me com cautela e olho furiosa para ele.

-Você o que?

-Não achei que depois de tudo, você fosse precisar dele. Com o salário que eu te pago, poderia querer algo melhor.

Não respondo. O encaro com raiva! Como se atreve a alugar o meu apartamento? Desajeitada e na raiva, consigo arrancar as sandálias dos meus pés e começo arremessando uma trás da outra em sua direção e até a minha bolsa vai junto.

-Porque?! Porque?!

-Ai! Para sua louca!

-Louca?! Eu vou matar você se encostar em mim! Eu vou te mostrar à louca! –Caminho para a rua e paro o carro preto que o segurança está dirigindo. Abro a porta de trás e entro não sem antes falar. –Você está proibido de entrar no seu apartamento hoje!

-O que?!

-Ninguém mandou alugar o meu! E quer saber? Eu não me importo com a merda do dinheiro e nem com um lugar melhor! Meu apartamento era o meu conforto, minha casa! Era o único lugar em que eu me sentia segura antes de você.

Bato a porta e peço que o segurança prossiga comigo para o apartamento. Mas ele só o faz quando o Ryan forçadamente lhe dá um aceno.

*

Subi para o apartamento bufando de raiva. Eu queria pegar as coisas que ele tinha de valor ali, e tacá-las pela janela. Jogar suas roupas pelos ares como uma verdadeira maluca. Mas eu não faria é claro. Nem poderia. Puxei fundo o ar, segurei por dez segundos para que enfim, a calma tomasse conta de mim antes de entrar no quarto. Estava descalça porque minhas sandálias ficaram em algum lugar daquela rua quando lancei nele. Então arranquei os grampos que seguravam algumas partes do meu cabelo e tentei penteá-los com os dedos para tirar um pouco do laquê. Com um suspiro, não consegui evitar sentir o cheiro do perfume dele que estava tão presente em toda parte. Havíamos dormido ali, no quarto dele e na cobertura também. Era impossível não se recordar de tudo. Soltei uma risadinha baixa lembrando-me do que ele havia me dito quando estava começando a pegar no sono.

Dedo de Moça "Perigosamente Inocente" •Vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora