Vazio

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Escuro. Quando abriu os olhos, era só isso que Naruto podia ver, apenas o mais escuro tom de preto, por todo lado, nada além disso. Debateu-se, sentindo seus pés molharem, onde estava? Por que tinha água ali? Começou a se desesperar, tateou todo seu corpo, procurando as feridas recentes que tinha, mas não achou nada. Olhou de canto a outro, e não podia ver nada. Então correu, correu para longe, procurando uma saída, uma forma de escapar, correu sem saber para onde estava indo, não sabia se ia pra frente, pra trás, pro lado, ele não sabia, não havia como. Apenas correu, era só isso que podia fazer. Em algum momento, suas pernas travaram, se cansaram de correr em circulos, ele logo tombou, indo ao chão. Caindo, ele se molhou com o líquido que estava cada vez mais alto. Seu peito subia, arfando, estava cansado. Esfregou seu rosto molhado, tentando secar. Espera, aquilo não era água, era... sangue?! Suas mãos estavam sujas de sangue, por toda parte, o que era aquilo? Onde é que estava? Havia morrido? Era o inferno? Tantas perguntas e nenhuma resposta.

— Como, como eu vim parar aqui...? —  Sua voz saiu fraca, quase inaudível, duvidou se realmente tinha falado ou era apenas a voz dentro de sua cabeça. Sussurando, de longe, como um sopro na orelha.

A batalha, de repente pequenos flashs de memória vinham a sua mente, bombardeando de informações. Sua cabeça lajetou, ele ficou de joelhos, gritou, seu corpo fervia. Quem era aquele homem alto com quem ele lutava? Era ruivo, tinha cabelos curtos. Seu rosto estava borrado, não conseguia reconhecer. Mais memórias, eles lutavam, pareciam animais tentando acabar um com a vida do outro, suas roupas quase não existiam, e quando achou que fosse ganhar, duas pessoas apareceram. Trazendo pergaminhos, Colocaram alguma coisa nele, pareciam fuinjutsus.

— AAAAAAAAAAAAAAAAAHG! — Gritou, levando a mão a cabeça, ele se debateu outra vez, numa tentativa de parar a dor. Ele estava banhado em sangue que emergia de algum lugar desconhecido.

E quando finalmente achou que fosse parar de doer, ele queria morrer, se é que já não estava morto, ele só queria morrer. Queria sair dali, fugir desse tormento, desse inferno, ir para longe. Mas suas forças já haviam acabado, não tinha para onde ir, não havia como escapar. Não havia mai como fugir, como se esconder. Chegou a hora de enfrentar a si mesmo.

Estava jogado no meio do nada, cansado, apenas chorava como uma criança separada dos pais. Lembrou-se de algo perdido, uma memória que jogou no mais inconsciente de sua mente, no lugar mais escuro dela. Talvez, Naruto estivesse lá agora.
Abrindo os olhos mais uma vez, ele já estava em outro lugar, era Konoha, antes de se tornar gennin. Cortes de partes da sua vida apareciam por toda parte, as pessoas o maltratando, ignorando, algumas batendo. Memórias que jurou esquecer, mas havia se engano. Ainda estavam aqui, marcadas, desenhadas a ferro quente na alma. Agora, seu eu mais novo, de no máximo oito anos chorava sozinho em seu pequeno apartamento. A solidão de não ter uma família o consumia, Naruto achou que se tornando Hokage, as pessoas iriam o amar, o respeitar. Mas agora como herói do mundo, uma outra realidade veio á tona. Mesmo rodeado de pessoas, ele continuava se sentindo sozinho.

Piada. — Uma voz semelhante a sua ecoou pelo vazio. De alguma direção, um Naruto criança surgia das sombras, a silhueta escura deu lugar as típicas roupas laranjas. — Você irá morrer por um sonho bobo, que nem realizou.

— "Eu tentei."  Ele cogitou falar, mas não tinha forças, seu corpo não respondia, estava fraco, sempre foi. O loiro mais velho não demonstrou surpresa de vê-lo ali, em seu âmago, sempre soube que sua mente estava cada vez mais danificada, doente. Em pesadelos mais aterrorizantes que não recordava do que se tratavam, o viu lá. Sempre nos cantos, com esse mesmo sorriso de desprezo que carrega agora. Em algum momento, passou a vê-lo fora deles, ele parecia sussurar algo, mexendo a boca devagar, não soube a partir de quando. Ele apenas surgiu, sempre se perguntou que tipo de delírio era aquele, nunca o tratou como um real problema, até aquele dia.

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