Meu Desejo

Capítulo 33

Eu não acreditei naquilo. Levantei num pulo fazendo Sebastian se assustar e arregalar os olhos pra mim.

-O que porra você está fazendo aqui seu estuprador?!- eu gritei

-Tá louca?! Eu tirei você daquele pub, estava bêbada- ele falou tentando me acalmar

-Você se aproveitou de mim, isso sim!

-Eu prefiro quando está consciente e fala suas putarias pra mim, Kiera. Jamais me aproveitaria de você.

Eu o olhava, lindo como sempre com aqueles cabelos desgrenhados e o rosto todo amassado devido a posição que dormiu, o abdômen definido. Passou as mãos pelo rosto e depois pelos cabelos, se levantou e estava com a calça de linho preta da noite anterior, não de boxer.

-Estou indo- ele disse num tom frustrante

-É bom que vá mesmo!- retruquei vestindo um hobbie

-Até quando vamos ficar assim, Kiera?

-Vai embora, Sebastian.

-Caralho, Kiera!- ele bateu na porta e a trancou- Eu não vou embora até você me explicar como vamos ficar! Como acha que estou me sentindo?

-Deveria ter pensado nisso antes de ter feito a merda- ia sentar na cama, mas Sebastian me segurou pelo braço

-Eu já disse que ela forçou, ela me agarrou, eu tentei impedir, mas você chegou bem na hora...

-Não quero justificativas, não precisa mais dizer nada. Acabou, Sebastian.

Dizer aquelas palavras em voz alta doía mais em mim do que nele, acredito. Eu não queria admitir que todos aqueles momentos se foram, que aquele sentimento todo teria que acabar, seria impossível pra mim, eu o amava tanto que chegava a transbordar, não conseguia mais viver sem aquele homem, mas tinha que fazê-lo, tinha que desistir de tudo se não queria me machucar novamente.

-Você não me respondeu- ele disse ainda segurando meu braço

-Acabou.- afirmei mais uma vez com as lágrimas escorrendo pelo rosto- Eu vou voltar pro Brasil assim que ficar melhor das minhas dores, não sei se por algumas semanas ou definitivamente, mas eu vou sozinha, Sebastian.

O olhar dele pesou sobre o meu, seus olhos umideceram e ele segurou meu outro braço me encarando como se não acreditasse no que eu acabara de dizer.

-Kiera, você... Está desistindo de tudo... Você... Não pode...- ele suspirou, seus olhos ficaram vermelhos e ele respirou fundo, fechando-os e voltando a me olhar- Eu ainda vou te provar, Kiera. Vou te provar como está errada.

Sebastian me soltou e saiu do quarto batendo a porta com toda força. Eu caí de joelhos no chão me apoiando na cama e não me aguentei, todo o choro que eu tinha segurado no dia anterior, eu soltei. Soluçava, gritava no travesseiro e sentia uma dor de cabeça muito forte, não queria mais sofrer daquele jeito pelo Sebastian, não mais.

-Oh, Kiera...- Patrícia entrou no quarto e me deu um abraço- Não fique assim.

-Tudo o que eu queria era ficar com ele de novo, era ele de novo!- gritei

-Eu sei, eu sei... O que você acha de pedirmos sushi com suco de laranja?

Abri um sorriso falso só pra agradá-la, é meu prato preferido, mas eu não tinha o menor apetite. Carly ligou pro delivery e logo nossos pedidos chegaram. Apesar de não estar com fome, nunca nego um bom sushi. Sentamos em frente à TV e elas ligaram em Friends, tentaram me deixar ao máximo feliz, mas nada nem ninguém me deixaria tão feliz quanto Sebastian.

-Quer que façamos mais alguma coisa por você?- perguntou Carly

-Não meninas, já fizeram demais- sorri- Acho que vou dar uma caminhada...

Vesti umas roupas de ginástica e um boné e saí com meus fones de ouvido até um parque próximo ao apartamento das meninas. Caminhei o máximo que pude, dei até umas corridinhas, até que começou a chover, me encolhi embaixo de uma árvore, sentia só alguns pingos da chuva, então decidi sair da árvore e sentir aquela água gelada que caía. As gotículas perfuravam minha pele enquanto eu caminhava, e eu só lembrava das vezes em que observava a chuva da janela do quarto do Sebastian enquanto acordava. Aquilo foi me dando um nó na garganta e a vontade de chorar voltou.

Corri pra casa ensopada e entrei no banheiro, deixei a água quente percorrer pelo meu corpo, estava cansada, esgotada, tanto física quanto emocionalmente. A noite já tinha chegado, eu encarei o celular milhões de vezes e lembrei do blefe que dei no Sebastian mais cedo, eu não iria pro Brasil coisa nenhuma, bom, não estava nada certo. Mas eu não tinha mais nada me prendendo aqui exceto o emprego. Saí do banho e troquei de roupa.

Decidida, peguei meu telefone e liguei pra minha mãe:

-Alô

-Mãe, eu acho que aceito aquela sua proposta, vou voltar.