Capítulo Trinta e Quatro

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Nos vemos lá em baixo!

*

Seria eufemismo dizer que o fim de semana de Kihyun foi tranquilo. No sábado, quando finalmente criou coragem e voltou para casa − por que ele tinha que voltar e não por que queria, de fato − ele aguentou, em silêncio, mais de meia hora do falatório da mãe, com o qual já estava acostumado.

Ele assentiu, baixando a cabeça enquanto ela o xingava e o criticava de todas as formas possíveis, aceitando facilmente visitar o padre no fim da tarde, como ele já não fazia há alguns dias. Ele falou pouco, rezou tudo o que o homem pediu e em momento nenhum levantou a voz ou falou algo que pudesse ser interpretado de forma a prejudicá-lo, por que ele havia decidido que o silêncio era melhor que a mentira.

Se ele nada dissesse, ele não mentiria e nem pecaria mais do que já havia feito, nem causaria grandes problemas a si mesmo, afinal, não se arrependia. E Deus o livre do que teria de aguentar caso o padre descobrisse e contasse a mãe que as ameaças não surtiam mais efeito como antes... afinal, Changkyun estava certo.

O inferno se parecia muito com o que ele chamava de vida.

Quando chegou em casa, pediu desculpas a mãe por ter sumido por tanto tempo. Não se sentia confortável em casa e não voltaria atrás na decisão de ajudar Changkyun, mas compreendia que não era uma ideia adequada sumir sem avisar. Depois, ele seguiu até o quarto de Sewoon e o agradeceu por tudo.

"Você gosta daquele moço, não gosta"? − Sewoon perguntou, baixinho. Kihyun não respondeu nada, apenas sorriu e caminhou em silêncio até o próprio quarto.

Então, quando finalmente se viu sozinho com todos os demônios dentro de sua cabeça, ele olhou para o teto e pôde ler o que a mãe havia pintado ali, em preto, sete anos antes.

"Lembre-se de quem você é".

A frase era bonita, vinha de uma animação da Disney muito famosa chamada "O Rei Leão". Nunca havia visto o filme quando criança por que a comunidade cristã acreditava fielmente que o filme possuía simbologias satânicas, mas conforme a tecnologia surgiu e a internet ganhou espaço, tudo fora desmentido e ele finalmente pôde ver o desenho.

A mãe repetia aquilo para ele com frequência: "Não se esqueça de quem você é, Kihyun", e ele compreendia o que ela queria dizer com aquilo. Mas ali, naquele momento, enquanto ele encarava aquela frase, várias questões lhe vieram à cabeça.

Quem ele era, afinal? Ele era o que sua mãe dizia? A imagem perfeita de um garoto hetero que só estava confuso, de um homem que cresceria e serviria a Deus com o celibato, já que havia sido criado para lutar contra o pecado, ou... quem ele era, de verdade? Um garoto comum que nunca havia feito nada de errado, a não ser ter nascido diferente do que se considerava "normal"?

Ele não devia se esquecer de qual de seus dois "eus"? O criado, o real...? Mas o qual era, de fato, seu "eu" real? Quem era Yoo Kihyun, em sua essência mais pura?

E ele chorou naquela madrugada, não por se sentir culpado ou sujo, mas sim por estar cruelmente confuso. Ele não fazia ideia de quem era, já que passara tanto tempo tentando ser quem, supostamente, deveria ser. E esse Kihyun perdido, essa imagem distorcida de quem ele era agora, era dolorosa demais.

Por isso, quando acordou no domingo, ele foi na missa logo de manhã. Ele ouviu a palavra, cantou os hinos e saiu dali leve; não por que acreditava que seus pecados eram inexistentes, mas por que tinha consciência de que a única pessoa no mundo que não havia errado era Cristo.

BRING THE HEAVEN | changkiOnde histórias criam vida. Descubra agora