Capítulo 23

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Sebastian

Aqueles braços pequenos me abraçavam com força, eu sentia o medo dela de que eu fosse embora, mas eu não pretendia me afastar da pequena até que ela se sentisse melhor. Mandei uma mensagem pro Craig dizendo que chegaríamos mais tarde, eu não adiaria essa viagem, seria ótima, mais um lugar pra Kiera conhecer e se distrair, só iria dar a ela todo o tempo que precisasse para se acalmar.

Ela ainda não tinha acordado e eu pedi a Margô para servir o café na cama. Demorou um pouco até que finalmente seus olhos foram abrindo e minha pequena levantou-se aos poucos.

-Bom dia, moreno- ela sorriu pra mim, com um olhar triste

-Bom dia, está melhor?- acariciei seu rosto

-Sim...

-Acho que você já pode me dizer o que está acontecendo, não é?

Kiera ficou em silêncio num primeiro momento, daí em diante ela comeu um pouco, mas continuou sem falar nada, e eu continuei preocupado, foi então que ela decidiu falar:

-Sebastian, minha história de vida é muito diferente da sua... Eu não tive um marido infiel que morreu... Na verdade, eu quase morri- ela engoliu em seco e eu arregalei os olhos- Meus pais se divorciaram e... Bem, eu entrei em depressão. Foi difícil, eles não tiveram paciência comigo, me puseram numa clínica qualquer, onde os meninos me abusavam, se aproveitavam de mim, o que piorava meu quadro- ela segurava as lágrimas e eu serrava os punhos de tanto ódio, como podiam machucá-la?!- Em uma noite na clínica, eu consegui uma lâmina... Eu tentei...- suas lágrimas escorriam e ela já não conseguia contê-las- Eu não aguentava mais aquela vida, Sebastian. Então me encontraram, levaram-me pra sala de cirurgia e passei alguns meses com os pulsos enfaixados. Eu tinha só 14 anos... Eu só queria meus pais juntos e não um bando de meninos abusando do meu corpo!- eu via ódio em seus olhos- E quando entrei na faculdade e conheci o Edgar, quis me juntar logo a ele pra que tudo aquilo acabasse. Só que quando percebi que não era amor e eu estava perto de fazer uma merda, joguei tudo pro ar e desisti. Sophia me ajudou desde sempre, ela não ia me visitar na clínica pois os pais dela não deixavam, mas assim que saí, ela me acompanhou e fomos morar juntas e estávamos até pouco tempo atrás- Kiera respirou fundo e não aguentei, cheguei perto dela acariciando seu braço, rosto até ela falar novamente- Os pesadelos eram frequentes, mas fiz terapia e eles passaram, não sei porque voltaram agora... Não quero que voltem, Sebastian.

-Shhh... Não vão voltar, pequena. Estou aqui com você, nada nem ninguém vai te machucar, ouviu?- abracei-a bem forte tentando passar toda a minha segurança

Não acreditava que uma mulher tão determinada quanto Kiera tinha sofrido tanto na vida, minha pequena de fato era uma guerreira e merecia estar onde estava, o dia hoje seria somente de alegria, não queria que mais nada a fizesse mal.

-Vamos, ainda da tempo de almoçarmos em Brighton!- puxei-a pelo braço até o banheiro e fomos tomar banho

Pegamos nossas malas e seguimos viagem até a casa de praia do Craig, Kiera já estava melhor, não parava de sorrir, e dessa vez, era sincero. Eu tinha ficado impressionado com sua persistência, ela continuava sendo a mesma, linda, engraçada e inteligente de sempre, mesmo depois de uma barra dessas. E eu com meus 30 anos na cara ainda tinha minhas sequelas... Ela apontava para as pessoas, as paisagens, o Big Ben que conseguimos ver de longe, e então prometi levá-la quando voltássemos.

-E esse Craig? Ele é legal?- perguntou

-Sim, meu melhor amigo- sorri- Sabe você e a Sophia? Sou eu e o Craig.

-Sério? Então ele é um ninfomaníaco?!

Não contive o riso.

-Não, Kiera. Mas acho que ele e a Sophia se dariam muito bem- sorri-Que tal trazê-la pra passar uns dias aqui e conhecê-lo? Missão cupido internacional, que tal?

Meu DesejoOnde histórias criam vida. Descubra agora